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Telurídio de bismuto

Dois terços do que se paga para encher o tanque do automóvel são jogados no ralo, tamanha a ineficiência dos nossos motores

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Não se assuste: trata-se de um semicondutor produzido a partir de dois elementos químicos, o telúrio e o bismuto.

Curiosamente, tudo começou com um sistema desenvolvido pela Nasa, para transformar em eletricidade o calor gerado na movimentação das naves espaciais.

Então, o tema da coluna hoje é aeronáutico?

Não, é telúrico (da terra). É que engenheiros da BMW estão pesquisando uma fórmula para utilizar, em automóveis, o mesmo sistema da Nasa.

Desperdício Automóveis, motos, caminhões, barcos e aviões são movimentados por motores a combustão interna, que funcionam queimando algum combustível como gasolina, diesel, querosene (os jatos), álcool, hidrogênio, gás etc. A combustão, além de gerar energia para movimentar o veículo, gera calor. E muito. Aliás, essa é a causa de tamanha ineficiência dos motores: cerca de dois terços da energia contida no combustível é transformada em calor e apenas um terço movimenta o automóvel. Pode-se dizer que o motor atual é basicamente um gerador de calor e o subproduto é a energia mecânica que chega às rodas...

Pasme, leitor: dois terços do que você paga por um litro de combustível são jogados fora, para esquentar a água do radiador e o sistema de escapamento.

Corrente Por outro lado, existe uma interessante propriedade física dos metais. Se você esquentar a extremidade de uma barra de ferro e esfriar a outra, vai circular corrente elétrica de um lado para o outro. Então, é possível gerar energia elétrica reciclando o calor (energia térmica), desde que se tenha um material que conduza eletricidade e resista a elevadíssimas temperaturas.

Que material?

A Nasa recorreu ao plutônio, impraticável nas viaturas terráqueas. A BMW foi então atrás de uma solução ?telúrica? e optou pelo telurídio de bismuto, um semicondutor capaz de conectar o radiador do carro aos tubos de escapamento e evitar a perda de toda essa considerável fonte de energia.

Tartaruga A recuperação do calor dissipado num automóvel será um salto na evolução do motor a combustão interna. Apesar de inventado há mais de 100 anos, sua evolução caminha a passos de tartaruga e seu funcionamento é um desperdício de combustível fóssil. Queimá-lo com tamanha ineficiência é uma afronta às reservas limitadas do petróleo. Sua fartura impediu que várias gerações de engenheiros se preocupassem em desenvolver uma tecnologia capaz de destiná-lo a uma utilização mais nobre.

Agora que a questão está na berlinda, por motivos ecológicos, as alternativas desenvolvidas pela indústria automobilística ainda estão distantes de serem economicamente viáveis. Então, motores queimando gasolina e diesel ainda movimentarão nossos automóveis por décadas.

Que sejam mais eficientes, com telurídio de bismuto ou panegírico de alcaparras. Mas que sejam. Nem que seja para reduzir nosso sentimento de culpa perante as gerações futuras...