Com a responsabilidade do nome de batismo Ténéré, região desértica do Norte da África, palco dos primeiros ralis Paris-Dakar, vencidos pela ancestral XT 500, a big trail Super Ténéré nasceu para enfrentar longas distâncias sem escolher caminhos ou descaminhos. Entretanto, encarou um inédito e surpreendente desafio com o piloto Leandro Mello e seu parceiro Fernando Souza, bem longe de seu hábitat: o asfalto lisinho das pistas na 17ª edição das 500 Milhas, disputada em Interlagos, São Paulo, no início do mês. Porém, para acelerar contra as superesportivas, verdadeiros mísseis nascidos para ignorar terra, a Super Ténéré passou por uma metamorfose geral.
A primeira providência foi reduzir drasticamente o peso, em função da robustez exigida para suportar os maus-tratos de longas jornadas, sua verdadeira praia. Cavaletes, peças reforçadas, garupeira, pedaleiras de garupa, grande escapamento original, e tudo o mais considerado supérfluo e desnecessário, foram cortados, serrados e eliminados, resultando em uma economia de nada menos que 26kg, minimizando a obesidade para 235kg na balança. Na outra ponta, o desafio foi aumentar a potência do motor de dois cilindros em linha, que tem como foco a durabilidade e resistência e não a performance puro-sangue das superesportivas, com quem dividiria a pista.
METAMORFOSE O fôlego extra do motor veio com a instalação de equipamentos permitidos pelo regulamento, como o Rapid Bike, que atua na injeção de combustível, melhorando a qualidade da mistura, além de elevar em 1.000rpm os giros do motor antes do corte. Isso permitiu uma maior elasticidade e melhor aproveitamento do câmbio, economizando nas trocas, com pedal reposicionado para cima. Também foi instalado filtro de ar especial, possibilitando maior “respiração” do motor e o sistema de trocas rápidas de marcha, quick shifter, para cambiar sem desacelerar e sem usar a embreagem nas marchas para cima, economizando precioso tempo.
O escapamento original foi substituído por outro esportivo e também mais leve. As mudanças aumentaram a potência em 13cv, passando para 123cv. A combinação de menor peso e maior potência, ainda bastante modesta se comparada com as rivais superesportivas da categoria Superbike, com cerca de 200cv e 160kg de peso, reservava algumas armas secretas. A primeira era o consumo de combustível, bem menor, e um tanque com 23 litros. Equação para apenas uma parada nos boxes para reabastecimento, equivalente a duas das superesportivas, descontando a grande desvantagem de menor velocidade na pista.
TRUQUE Outra carta na manga era o controle de tração e freios ABS originais, além da torcida para chover, como na edição do ano passado. Com pista molhada, os sistemas proporcionariam enorme vantagem e o tanque de guerra seria ameaça aos verdadeiros “caças” terrestres. Outra vantagem do conjunto seria o consumo de pneus, projetado para apenas uma troca. Porém, o convênio com São Pedro falhou e o sol brilhou forte nas quase seis horas de prova e 186 voltas, aumentando também o desgaste dos pneus e a necessidade de mais trocas, virando desvantagem, já que o modelo tem eixo cardã, muito mais complicado e demorado na hora das trocas.
Para ganhar agilidade, a roda original ganhou aro de 17 polegadas em vez da de 19 polegadas, mas compatível com uso diário, e a suspensão dianteira foi trocada. Ambas da R1. As pastilhas de freio foram substituídas por outras mais eficientes, assim como as mangueiras dos freios, pelas mais resistentes do tipo aeroquip. Curiosamente, o guidão adotado foi do tipo fora de estrada, com tamanho e curvatura especiais. Já o belo visual ganhou decoração que lembra os modelos de competição dos anos 1970. O resultado foi o 7º lugar geral e a constatação de que a ideia não era tão exótica assim, pois teve a companhia da Ducati Multistrada, com a mesma proposta e o 5º lugar geral.