“Brasil, África do Sul e Índia terão outras soluções”, foi o que afirmou Oliver Blume, CEO do grupo Volkswagen em Berlim, na Alemanha, quando detalhou para a imprensa mundial os planos globais de eletrificação da empresa.
Nos próximos cinco anos, o grupo Volkswagen vai investir 180 bilhões de euros em eletrificação e digitalização. Mas, desta quantia, “míseros” 1 bilhão de euros serão investidos em toda a América Latina, incluindo neste valor veículos convencionais com motores a combustão.
Blume destacou ainda que os investimentos em tecnologia estarão restritos à Europa, China e América do Norte, regiões mais atrativas e lucrativas para a marca. Imagina-se que, diante desta posição assumida pelo grupo, a Volkswagen do Brasil não receberá verbas da matriz voltadas ao desenvolvimento de projetos para a eletrificação de veículos.
Ford, Stellantis, GM, Honda, Toyota, Mercedes-Benz, BMW, Porsche, Audi, Nissan, JAC, CAOA (Chery e Hyundai), Kia, Jaguar/Land Rover e as chinesas BYD e GWM já incluíram os eletrificados em seu portfólio.
Volks investe em etanol...
Quando o CEO da Volkswagen se referiu a “outras soluções” para o Brasil, estava mencionando – indiretamente – que a empresa acredita e já investe no etanol como solução regional, tanto que a filial brasileira foi encarregada pela matriz de desenvolver apenas projetos que contemplam os biocombustíveis. Ela tem, por exemplo, parceria com uma universidade paulista para um projeto que tornaria viável a utilização do etanol (do qual se extrairia o hidrogênio) para alimentar a célula a combustível (Fuel Cell) e o carro rodar com energia elétrica.
A Nissan tem a mesma parceria com outra universidade de São Paulo. A empresa alemã tem também um acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (Piracicaba-SP) para o desenvolvimento do etanol como combustível, reduzindo custos de sua produção e tornando-o mais eficiente na combustão dos motores.
...mas deixa o Brasil distante do elétrico
O que Oliver Blume deixou claro é que a Volkswagen não pretende destinar recursos para a eletrificação veicular no nosso país: “O Brasil está incluído no nosso plano de investimento, mas quanto aos elétricos, o quadro não é tão bom”. Prova disso é que o grupo está investindo pesado na eletrificação de seus próximos modelos, em fábricas de baterias e software para carros autônomos. Nenhum destes recursos para a modernização passa pelo Brasil.
Serão três fábricas de baterias de última geração, na Alemanha (Salzgitter), Espanha (Valencia) e Canadá (St. Thomas), que estarão produzindo até 2027. E desenvolve, junto com uma start-up norte-americana, a mais inovadora tecnologia de baterias, as do tipo estado sólido (solid state).
Enquanto isso, a Volkswagen celebra nesta semana seus 70 anos de Brasil com muito pouco a comemorar, pois não está na melhor de suas fases no país. Ocupa o 3º lugar no ranking das marcas, atrás da Fiat em 1º, GM em 2º. Seu carro mais vendido no nosso mercado, o T-Cross, está em 7º lugar em vendas, atrás de modelos da Fiat, GM, Jeep e até da Hyundai.
Volta ao berço esplêndido?
A Volkswagen do Brasil dá mostras de ter voltado ao mesmo berço esplêndido que ocupou há alguns anos, quando assistiu impávida e inerte ao lançamento de inúmeros SUVs no nosso mercado, despencando sua participação no ranking das marcas.
Acordou e decidiu produzir três SUVs: T-Cross, Nivus e Taos. E voltou a dormir, pois já está há três anos sem nenhuma novidade no Brasil, apesar da “febre das picapes”: Ranger e Maverick da Ford, Montana da GM, Strada,Toro e Landtrek da Fiat e mais as das chinesas (GWM e BYD) já confirmadas.
Enquanto isso, a Volkswagen mantém as duas mais antigas do mercado: Amarok, que chegou em
2010, e a quinta geração da Saveiro, do mesmo ano. Apresentou um conceito no Salão do Automóvel de 2018 (Tarok) e ficou por isso mesmo. Desistiu também de lançar uma nova geração da Amarok que seria “irmã” da nova Ranger (como fez a VW da África do Sul) produzida na Argentina por não concordar com o orçamento apresentado pela Ford. Deu um tapa na velha Amarok e seguiu em frente.
E, por falar em berço esplêndido, a marca alemã é das únicas no Brasil a não oferecer, no portfólio, qualquer híbrido ou elétrico. Pelo jeito e pelo que afirmou o poderoso chefão da marca, Herr Blume, será difícil ela acordar deste pesado sono.
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