A quarta edição do Queens of the Mountains, ou as Rainhas das Montanhas, em 23 de julho, também comemorou o primeiro ano do Ecomuseu, Marco Zero. O local não poderia ser mais emblemático: o Bar do Marcinho, em Macacos, apelido de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima (MG), região considerada o berço do fora de estrada brasileiro.

A cultura do off-road, as trilhas e seu entorno, está traduzida no Marco Zero, em instalações que podem ser visitadas (Alameda Seu João, S/N, de quinta-feira a domingo, (31) 98858-1060) por meio de fotos, reportagens publicadas, objetos, peças de vestuário, botas, capacetes, luvas, óculos especiais, cartazes, adesivos, medalhas, troféus, mapas, depoimentos, equipamentos de navegação para enduros e motos.

O início foi em 2019, com o pioneiro Queens of the Mountains, que reúne motos produzidas até 1999, com motor de dois e quatro tempos, importadas e nacionais do tipo off-road. Depois de atravessar tempos difíceis de pandemia, ficou apontado como o primeiro evento cultural off-road do Brasil.

A Associação Cultural dos Amigos do Ecomuseu Off-Road, que consolidou a empreitada, além de reunir o acervo ligado ao fora de estrada e sua cultura, que de Macacos se difundiu pelo Brasil como patrimônio imaterial, tem mais planos. Expandir e criar uma oficina de ofícios, especializando profissionais ligados ao segmento, retribuindo ao entorno a origem do movimento.

O Queens of the Mountains 2023 reuniu 106 motos de época cadastradas (mais outras não cadastradas), convidados de outros estados e pioneiros do trail e enduro. As motocicletas “Rainhas das Montanhas” são fabricadas até 1999, do tipo dois e quatro tempos, nacionais e importadas, do tipo on-off road ou off-road, e foram divididas em grupos. O encontro culminou com um passeio coletivo pelas redondezas para desenferrujar as monarcas.

Yamaha DT - O modelo DT 180 (Dual Terrain, ou Dirt Track), lançado em 1981 e produzido no Brasil até 1985, ajudou a impulsionar e popularizar o esporte “trail” no Brasil. Com motor do tipo dois tempos de um cilindro, arrefecido a ar, 176,4cm³, entregava 16,6cv a 7.000rpm e torque de 1,7kgfm a 6.500 rpm. A suspensão traseira era do tipo mono cantilever.

Ao longo do tempo, recebeu vários aperfeiçoamentos, como nova balança da suspensão traseira retangular, câmbio de seis marchas, sistema elétrico 12 V, mudanças no visual, como farol retangular, banco com avanço sobre o tanque que também ficou maior, suspensão dianteira com maior curso e freio dianteiro a disco. A simplicidade, robustez e extrema maneabilidade marcaram época.

Agrale - Com tecnologia italiana Cagiva, a Agrale foi produzida em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, a partir de 1985 com o modelo SXT 27.5, totalmente voltada para o fora de estrada. Com motor de 190cm³ do tipo dois tempos refrigerado a água, produzia boa potência de 27,5cv.

Até sair de linha em 1997, incorporou muitos avanços técnicos. Suspensões maiores, amortecedores pressurizados, reservatório de expansão do radiador, mudanças na caixa do filtro de ar, pistão, biela e até nas barras de proteção do motor e radiador. O visual foi igualmente atualizado com cores que ganharam os apelidos de Xuxa e Ray-o-Vac.

Kawasaki KDX - Sonho de consumo por seu conjunto técnico, as motocicletas japonesas Kawasaki KDX chegaram importadas. Caracterizadas pela cor verde “cheguei” tinham refrigeração líquida em motor de um cilindro, dois tempos, com 198cm³ (oriundo de 173cm³), que fornecia 37cv a 8.000rpm e torque de 3,49kgfm a 7.000rpm para apenas 101kg a seco.

Freio a disco nas duas rodas, suspensão traseira mono derivada das KX com 300mm de curso e dianteira com 290mm com tubos de 43mm faziam parte do pacote. A sigla KDX indica Kawasaki Dual Cross. Os modelos 220cm³ e 250cm³ também frequentaram as trilhas e montanhas.

Honda XL - A Honda, com raras exceções, sempre adotou motores do tipo quatro tempos, mais complexos e pesados. Isso não foi empecilho para os modelos XL (Excelência) 250R ganharem as montanhas a partir de 1982. Foi a primeira Honda nacional com suspensão traseira mono, com 190mm de curso.

Também tinha seis marchas, motor de 248cm³, 22cv a 7.500rpm e 2,1kgfm de torque e aro dianteiro com 21 polegadas. Com o tempo, ganhou válvulas radiais (vários tipos de carburadores), torque maior de 2,4kgfm, novo visual e a nomenclatura XLX. Em 1987, foi substituída pela XLX 350. Porém, antes das duas a Honda importou, a partir de 1973, a XL 250 Motorsport. Cultuada até hoje, por sua elegância e eficiência, tinha motor de um cilindro, quatro tempos OHC, quatro válvulas, com 20cv de potência e duplo amortecedor traseiro.

Montesa H6 360 - A marca espanhola, hoje controlada pela Honda, era especializada em fora de estrada. O modelo H6, um puro sangue, foi produzido no Brasil, em Curitiba, Paraná, pelo curto período entre 1981 e 1983, e deixou uma legião de fãs. A produção foi interrompida pelo esdrúxulo programa de reserva de mercado que exigia nacionalização das importações, não alcançadas pela Ibramoto.

O modelo era um dragster (também no consumo), com motor de 349,6cm³ do tipo dois tempos arrefecido a ar e mais de 40cv. Projetada para o fora de estrada, tinha suspensões Marzocchi, com 250mm na dianteira e generosos 265mm na traseira com dois amortecedores. O peso a seco era de apenas 111kg, mas o banco ficava lá em cima, a 1.005mm, e a parte elétrica de apenas 6 V. O pedal de partida e os freios também eram complicados.

Foram esses alguns dos modelos que marcaram presença no Queens Of The Mountains 2023, evento pioneiro no off road em duas rodas.

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