Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 528/20, do ex-deputado Jerônimo Goergen, tomando como base o PL 4516/23, do Poder Executivo. De acordo com o texto, a mistura de etanol à gasolina passará de 22% a 27%, podendo chegar a 35%. Atualmente, esse percentual pode chegar a 27,5%, sendo, no mínimo, de 18%. Antes de entrar em vigor, porém, a proposta ainda precisa de aprovação no Senado.
Apesar de ainda não estar em vigência, essa proposta já está assustando parte dos motoristas. Afinal, um teor tão elevado de etanol adicionado à gasolina poderá causar algum tipo de problema? O motor conseguirá funcionar normalmente? Há algum risco de redução de vida útil? O VRUM consultou o engenheiro Erwin Franieck, mentor de tecnologia da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE Brasil) para esclarecer essas questões.
Primeiramente, o especialista lembra que, nos dias de hoje, a grande maioria da frota circulante de veículos leves no Brasil é flex. De acordo com uma pesquisa da consultoria Datagro, a tecnologia bicombustível está presente em 85% dos carros de passeio que rodam pelas ruas do país. Para esses modelos, o percentual de 35% de etanol na gasolina não representa problema algum, já que eles podem funcionar com qualquer proporção dessa mistura.
Quanto aos 15% restantes, que consomem unicamente gasolina, Franieck esclarece que, no caso dos veículos mais novos, também não deverão ocorrer problemas. "Em outros países do mundo, já são adotados o E10 e o E20 (gasolina com teores de 10% e 20% de etanol, respectivamente)", pondera. Exatamente por isso, os motores já são preparados para misturas de até 40%. Nesse ponto, vale lembrar que não existe gasolina pura.
Gasolina com mais etanol pode prejudicar carros mais antigos
Porém, existem sim alguns modelos que podem sofrer com esse aumento: os mais antigos. O engenheiro da SAE lembra que alguns carros importados, fabricados nas décadas passadas, podem apresentar desgaste acentuado da bomba e do filtro de combustível.
Veículos fabricados no século XX, ainda equipados com carburador ou com injeção eletrônica do tipo monoponto, também estão suscetíveis a certos problemas. Franieck alerta que, neles, a mistura entre ar e combustível ficará mais pobre, o que pode levar a falhas de funcionamento.
A boa notícia é que, mesmo nesses veículo produzidos há mais de 20 anos, a gasolina mais "alcoolizada" não deverá causar corrosão nos componentes da linha de combustível, segundo o especialista da SAE. Isso, porque o etanol adicionado à gasolina será do tipo anidro, e não hidratado.
Vantagens ambientais
Franieck destaca que o aumento do percentual de etanol na gasolina terá impacto positivo do ponto de vista ambiental. Isso, porque permitirá uma redução nas emissões de carbono. "O biocombustível é um belo aliado contra as mudanças climáticas: esses 8% a mais de etanol deixarão de vir do petróleo e passarão a ter origem vegetal", sintetiza.
Entretanto, o engenheiro pondera que tal decisão também tem motivações financeiras. Isso, porque o Brasil exporta petróleo e importa combustíveis refinados, de modo que o etanol tende a ajudar a equilibrar essa balança.
- Acompanhe o VRUM também no YouTube e no Dailymotion!