O Brasil é cada vez mais o país do contraditório, onde se vê o aumento da pobreza, da insegurança alimentar e do número de desamparados. A queda no poder aquisitivo da classe média e das classes mais baixas reflete diretamente na economia do país, afetando todos os setores. E no automotivo não é diferente. As vendas de carros zero caíram na comparação dos últimos 10 anos e a inversão de valores é notória. Mas, curiosamente, os modelos que mais vendem são os mais caros, com maior valor agregado, acessíveis apenas para os mais ricos.
Basta analisar os números, comparando os resultados computados nos últimos 10 anos. Em outubro de 2012, o relatório da Fenabrave registrou o emplacamento de 2.993.763 unidades no acumulado do ano, somando automóveis e comerciais leves.
Já no mesmo período deste ano, foram emplacadas 1.563.619 unidades, representando uma queda de quase 50%. E se compararmos o número de emplacamentos do acumulado de 2022 com o de 2021 (1.619.866 unidades) ainda registra-se uma queda, bem menor, de 3,4%.
O segmento de SUVs é o "queridinho" do Brasil e o VRUM testou mais um modelo. Confira!
Mudança nas vendas de carros mais baratos
Mas o curioso é observar como houve uma inversão de valores, com as vendas de carros mais caros superando as dos modelos mais baratos. Tomando como base os números apresentados no acumulado do ano até outubro, em 2012, o segmento que mais emplacava veículos era o de modelos de entrada, os mais baratos, com 31,62% de participação.
Em seguida, apareciam os segmentos de hatches pequenos, com 19,68% de participação, depois os sedans pequenos (13,9%), os SUVs (8,82%) e os sedans médios (8,35%). Outros segmentos contribuíam com participações menores, como os sedans compactos premium (4,68%), hatches médios (5,18%) e sedans grandes (0,59%).
Passados 10 anos, os números de vendas de carros zero sofreram uma inversão significativa. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, o segmento que mais emplacou carros foi o de SUVs, com 44,30% de participação. Depois aparece o segmento de compactos premium (VW Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Toyota Yaris, Peugeot 208), com 21,86% de participação.
Já os chamados modelos de entrada (VW Gol, Fiat Mobi, Renault Kwid e outros), que eram a fatia maior do bolo, caíram para 12,75%. Esses eram os carros mais baratos do mercado brasileiro. Atualmente, o modelo com o preço mais baixo vendido no Brasil é o Renault Kwid Zen, por R$ 66.590, valor que corresponde a 55 salários mínimos (R$ 1.212).
O segmento de sedans pequenos caiu para 7,28% de participação, enquanto o de sedans compactos premium (com maior valor agregado) subiu para 8% de participação. Os sedans médios caíram para 3,84% de participação, acompanhados pelos sedans grandes (0,48%) e hatches médios (0,16%).
As picapes também estão entre os modelos caros que vendem
O segmento de picapes também merece ser observado, já que são modelos com muito valor agregado e preços elevados. As picapes médias dominam com 49,07% de participação no acumulado de janeiro a outubro, enquanto as pequenas contribuem com 36%. O fenômeno é a Fiat Strada, que tem 84,3% de participação no segmento de picapes compactas, com preços que vão de R$ 97 mil a R$ 109.690.
No relatório de vendas de carros da Fenabrave mostra a picape intermediária Fiat Toro com 27,5% de participação no segmento, sendo que os preços do modelo vão de R$ 143.500 a R$ 218.600. Já no segmento de picapes médias a campeã é a Toyota Hilux, com 25% de participação, e preços que variam de R$ 244.390 a R$ 354.790. Ou seja, preços que não cabem nos bolsos de boa parcela da população brasileira.
O segmento que representa o maior volume em vendas de carros zero no Brasil, atualmente, o de SUVs, também tem preços que ficam distantes da realidade da maioria dos brasileiros. O modelo mais barato é o Fiat Pulse Drive 1.3 com câmbio manual, por R$ 96.590. Depois aparecem o Nissan Kicks 1.6 Sense MT (R$ 108.520), Renault Duster Intense MT (R$ 110.790), Caoa Chery Tiggo 3X Turbo Pro (R$ 113.490) e VW Nivus 200 TSI (R$ 124.100).
Diante de tal realidade, a conclusão que se chega é que as montadoras "descobriram" que não vale mais a pena produzir carros baratos, de entrada, que um dia foram conhecidos como “carros populares”. Mesmo os chamados de “mais baratos”, atualmente, não têm nada de “mais baratos”. Estão distantes da realidade do trabalhador brasileiro, que foi obrigado a migrar para o carro usado.
Com isso, as montadoras oferecem maior valor agregado em seus produtos mais caros e, consequentemente, aumentam a margem de lucro. Na outra ponta, o cidadão brasileiro que faz conta para sobreviver já nem sonha mais em comprar um zero, o que explica a queda nas vendas de carros de entrada. É uma realidade que expõe cada vez mais a desigualdade social no Brasil.
Confira os vídeos do VRUM nos canais do YouTube e Dailymotion: lançamentos, testes e dicas