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Via de mão dupla

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Fernando Calmon - fernando@calmon.jor.br



Uma das conseqüências positivas da política econômica, que levou ao fortalecimento do real frente a outras moedas, é o aumento da competitividade de produtos importados. Automóveis por estrangeiros já tiveram seus anos dourados em meados da década passada. Em 1995, chegaram a representar 21% do mercado interno, pela combinação do real forte e uma bravata do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que, em 1994, havia cortado em quase 40% a alíquota do imposto de importação, desrespeitando um cronograma existente de redução anual.



Essa diretriz durou menos de seis meses e fez estragos nos programas de investimentos internos. Revogada pelo governo seguinte, que catapultou as alíquotas de 20% para 70%, os importados passaram a encolher desde então. Em 2004, atingiram o fundo do poço com menos de 4% de participação. Este ano, porém, pode chegar a 8% ? no mês passado atingiu 10,5% ? e há tendência clara de subir.



O fato novo é que não apenas a Argentina passa a ser um participante de peso. Brasil (na realidade Mercosul) e México acabam de assinar seu primeiro acordo de livre comércio para o setor de automóveis e comerciais leves, sem cotas em unidades ou valores e imposto zerado. Um marco importante, porque, até hoje, nem mesmo com a Argentina há liberdade total nas fronteiras, adiada três vezes.



O cenário garante que o Brasil pode vender com total liberdade para os mexicanos. Eles, por sua vez, não dispõem de uma gama de modelos compactos que interessem aos brasileiros. Ainda assim, há a possibilidade de planejamento de longo prazo e complementaridade de produção. O Ford Fusion, mesmo com estilo voltado ao gosto americano, tem preço bastante competitivo e está vendendo mais de mil unidades/mês. A Volkswagen dispõe do Bora, Jetta e New Beetle; a DaimlerChrysler ataca de Dodge Ram e Chrysler PT Cruiser. Os médios Sentra e Tiida são produtos confirmados para 2007 da Nissan. A GM estuda importar do México os Chevrolet HHR (station de linhas inspiradas nos anos 1950) e Avalanche, uma picape grande, ambos com mercado limitado aqui.



Aparentemente, o Brasil sai em vantagem. Porém, o México assinou mais de 20 acordos de comércio livre com vários países, inclusive Japão. As marcas nipônicas estão investindo bastante lá, de olho no mercado americano. Significa que também podem exportar para cá, aumentando a oferta e acirrando a disputa. Em outras palavras, quem produz no Brasil deve cuidar de atualizar os produtos e reduzir os custos, além de se manter competitivo nas exportações.



Negociações com a África do Sul estão emperradas e, se prosperarem, outros modelos isentos de imposto poderão chegar ao Brasil. Lá são fabricados carros como BMW, Mercedes-Benz e Volvo, hoje importados da Europa e que pagam 35% só de IPI. A mudança do volante do lado direito para o esquerdo aumentaria um pouco o preço. Já com a União Européia, um acordo pode demorar mais, pois existe a questão agrícola para atrapalhar.



Em resumo, o comércio exterior é via de mão dupla. O Brasil, este ano, exportará um volume de veículos seis vezes superior ao que importa. Não ficará assim por todo o sempre. Preços atraentes demais e mais modelos importados são só uma questão de tempo.