O mercado de carros usados sofreu uma queda de 7,8% no último mês de junho, em comparação a maio, segundo a Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto). Essa retração interrompeu uma tendência de alta que vinha se perpetuando há vários meses. Enilson Sales, presidente da Fenauto, atribui tal efeito à alta nas vendas de automóveis zero-quilômetro, que receberam incentivos fiscais do governo.
Porém, a lógica do mercado é sempre relativa: se o momento não é tão bom para os vendedores de carros usados, parece estar mais favorável para os compradores. E isso vale, em especial, para os chamados seminovos, que têm preços mais próximos aos dos veículos zero-quilômetro.
Afinal, via de regra, a solução para reverter tendências de estagnação ou de queda é reduzir os preços, ou ao menos facilitar as condições de pagamento. "Quando falta carro o preço sobe, e quando sobra carro o preço cai", sintetiza Sales, da Fenauto. Ele avalia que, neste momento, o mercado de seminovos está favorável à compra, justamente em razão do impacto provocado pela alta nas vendas de veículos novos.
Sales explica que o mercado de carros usados é mais dinâmico que o de veículos novos, de modo que oscilações surtem efeitos de maneira bem mais rápida. E a razão, segundo ele, é simples: "numa loja de seminovos multimarcas, o dinheiro é muito mais curto do que numa concessionária. Quem precisa pagar as contas tem que ajustar logo os estoques," conclui.
Momento é de instabilidade no mercado
Paulo Roberto Garbossa, consultor de mercado da ADK Automotive, pontua que o momento é de instabilidade no mercado de usados, justamente devido à queda nos preços dos carros novos. Ele pondera que, mesmo após o fim dos incentivos, alguns fabricantes continuam concedendo descontos. "Muitas montadoras estão fazendo feirões, com condições especiais de negociação", exemplifica.
Garbossa também avalia que esses fatores provocam reflexos nos preços dos carros usados. Entretanto, destaca que pode acabar valendo mais a pena comprar um zero-quilômetro que um seminovo com um ou dois anos de uso. Ele aconselha o consumidor a pesquisar bastante, já que o mercado de veículos de segunda-mão é bastante amplo e diversificado:
O que o comprador precisa fazer é comparar os preços: tem que gastar sola de sapato e pesquisar muito, tanto entre os usados quanto entre os zero-quilômetro."
Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive
No caso de consumidores que buscam carros usados mais antigos, com preços mais baixos, o especialista da ADK também sugere que o interessado pesquise bastante, mas pondera que os preços tendem a permanecer mais estáveis. Isso, porque o período de maior depreciação desses veículos já passou e, ademais, há maior diferença de valor em relação aos zero-quilômetro.
Como ficarão os preços dos carros usados daqui para frente?
Vale destacar que, justamente devido a essa dinâmica mais instantânea, o mercado de carros usados pode sofrer mais mudanças em curto prazo. Tudo vai depender da maneira com a qual o mercado de veículos novos vai se comportar sem os créditos tributários, que se esgotaram recentemente, no último dia 7. Consequentemente, os preços de determinados modelos já voltaram a subir.
Para Glenio Junior, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do Estado de Minas Gerais (Assovemg), a perspectiva é exatamente de crescimento. “A longo prazo, os incentivos devem impactar de forma positiva todo o segmento, incentivando não só a cadeia produtiva, mas estimulando as vendas, aumentando também a oferta de veículos seminovos”, opina.
Flavio Maia, sócio-proprietário da AutoMaia Veículos, pensa de maneira semelhante. Ele afirma que o movimento na loja em que administra, localizada em Belo Horizonte (MG), já aumentou. "Em julho, as vendas estão 10% maiores em relação a junho, que já não havia sido um mês ruim", diz.
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