Automóvel, para ser bom, precisa ser grande? Bem, nos Estados Unidos, em especial nas décadas de 1950 a 1970, essa máxima foi levada ao extremo. Naquela época, veículos com comprimento na casa dos 5 metros eram considerados compactos por lá: os mais luxuosos, de marcas como Cadillac e Buick, pertencentes à General Motors (GM), e Lincoln, da Ford, ultrapassavam facilmente a marca dos 6 metros. E, para mover esses mastodontes, eram utilizados motores igualmente superlativos - e, por isso mesmo, beberrões. Mas o mundo mudou e, hoje, essas fabricantes apostam em... Carros elétricos!
Tanto a Cadillac quanto a Buick já têm modelos desse gênero em seus portfólios. A primeira é a que mais avançou nesse sentido e oferece uma gama completa de carros elétricos nos Estados Unidos, entre os quais o Lyriq, o Optiq e o Escalade IQ. Porém, o mais impressionante é o Celestiq, um sedan esportivo com design arrojado, mas sem deixar de lado os elementos clássicos de estilo da marca, e interior superluxuoso e tecnológico. Preço: cerca de US$ 340 mil (valor que corresponde a quase R$ 1,9 milhão).
Já a Buick ainda não comercializa carros elétricos nos Estados Unidos, mas já lançou três modelos "verdes" na China. O nome de dois deles remete a um daqueles sedanzões do passado e, ao mesmo tempo, combina com o tipo de motorização: Electra. A configuração E5 estava cotada para desembarcar nos Estados Unidos, mas a barreira fiscal que o país impôs aos produtos chineses adiou os planos. A proposta, porém, mais pragmática que a do Cadillac Celestiq, já que o veículo em questão é um SUV com visual meio genérico.
Por sua vez, a Lincoln é a mais atrasada na corrida da eletrificação. Em 2022, a marca apresentou o Mark E, um sedan desenvolvido em parceria com a Rivian. O modelo deveria ter chegado ao mercado em 2023, mas ficou só na promessa. Depois, revelou o o SUV Star, com lançamento prometido para o fim deste ano. No entanto, a empresa já produz veículos híbridos, como o Nautilus e o Corsair.
Carros de luxo elétricos, mas ainda exagerados
Se, por um lado, é um sinal dos tempos que essas marcas estejam entrando na era da eletrificação, por outro, ainda é possível traçar um paralelo com os banheirões do passado. Isso, porque apesar de elétricos, os novos carros não abandonaram muitas das características do passado. Afinal, eles ainda têm porte e peso exagerados, de modo que seguem exigindo altas doses de potência. E isso, claro, cobra um preço alto para os recursos naturais do planeta.
É verdade que um Cadillac Celestiq é mais amigável com o meio-ambiente que um cupê Eldorado 1970, cujo gigantesco motor 8.2 V8 sorvia gasolina com a mesma voracidade que uma baleia cachalote devora moluscos. Ainda assim, está longe de ser um veículo verde. Afinal, para alimentar os dois propulsores elétricos de 608cv, é necessária uma gigantesca bateria com 111kWh de capacidade.
Um conjunto de baterias desse tamanho requer bastante energia para ser recarregado: muitas vezes, essa eletricidade virá de fontes não-renováveis. Além disso, representa um baita problema ambiental quando chega ao fim de vida útil, estimada em cerca de 10 anos. Por mais que já existam iniciativas de reciclagem, cedo ou tarde o momento do descarte virá. Sem falar no impacto que a extração de minerais como lítio e cobalto, presentes nas células desses componentes, causa ao planeta.
A verdade é que o Cadillac Celestiq e os congêneres que ainda virão subvertem a vantagem ambiental dos carros elétricos. No fim das contas, por mais que o tempo tenha passado, parece que as coisas não mudaram tanto assim.
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