Em fevereiro de 2019, a Ford desativou uma unidade industrial em São Bernardo do Campo (SP): inaugurada na década de 1950 pela Willys Overland, era uma das plantas mais tradicionais do setor no país. Aquele, porém, era só o começo, uma vez que, desde então, várias outras empresas do setor automotivo seguiram o mesmo caminho. A última foi a Caoa Chery, que recentemente anunciou o fechamento de uma fábrica em Jacareí (SP).
Deu até para fazer um listão. Foram nada menos que 7 fábricas de carros que o Brasil perdeu nos últimos 3 anos. Aliás, essa onda de fechamentos não ocorreu por acaso: as razões desse fenômeno são, principalmente, econômicas.
Fechamento de fábricas: da Ford à Caoa Chery
Confira quais fábricas de carros fecharam no país, incluindo as unidades da Caoa Chery e da Ford.
1 - Ford: 3 fábricas
A onda de fechamentos de fábricas da Ford começou em 2019, com a unidade de São Bernardo do Campo (SP), mas só terminou em em janeiro de 2021: naquele ano, a multinacional desativou também as unidades de Camaçari (BA), que produzia as gamas Ka e EcoSport, e de Taubaté (SP), responsável pelo fornecimento de motores e transmissões.
Após o fechamento, das fábricas, a Ford passou a atuar como importadora no mercado brasileiro, mas vendendo uma linha de veículos com preços elevados. As unidades industriais de São Bernardo do Campo (SP) e de Taubaté (SP) foram vendidas para a empresa São José Desenvolvimento Imobiliário. Já a planta de Camaçari (BA) segue fechada.
Quem tem carro da Ford vai ficar no prejuízo com o fechamento das fábricas? Assista ao vídeo!
2 - Troller: 1 fábrica
A Troller deixou de existir com o fechamento da fábrica, localizada em Horizonte (CE). Contudo, vale lembrar que, desde 2007, tanto a marca quanto as instalações industriais pertenciam à Ford. A desativação era parte do plano da multinacional para deixar de montar veículos no Brasil.
A última unidade do jipe Troller T4 saiu das linhas de montagem de Horizonte (CE) no último mês de outubro. A Ford pretende vender o imóvel que sediava a fábrica, mas já informou que não cederá os direitos de produção sobre os produtos.
3 - Caoa Chery: 1 fábrica
Outra que fechou uma fábrica no país, localizada em Jacareí (SP), foi a Caoa Chery. Devido a essa decisão, anunciada no último mês de maio, os modelos Tiggo 3X e Arrizo 5 saíram de linha. Por meio de nota, a empresa afirma que o fechamento é temporário: a previsão é adequar a unidade à produção de carros elétricos e retomar as atividades em 2025.
Porém, informações extraoficiais apontam que o fechamento da planta de Jacareí (SP) deverá ser definitivo. Primeiramente, porque a adequação de uma fábrica à produção de carros elétricos pode tranquilamente ocorrer em um período bem inferior aos 3 anos anunciados pela empresa. Ademais, o plano inclui a demissão dos funcionários.
Inaugurada em 2014 pela Chery, a fábrica paulista é anterior à associação com a Caoa, que data de 2018. Entretanto, durante os cerca de 8 anos de atividade, a unidade industrial sempre trabalhou com grande percentual de ociosidade. Vale lembrar que o grupo empresarial também tem uma planta em Anápolis (GO), que segue normalmente em operação.
4 - Mercedes-Benz: 1 fábrica
A onda de fechamentos de fábricas de veículos no Brasil que incluiu recentemente a Caoa Chery envolveu ainda uma unidade industrial da Mercedes-Benz. Localizada em Iracemápolis (SP), a planta operou por pouco mais de 4 anos, entre 2016 e 2020. De lá, saíam veículos das linhas Classe C e GLA.
Pelo menos a fábrica de Iracemápolis terá uma espécie de ressurgimento: é que, em 2021, a Mercedes vendeu as instalações para a Great Wall Motors. A marca chinesa anunciou que produzirá uma nova gama de carros elétricos em Iracemápolis (SP), já a partir do segundo semestre de 2023.
5 - Toyota: 1 fábrica
A desativação da fábrica da Toyota em São Bernardo do Campo (SP) é bem diferente dos casos da Ford, da Caoa Chery e dos demais deste listão. Isso porque o fechamento, anunciado no último mês de abril, se deve à reorganização das operações no país e não causou demissões: os 550 funcionários terão a opção de se transferir para as unidades da multinacional em Sorocaba (SP), Indaiatuba (SP) ou Porto Feliz (SP).
Erguida na década de 1960, a unidade produziu o jipe Bandeirante; nos últimos anos, porém, manufaturava apenas componentes para motores dos nacionais Etios, Yaris e Corolla e também do Camry, feito nos Estados Unidos. Essas atividades foram transferidas para a planta de Indaiatuba (SP), que recebeu investimentos de R$ 50 milhões.
Por que Ford, Caoa Chery e outras estão fechando fábricas?
A resposta para essa pergunta varia de caso para caso. Porém, o jornalista Joel Leite, diretor da agência AutoInforme, especializada no mercado de veículos, avalia que muitos dos fechamentos estão associados à redução dos números de fabricação de automóveis no país: "estamos produzindo metade da capacidade instalada", sintetiza.
Por sua vez, a queda na produção é um reflexo na redução do mercado de veículos novos. Segundo números da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), as vendas do setor no Brasil chegaram ao ápice em 2012, quando 3.634.506 veículos foram emplacados. Contudo, em 2021, esse total chegou a apenas 1.950.754 unidades: 53,7% do recorde atingido 9 anos antes.
"O percentual de consumidores brasileiros que podiam comprar um carro zero-quilômetro era de 2%; hoje, é de cerca de 1%", pondera Leite. Isso ocorre devido à disparada nos preços de veículos, causada por questões econômicas, como a inflação, mas também a fatores externos, como a crise global de semicondutores e maiores exigências em relação a segurança e a níveis de emissões de poluentes.
O especialista da agência AutoInforme explica que tais fatores fazem com que os fabricantes abandonem o segmento de carros populares, que têm margem de lucro menores, e invistam em produtos de maior valor. Esse, aliás, foi exatamente o caso da Ford. "É uma tendência. Outras montadoras também devem deixar de produzir veículos de entrada e, consequentemente, podem fechar fábricas", conclui.