Aquela história de puxar o manete de embreagem, engatar uma marcha através do pedal de câmbio e depois acelerar, está adquirindo novas formas com o desenvolvimento do sistema de dupla embreagem. A caixa de marchas continua lá, porém, o manete de embreagem e o pedal de marchas desapareceram em vários modelos. Embora possa funcionar com o mesmo propósito, não se trata de um câmbio automático convencional. Seu mecanismo possibilita as trocas de marchas de forma automática, suave, rápida e sem trancos, tanto para cima, quanto reduzindo.
Foi a Honda que inaugurou, há dez anos, a dupla embreagem para as motocicletas, que já era utilizada em automóveis. A primeira moto de série de grande cilindrada do mundo a utilizar o sistema foi o modelo turismo-esportivo VFR 1200F - equipada com motor de quatro cilindros em “vê” de 1.237cm³ de cilindrada com 172,7cv de potência - e logo depois sua versão Crosstourer VFR 1200X, que foram importados oficialmente para o Brasil. Hoje, no mercado nacional, o modelo estradeiro Gold Wing 1800 Tour e o misto de scooter e moto X-ADV 750 contam com o sistema de dupla embreagem.
INÍCIO O desafio de enfrentar uma das mais sagradas artes da pilotagem, que é controlar a embreagem e a técnica de sentir o momento certo de trocar as marchas, foi possível com ajuda da eletrônica. No início, porém, uma década atrás, o câmbio com dupla embreagem da VFR 1200F ainda apresentava lentidão e hesitações. Hoje, com o desenvolvimento, o câmbio de sete marchas com dupla embreagem da Gold Wing 1800 Tour parece ler seus pensamentos, antecipando as trocas. A precisão permitiu inclusive que o sistema fosse utilizado no fora de estrada, com a big trail Africa Twin 1100 DCT, que também deve desembarcar no Brasil.
A embreagem é um mecanismo que faz a conexão entre o motor e o câmbio. Nas trocas de marchas, ela desacopla o motor do câmbio, permitindo mudanças nas engrenagens, que são as marchas. As engrenagens menores da caixa giram mais rápidas e correspondem às marchas mais reduzidas. As engrenagens maiores giram mais devagar e são as marchas mais altas, que também possibilitam maiores velocidades. A dupla embreagem permite que as marchas ímpares (1ª, 3ª e 5ª) fiquem acopladas a uma embreagem e as marchas pares (2ª, 4ª e 6ª) à outra embreagem.
RAPIDEZ Sempre que uma marcha (engrenagem) for acionada, a marcha anterior e a posterior também estarão de “prontidão”, previamente engatadas por comandos eletro-hidráulicos. A dupla embreagem (Dual Cluth Transmission, ou DCT) tem sensores que monitoram a velocidade da moto, as rotações do motor e o ângulo de abertura do acelerador para “decidir” o momento exato de trocar as marchas, alternando as embreagens. O piloto tem à sua disposição, através de um comando no punho direito, o modo A (Automático), que, na prática, funciona como um câmbio automático. A função M (Manual) permite que o piloto escolha o momento de “cambiar” através de gatilhos ao alcance dos dedos, no punho esquerdo do guidão.
O piloto tem ainda o modo S (Sport) para condução mais esportiva, esticando mais as marchas antes das trocas. O desenvolvimento e aumento da eletrônica eliminaram os atrasos e hesitações do câmbio, deixando a operação instantânea e sem trancos. Além disso, sem erros de trocas, o sistema tem maior durabilidade e suavidade, possibilitando maior concentração na pilotagem, ponto de frenagem e aceleração, por exemplo. O inconveniente é que o sistema exige um freio de estacionamento para travar o motor, que também fica desengatado.