A ida de vários brasileiros à Rússia, estimulados pelos jogos da Copa do Mundo de Futebol, nos fez lembrar de quando os carros russos deram o ar de sua graça pelas ruas brasileiras. Foi nos idos de 1990, quando o país se reabriu para a importação de veículos, que os modelos da Lada chegaram por intermédio de um importador. Foram quatro modelos vendidos no Brasil – o sedã e a perua Laika, o jipe Niva e o hatchback Samara –, até que um aumento brusco da alíquota de importação de veículos em 1995 foi tirando esses simpáticos automóveis do nosso mercado.
Mas a história da marca, que na verdade de chama AutoVAZ (Volzhsky Avtomobilny Zavod, algo como Fábrica de Automóveis de Volga), já que Lada foi um nome criado para a importação dos modelos para outros países, começou em 1966 na antiga União Soviética. A empresa foi fundada com forte cooperação da Fiat, estimulada pela simpatia entre o regime soviético e a Itália, por meio de seu partido comunista. Tanto é que as instalações da fábrica foram construídas às margens do Rio Volga, numa cidade batizada de Tolyatt, em homenagem a Palmiro Togliatti, líder do Partido Comunista Italiano.
É claro que a AutoVAZ não foi a primeira fábrica de veículo da União Soviética, mas a empresa é uma concretização da demanda crescente pelo transporte individual naquele país. A ideia era produzir carros populares e de baixo custo – como foi o Volkswagen Fusca para a Alemanha e o Citroën 2CV para a França no período pós-guerra.
LAIKA Nesse contexto, o primeiro modelo a sair da linha de montagem em 1970 foi o VAZ-2101 (nosso Lada Laika), que ganhou o apelido de Zhiguli, que nada mais era que o projeto do Fiat 124, produzido sob licença, mas com adaptações para a realidade soviética. No ano seguinte, veio a carroceria perua, denominada VAZ-2102. Uma versão mais luxuosa do sedã, o VAZ-2103, foi introduzida em 1972, podendo ser diferenciada principalmente pelos faróis circulares duplos. Naturalmente, essa família ganhou ao longo dos cerca de seus 42 anos de produção diversas modificações estéticas e mecânicas. Os motores usados inicialmente nas versões comuns foram 1.2L e 1.3L, enquanto os mais luxuosos traziam propulsores 1.5L e 1.6L. A tração foi sempre traseira.
NIVA O primeiro projeto próprio da AutoVAZ foi o VAZ-2121 Niva (valente jipinho que ainda desfila por nossas ruas), lançado em 1977. Com estrutura em monobloco, motor 1.6L, câmbio de quatro marchas e tração permanente nas quatro rodas (com diferencial central), o jipe foi pensado para atender a quem morava em regiões rurais da União Soviética.
SAMARA Uma família nova, com concepção mais atual (incluindo a tração dianteira), viria em 1984. O VAZ-2108 Sputnik, lançado em outros mercados (incluindo o Brasil) como Lada Samara, também um projeto autoral da AutoVAZ. Inicialmente o modelo chegou apenas como um hatchback de três portas, mas em 1987 veio a versão de cinco portas (denominada VAZ-2109), seguido pelo sedã VAZ-21099 no ano de 1990. O modelo ganhou motorizações 1.1L, 1.3L e 1.5L, com câmbios de quatro ou cinco marchas. O modelo ganhou uma leve reestilização e até uma segunda geração em 1997. No ano de 1988, a AutoVAZ ainda lançou um subcompacto, o VAZ-1111 Oka (este não veio para o Brasil).
TRANSIÇÃO Um processo de privatização da AutoVAZ teve início em 1991, na transição entre socialismo e capitalismo que resultou na dissolução da União Soviética. Dois anos depois, a AutoVAZ já era uma Sociedade Anônima. O lançamento seguinte foi só em 1995, quando as relações do importador com o mercado brasileiro já estavam no fim, o que significa que a partir daí os modelos produzidos pela marca são ilustres desconhecidos dos brasileiros. O sedã VAZ-2110 deu início a uma nova família, sendo a perua VAZ-2111 em 1998 e o hatch VAZ 2112 em 1999. Os modelos tinhas várias versões de conteúdo, sendo que a de topo trazia até assentos com aquecimento e retrovisores com ajustes elétricos. Em 1998, a marca lança sua primeira minivan, o VAZ-2120 Nadezhda. Baseado no jipe Niva, o modelo tinha sete lugares e tração permanente nas quatro rodas.
NACIONALIZAÇÃO Em 2001 foi formada a GM-AutoVAZ, joint-venture com a General Motors. Mas esta parceria não duraria por muito tempo, já que a Rússia passava por um processo de nacionalização de várias companhias privadas. O resultado veio em 2005, quando o controle da AutoVAZ passou às mãos da empresa estatal Rosoboronexport. Foi neste mesmo ano que a marca lançou o sedã compacto Kalina, que também virou uma família de veículos no ano seguinte com a chegada de um hatch, seguido por uma perua, em 2007. Neste mesmo ano foi lançada a família Priora, que nada mais era que uma reestilização dos modelos derivados do VAZ-2110.
RENAULT Foi em 2008 que o envolvimento da Renault com a AutoVAZ teve início, quando o fabricante francês comprou 25% da estatal russa, que vivia uma crise. O primeiro fruto dessa parceria veio no fim de 2011, com o lançamento do sedã compacto Lada Granta, baseado no Kalina, além de um hatch em 2014. Em 2012 foi lançada a segunda geração do Kalina, que na verdade estava mais para uma reestilização.
Nesse mesmo ano foi lançada a perua Lada Largus, que é o mesmo projeto da primeira geração do Logan MCV, modelo da romena Dacia, subsidiária da Renault. A aquisição da marca pelo grupo Renault-Nissan foi concluída em 2014, dando à aliança o controle indireto da empresa. Os lançamentos ligados à Renault continuam, com a chegada do Lada XRAY, SUV baseado no Dacia Sandero, em 2015. No mesmo ano, o sedã compacto Lada Vesta também foi lançado, com direito a uma perua um ano depois. Finalmente, em 2016, em novo investimento, a Renault (sem a participação da Nissan) torna o fabricante russo mais uma de suas subsidiárias.