Em setembro de 1980, durante o Salão de Colônia, na Alemanha, era apresentado ao mundo o modelo BMW R 80 G/S, equipado com ousado sistema de suspensão traseira e motor boxer de 798cm³ refrigerado a ar. A primeira motocicleta da linha GS (Gelande Strasse, ou campo e cidade), que está completando quatro décadas. De lá para cá, evoluiu constantemente, na técnica, no tamanho, na eletrônica e dirigibilidade, porém, sem nunca abandonar a tradicional arquitetura de motor de dois cilindros opostos (que funcionam como se estivessem boxeando), identificados pela letra R no nome.
Posteriormente, outros membros da família foram sendo incorporados, com motorizações diferentes de um ou dois cilindros paralelos, mantendo sempre a filosofia GS de versatilidade para encarar asfalto ou a falta dele, tornando-se a linha de maior sucesso da história da marca. Curiosamente, entretanto, a história começa pela ameaça de insucesso. A partir dos anos 1960, a forte expansão da indústria de motocicletas japonesa, com modelos mais ágeis, modernos e baratos, afeta diretamente os tradicionais fabricantes europeus e, especialmente, a alemã BMW.
CRIAÇÃO A renovação da linha de modelos pesados e conservadores era a solução para estancar o revés nas vendas, exigindo, porém, tempo e investimentos. A solução mais rápida, então, foi “caseira”. O novo chefe da divisão de motos, Karl Gerlinger, junto com engenheiro de motores Laslo Peres, e o líder do projeto, Rudiger Gutsche, recorreram em 1979, exatamente ao “veterano” motor boxer já existente do modelo R80, 10kg mais leve e com cilindros de Nikasil (então batizado de Red Devil), anexado ao quadro tubular de berço duplo do modelo R65, com a suspensão da R100.
A suspensão traseira, contudo, foi uma criação “revolucionária”. Uma só peça, monobraço, abrigando a balança, o eixo de transmissão cardã e um único e robusto amortecedor. Tudo, apenas de um lado. Além de economizar peso, facilitava a troca do pneu traseiro. O “novo” e preparado motor boxer produzia 50cv a 6.500rpm e torque de 5,7kgfm a 4.000rpm, que permitia trafegar nas estradas com velocidade de cerca de 180km/h, e também na terra, com guidão mais largo, escape e para-lamas altos, suspensões de longo curso, com 200mm na dianteira e 170mm na traseira.
REAÇÃO O freio dianteiro Brembo, herdado da R100, tinha disco de 260mm, que pela primeira vez era empregado em uma moto de uso misto. Na traseira, tambor de 200mm. O tanque de 20 litros proporcionava grande autonomia. O público gostou da mistura do novo modelo e as vendas dispararam. A imprensa mundial também revisou sua desconfiança do motor boxer em uma moto fora de estrada, no teste de lançamento em Avignon, Sul da França, também em 1980. Com centro de gravidade baixo, pelo motor “deitado”, era bem fácil de pilotar e a fama se espalhou pelo mundo.
Para reforçar, o francês Hubert Auriol venceu o Rali Paris-Dakar em 1981 e 1983, com o modelo. Em 1984 e 1985, a vitória foi do belga Gaston Rahier, enquanto o francês Richard Sainct venceu em 1999 e 2000, com a versão monocilíndrica F 650 GS. A robustez estava consolidada. A R80 GS foi sucedida pela R100 GS, a partir de 1987, durando até 1996, com melhorias nas suspensões e motor, já com 1.100cm³ e depois 1.150cm³, em 1999. Em 1994, foi lançada a F 650 GS, que em 2009 passou a ser fabricada em Manaus, e sua versão “Sertões” lançada mundialmente no Brasil em 2011. Em 2008, foi lançada a F 800 GS com motor de dois cilindros paralelos, atualmente modernizado para F 850 GS e versão F 750 GS. Em 2018, foi lançada a pequena G 310 GS, e em 2019, a última geração da big trail que passou de R 1200 GS para R 1250 GS, com motor de comando variável e, em 2020, versões comemorativas “GS 40 Anos” das F 850 GS.