A Ford anunciou sua saída do Brasil como fabricante de automóveis no início do ano. No mesmo dia, a marca anunciou que ainda tem interesse pelo mercado brasileiro, mas atuando como uma importadora, deixando para trás milhares de desempregados (diretos e indiretos), um progressivo desmanche da rede de concessionárias, a desvalorização de seus modelos no mercado de usados, além dos clientes desassistidos de peças de reposição. Isso, sem contar a forma como a empresa vem tratando os clientes afetados pelos problemas do câmbio Powershift.
A estreia da Ford no Brasil como importadora será no fim de maio, com a apresentação do Bronco Sport, vindo do México. A informação é do jornalista Jorge Moraes. Porém, o atual papel da Ford no mercado brasileiro nos leva a questionar se ainda vale a pena comprar um modelo importado da marca. A experiência de um cliente da Ford continuará sendo igual de quando a marca estava presente no Brasil? É claro que não! Vamos analisar alguns pontos em que a empresa deixa a desejar.
REDE Das 283 concessionárias que a Ford tem atualmente no Brasil, 160 vão fechar as portas. A intenção da marca é manter 120 autorizadas no Brasil. Mas, resta sabe se, com o passar dos anos, à medida que a garantia dos veículos já vendidos for acabando, estas empresas vão se interessar em trabalhar com a bandeira do oval azul. Vale lembrar que outras marcas menos capilarizadas já estão de olho nesses pontos de venda. Na prática, a diminuição da rede de concessionárias também dificulta a manutenção dos veículos, o que deixa os modelos da Ford menos interessantes para quem mora longe dos grandes centros urbanos.
NANICA Ao abrir mão de seus modelos de volume, a Ford passa a ser uma nanica no mercado brasileiro. Levando em conta o ano de 2020, os modelos nacionais da marca (Ka, Ka Sedan e EcoSport) somaram 117.265 veículos emplacados, o que corresponde a 84% das unidades comercializadas entre automóveis e comerciais leves. Já os importados somaram 21.990 unidades em 2020. Se repetir esta performance, a importadora Ford passa a responder apenas por 1% do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves. Porém, se tirar a Ranger, fabricada na Argentina, a participação dos importados da Ford apenas entre os automóveis em 2020 foi de 0,13%.
PEÇAS Menos de um mês após anunciar o término das atividades no Brasil, os concessionários da Ford já foram chamados pelo Procon-SP para explicar a falta de peças denunciada pelos clientes. Se isso aconteceu tão rápido com os modelos nacionais, imagine com os importados?
DESVALORIZAÇÃO A ideia atual da Ford no Brasil é trabalhar apenas com produtos de maior valor agregado. Para se ter ideia, o modelo mais barato vendido atualmente é a picape Ranger, que custa a partir de R$ 163.490. Se os modelos mais em conta da Ford já sofreram desvalorização além da média no mercado de usados, imagine os mais caros?
VALE? Neste cenário, quando vai valer a pena comprar um modelo da importadora Ford? Teria que ser um modelo tão icônico, tão especial, que justifique tantas desvantagens. No caso da Ford, os modelos atuais que trazem esse perfil são o Mustang e o Bronco (a releitura do clássico, não o Sport!). Os demais modelos – Edge, Territory – são mais genéricos, facilmente substituíveis. Um bom exemplo disto é a Ford Ranger, que se torna pouco atraente frente a grande oferta de picapes médias no mercado brasileiro.
CARO Outro aspecto a ser analisado é o preço desses modelos importados, que, além de mais caros, ficam muito sujeitos às variações de câmbio, incluindo aí as peças de manutenção e até o valor do seguro. A aposta é que o Ford Bronco Sport chegue por aqui a partir dos R$ 250 mil. No México, onde o modelo é fabricado e de onde virá sem tarifas de importação, a mesma versão Big Bend custa 618 mil pesos mexicanos, que na conversão direta corresponde a R$ 167 mil.
DESCONFIANÇA Se a Ford simplesmente se retirou do mercado brasileiro sem qualquer prévio aviso, deixando todo este vácuo, toda essa desassistência descrita até aqui, o que impede a importadora deixar seus novos clientes a ver navios agora que não possui nenhuma estrutura fabril no país?
Queimou a largada!
A imagem atual da Ford não é boa entre as pessoas que acompanham o mercado automotivo brasileiro, como evidencia os seguintes comentários retirados da matéria que revelou as informações do Bronco Sport no Brasil.