Estamos na Semana Nacional do Trânsito e a verdade é muito simples e direta: não temos nada para comemorar. Pelo contrário, os números mostram que o trânsito ainda mata muitas pessoas no Brasil, cerca de três por hora, e os motociclistas lideram esse ranking macabro.
É assustador constatar que o trânsito no Brasil mata mais do que guerras e armas de fogo. O conflito entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul se estendeu de 1959 a 1975, sendo que os Estados Unidos participaram da guerra entre 1965 e 1973. Nesse período, 58 mil soldados americanos morreram no conflito, mas o Brasil registrou cerca de 80 mil mortes em acidentes de trânsito em apenas dois anos.
Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou o levantamento “Balanço da 1ª década de ação pela segurança no trânsito no Brasil e perspectivas para a 2ª década”. O estudo está relacionado à campanha “1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, lançada em 2010 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de conscientizar os países a adotarem medidas para reduzir em 50% a mortalidade no trânsito até 2020.
De acordo com o Ipea, entre 2010 e 2019, o Brasil registrou aumento de 13,5% nas mortes no trânsito em relação à década anterior. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes cresceu 2,3% no período, resultado frustrante em relação à meta estabelecida pela ONU. Foram cerca de 392 mil mortes em acidentes de transporte terrestres, incluindo atropelamentos e sinistros com diferentes veículos, de bicicletas a carros de passeio, caminhões e ônibus.
Motociclistas são os que mais morrem no trânsito
E os estudos comprovam que existem alguns fatores que contribuem bastante para esse número crescente de mortes no trânsito no Brasil. Os acidentes com motocicletas são os responsáveis pelo crescimento no número de mortes. Entretanto, o número de óbitos por atropelamentos e acidentes com automóveis reduziu. As mortes de usuários de motocicletas cresceram cerca de 150% se comparadas às décadas de 2000/2009 e 2010/2019.
Os números do estudo revelam, ainda, que cerca de 2/3 das pessoas que morrem em acidentes de trânsito têm menos de 50 anos, sendo 1/3 com até 15 anos. Os acidentes com motos respondem por cerca de 44% das mortes de pessoas na faixa de 15 a 29 anos. Já as mortes por atropelamentos ocorrem em sua maioria com pessoas com mais de 70 anos.
Outro fator que não pode ser desconsiderado é que os acidentes de trânsito, além de tirar milhares de vida no Brasil, resultam em custos de mais de R$ 50 bilhões por ano, impactando a economia. São bilhões de reais gastos com atendimentos hospitalares, perda de produção devido a lesões ou mortes, danos materiais, perda de cargas e procedimentos de remoção nos locais de acidentes.
Os governos municipais, estaduais e federal têm a sua parcela de responsabilidade nesses números altos de acidentes no trânsito no país. Pouco se investe em melhorias das vias e sinalização, e muito menos em promoção de medidas de segurança e campanhas educativas. É preciso melhorar a fiscalização para impedir que motoristas infratores continuem causando acidentes e tirando vidas pelas ruas e estradas do país.
Abusos e desobediência às regras do trânsito
De acordo com levantamentos da Polícia Rodoviária Federal, a principal causa de acidentes nas estradas é a falta de atenção ou reação dos motoristas, motociclistas e pedestres. Desobediência às regras de trânsito, excesso de velocidade e uso de álcool ao volante também são fatores que contribuem para o grande número de sinistros no país.
Para se chegar a um trânsito mais amigável e com um número menor de mortes, é preciso investir em políticas públicas voltadas para a educação e conscientização, além do reforço da infraestrutura. Todo cidadão tem de fazer a sua parte, respeitando as regras de trânsito, dando preferência para pedestres nas vias, não ultrapassando os limites de velocidade e jamais dirigindo depois de ingerir bebidas alcoólicas.
O simples uso do cinto de segurança, que é obrigatório, já contribui e muito para a redução de mortes e ferimentos graves nos acidentes de trânsito. De acordo com estudo da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), o uso do cinto no banco traseiro dos automóveis reduz o risco de morte nos acidentes em até 43%.
A lei é clara. O Código Brasileiro de Trânsito (CBT) determina que “todos os ocupantes de um veículo, cujo uso de cinto é obrigatório, devem fazer uso do dispositivo afivelado. O não uso é considerado uma infração grave e acarreta na perda de cinco pontos na carteira de habilitação do motorista além de multa de R$ 195,23”.
Além disso, é preciso ficar atento à manutenção do veículo, principalmente em relação aos sistemas que podem comprometer a segurança do mesmo. As revisões periódicas e manutenção preventiva podem diminuir as chances de problemas que contribuem para ocorrências de acidentes.
Se cada um fizer a sua parte, poderemos acreditar que um dia teremos um trânsito mais humano e menos violento, pois não há como considerar como fato normal um número exorbitante de mortes em acidentes. A opção por carros mais seguros, em dia com a manutenção, e o respeito pelas leis e regras de trânsito são fundamentos básicos para que possamos acreditar em um trânsito melhor.
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