A capacidade de estacionar corretamente está entre os preceitos básicos dos exames de habilitação. Na lista de exigências impostas aos futuros motoristas está a baliza, manobra do exame prático na qual o aluno deve concentrar as atenções nos retrovisores para que, em momento algum, colida com outro veículo parado na via ou com a guia da calçada. Se o aluno bater num dos objetos, a chance de ser aprovado é adiada até que a manobra seja concluída com êxito em um novo exame. Pode parecer falta de costume, mas, depois de conseguir a tão almejada habilitação, muitos motoristas continuam com a mania reprimida por examinadores.
Espremido no meio-fio, estraga
“Prefiro parar próximo ao meio-fio a deixar o carro exposto a danos de outros veículos que passam pela rua”, argumenta o estudante de engenharia de telecomunicações Frederico Lacerda. Ao parar seu Fiat Palio numa das ladeiras que cercam a Universidade Fumec, Região Sul de Belo Horizonte, na qual estuda, Lacerda defende também que o uso individual do freio de mão pode ser insuficiente para manter a inércia do carro. “Para segurar o carro tanto na descida quanto na subida, virar a volante e deixar o pneu encostado na calçada é de praxe”, garante.
Mesmo que Frederico e outros motoristas insistam em repetir a manobra, fabricantes de pneus condenam o hábito, que a longo prazo gera desgaste dos borrachudos e, em casos mais severos, corte da carcaça, o que significa ir para o lixo.
APERTO POR PARTES “Quando um pneu é pressionado na calçada existem três condições”, revela o supervisor de engenharia de campo da Bridgestone do Brasil, Gilberto Haviaras. A primeira, explica o executivo, acontece quando o pneu é espremido pela banda de rodagem. “A banda de rodagem é uma placa de aço cruzada, mas tem determinada rigidez. Apesar de a força que o pneu recebe ser perpendicular à banda, não é recomendado pressioná-lo”, assegura. Na segunda condição, é o ombro do componente que entra em contato com o meio-fio. “O ombro do pneu encostado na guia da calçada é menos prejudicial. Esta parte fica entre uma área bastante rígida (banda de rodagem) e outra bastante flexível (a lateral), o que gera desgaste.”
A pior delas, complementa ele, é o contato com a lateral do pneu. “A lateral é muito mais frágil que a banda de rodagem e o ombro por ser mais flexível e sujeita a danos. Estacionando dessa forma, o pneu pode ter corte, abrasão ou algo do tipo. Diante de um dano, a carcaça vai ser cortada, vazar o ar e o componente terá que ser substituído por um novo. Você pode pressionar sempre a lateral do pneu e não ocorrer nada, mas não é adequado. A lateral não foi feita para isso”, adverte Haviaras.
O gerente de Serviços ao Consumidor da Continental Pneus, Cesar Maldonado, concorda que os danos ao estacionar desse modo provocam diferentes níveis de fadiga ao borrachudo. No entanto, segundo ele, a área mais atingida no contato frequente com o meio-fio é o ombro do pneu. “A fadiga na lateral do pneu não chega a ser muito grande e na banda de rodagem é pouco. Mas é no ombro que está o maior risco, pois fica pressionado na calçada”, salienta.
IMPACTO O gerente da Continental Pneus enfatiza ainda que o impacto que o pneu recebe ao entrar em contato com a calçada pode diminuir a durabilidade do componente. “Isso faz com que o pneu seja trocado. Em muitos casos, as bolhas laterais são causadas por impactos na calçada. Aliado à baixa pressão, esquecida por muitos motoristas, faz com que o pneumático tenha que ser trocado com maior frequência”, finaliza. O ideal é virar o pneu em direção ao meio-fio sem encostá-lo para que o carro não desça desgovernado.