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Em apuros!

Fábricas de automóveis na Argentina estão ameaçadas de extinção?

Documentos mostram que alta carga tributária ameaça indústria automotiva na Argentina; impostos sobre carros de passageiros chegaram a 58,09%

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Instabilidade da economia argentina influencia fábricas a abandonarem o país
Instabilidade da economia argentina influencia fábricas a abandonarem o país Foto: Volkswagen/Divulgação

O novo plano econômico da Argentina apresentado em 2023 por Luis Caputo, ministro da Fazenda do presidente Javier Milei, trouxe um peso sem medida para a indústria de automóveis do país.

Inicialmente, a previsão feita pelas montadoras era de que o plano seria devastador para a indústria automotiva, com risco de fechamentos de fábricas na Argentina, e elas não estavam erradas. 

Uma carga tributária gigantesca com impostos sobre a produção e exportação de veículos que alcançaram níveis históricos foram impostos à indústria. A Associação de Fabricantes de Automotores (Adefa) tem se movimentado de forma desesperada e, muitas vezes, desajeitada, na tentativa de mitigar os impactos negativos das políticas econômicas do novo governo.

A Adefa acabou provocando uma paralisação nas vendas de automóveis em janeiro deste ano na tentativa de proteger a indústria. Isso ocorreu devido a uma interpretação equivocada de uma sinalização do governo sobre possíveis mudanças nos impostos internos. 

Temendo que os fabricantes asiáticos se beneficiem das brechas legislativas criadas pelo novo regime impositivo, um documento foi redigido pela Associação pedindo ao Congresso e ao Executivo que tomassem medidas para impedir que novas fábricas de automóveis se instalassem na Argentina. 

Carga tributária recorde na indústria automotiva 

De acordo com documentos acessados pelo Motor 1 Argentina, em média, o preço final de um veículo comercial produzido nos país, como uma picape ou um furgão, recebe uma carga tributária de 47,59%.

Para carros de passageiros, essa carga sobe para 58,09% devido ao impacto do IVA e outros impostos internos. A alta carga tributária reduz significativamente a competitividade das fábricas argentinas no mercado internacional.

Com isso, a perda de competitividade fica evidente nas exportações. As fábricas argentinas não competem apenas com outras marcas, mas também com outras plantas da mesma empresa localizadas em diferentes países.

Por exemplo, se o Chile ou o México podem importar uma picape de forma mais barata da Tailândia, não há razão para pagar mais por um veículo produzido na Argentina.

Embora tenha se agravado por agora, o início da crise começou antes do governo Milei. No fim da gestão de Alberto Fernández e Sergio Massa, a carga fiscal sobre os automóveis destinados à exportação já era de 12,5%. A situação piorou durante a crise política e econômica que veio com as eleições. 

Documentos também mostram que, em março de 2023, a perda de competitividade atingiu 18,5%, subindo para 20,5% em julho de 2023, e 23,5% em dezembro de 2023, com o anúncio do Plano Caputo. Em janeiro de 2024, após o aumento nas retenções às exportações, a carga fiscal alcançou o pico histórico de 24,7%.

Resumindo, o valor representa quase o dobro da margem de lucro que uma montadora obtém ao vender um veículo importado no mercado argentino. A consequência é que as empresas estrangeiras, ao avaliarem suas margens de lucro, provavelmente buscarão fornecedores mais competitivos, abandonando o território argentino.

Carros sendo produzidos em fábrica da Hyundai
A perda de competitividade também leva as montadoras estrangeiras a buscarem fornecedores em outros países Foto: Hyundai/Divulgação

Fábricas da Argentina aguentam, mas até quando?

Então, por que as fábricas ainda não fecharam as portas no país vizinho? As fabricantes ainda têm dado um voto de confiança e optado por aguardar e observar os desdobramentos do novo governo antes de tomar decisões drásticas.

Mas, como tudo tem limite, a paciência das montadoras também. Com a instabilidade do ambiente econômico argentino e a rejeição sistemática do Congresso aos projetos de lei apresentados por Milei, não existem justificativas para continuar com as operações no país. Com isso, a sobrevivência da indústria automotiva argentina está altamente em risco.