O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, disse nesta quinta-feira (24) que o aumento dos preços do aço deve elevar a participação do aço importado no País. De acordo com ele, embora o reajuste de cerca de 10% do insumo, que vem sendo negociado pelas siderúrgicas com as montadoras, não tenha impacto imediato, terá no futuro. "O efeito não será tão grande para a Volkswagen neste momento, mas a cadeia de fornecedores vai acabar sentindo os impactos mais rapidamente", afirmou, após entrevista em que apresentou a linha de modelos 2012 da marca e o lançamento do novo Jetta. "Embora não sejamos tão afetados, é claro que cada centavo representa impacto", afirmou.
Schmall disse que as montadoras importam hoje cerca de 30% do aço que utilizam em suas fábricas brasileiras. "Esse novo reajuste certamente deve aumentar ainda mais as nossas importações de aço", afirmou. Segundo ele, embora no curto prazo os preços dos automóveis não sofrerão reajuste, no longo prazo o repasse deve chegar ao preço final. "O problema não é agora, mas sim como lidaremos com essa questão mais para frente. Esse não é o fim da história e haverá impacto para o consumidor no futuro", afirmou.
De acordo com Schmall, 80% do custo de um carro fabricado no Brasil correspondem a matéria-prima, dos quais 50 pontos porcentuais dessas despesas estão relacionados ao aço.
Crédito restrito
O presidente da Volkswagen também falou sobre crédito para carros novos. Thomas disse que prefere que o mercado automobilístico doméstico cresça 5% ao ano de forma sustentável do que 20% ou 30% em um ano, de forma pontual. Na avaliação dele, as medidas já anunciadas pelo governo federal para restringir a concessão do crédito são corretas. "Outros países da América Latina não cuidam de aspectos como o câmbio e a inflação, porque querem crescer mais rapidamente. Mas um dia ele terão de pagar a conta", afirmou o presidente da Volks após a entrevista coletiva do lançamento do novo Jetta.
Schmall disse que apoia "100%" aquilo que o governo está fazendo para controlar a inflação. "Prefiro um crescimento mais sustentável e menor do que um crescimento de dois dígitos com inflação. Só não podemos cair em extremos. As medidas devem ser feitas em etapas, avaliando os resultados", afirmou o presidente da Volkswagen.
Na avaliação dele, embora as vendas de automóveis no País tenham superado no primeiro trimestre as do mesmo período do ano passado, quando a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ainda estava em vigor, não é possível afirmar que as ações do governo não têm tido efeito. "Acho que a restrição da concessão de crédito com certeza teve impacto. Imaginem como seriam as vendas sem essas medidas", disse.
De acordo com ele, o Brasil é hoje o segundo maior mercado do grupo Volks no mundo, atrás da China e já na frente da Alemanha. "Nos últimos anos, o crescimento do mercado de automóveis no Brasil foi de cerca de 10% ao ano, mas agora começou a esfriar e voltamos a um dígito", afirmou Schmall. Segundo ele, porém, o Brasil ainda tem muito potencial para as montadoras. No Brasil, explicou, a média é de um carro para cada seis pessoas, enquanto na Europa, a média é de um carro por pessoa. "Até 2016, devemos chegar a uma média de um carro para cada quatro pessoas", prevê. Ele alertou para o fato de que o Brasil precisa melhorar a competitividade interna, pois o mercado de veículos continua a crescer acima do patamar de dois dígitos na China, Índia e Rússia.
Competição chinesa
Sobre a entrada de novas marcas da China e da Coreia no mercado brasileiro, Schmall disse que a Volkswagen está preparada para a competição. "Cão que ladra não morde", afirmou. "Estamos preparados para isso. Os chineses vão entrar com carros mais baratos e nós também teremos carros para esse segmento", disse, sem citar prazos. "A Volkswagen não é só o Gol. Temos um portfólio de 23 carros no País e os asiáticos vão demorar muito tempo para chegar nesse nível", acrescentou.