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Tiro pela culatra

Ao eliminar a palavra planejamento de seu dicionário, o governo brasileiro provocou um verdadeiro caos energético

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Vocês se lembram do auê feito pelo governo federal ao lançar o biodiesel? Que o Brasil, além do álcool, estava desenvolvendo também um combustível renovável para substituir o diesel? E que a ambiciosa meta do governo Lula era adicioná-lo ao diesel na proporção de 20% até 2020?

Poucos estados oferecem o etanol a preço competitivo e seu consumo no país caiu 34% nos dois últimos anos, enquanto o de gasolina e diesel dispararam no mesmo período. A rejeição do combustível da cana vem de sua origem: os usineiros não o produzem, pois seu preço na bomba está limitado em 70% da gasolina, que não aumenta porque o governo não deixa, preocupado com a inflação. E o dono do carro flex rejeita o etanol no tanque.

O biodiesel está sendo adicionado atualmente na proporção de 5% ao diesel. Seus produtores pressionam o governo para elevar o percentual para 10% pois sua capacidade de produção é ainda maior do que a utilizada. Mas o problema é seu preço: quando foi lançado, uma de suas vantagens era ser produzido a partir de diversas matérias-primas, como gordura animal, mamona, pinhão, girassol, algodão, palma e outras. Mas não foi o que ocorreu, pois 80% do biodiesel é produzido a partir da soja. Exatamente a ideia que havia sido bastante criticada na época: desviar um alimento para obter combustível. A capacidade produtiva do biodiesel supera as exigências atuais, mas tornou-se inviável economicamente, pois o preço da soja disparou no mercado mundial em função da seca, que prejudicou sua produção nos EUA. Dizem os analistas que tão cedo sua cotação não volta aos patamares anteriores. O resultado é que hoje, feitas as contas, um litro de biodiesel custa quase o dobro do diesel e sua adição só se justifica por ser uma determinação legal.

Em resumo, o governo do Lula rufou tambores ao anunciar a independência energética do país, as alternativas ao petróleo, o incentivo ao cultivo da terra, a fixação do homem no campo. E ainda correu mundo alardeando o etanol e fechando contratos para exportá-lo. Mas, como planejamento é uma palavra em desuso no dicionário do governo federal, não se registrou maior oferta de combustíveis, sejam os fósseis, sejam os renováveis.

Um triplo tiro pela culatra, pois caiu a demanda do etanol. Mas, mesmo assim, temos que importá-lo por falta de produção e a gasolina e o diesel, com volumes crescentes de consumo doméstico, também obrigam a Petrobras a adquiri-los nos mercados internacionais. Finalmente, o biodiesel se tornou caro, pois é produzido quase que exclusivamente com a soja, ao contrário do anunciado pelo governo à época em que lançou o programa.
Esse é o caos energético do país, uma legítima herança do governo Lula, que se tornou quase impossível de ser administrado pela presidente Dilma.