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Cadê o rebolado?

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O jogo da sedução não se limita aos seres vivos. Para tanto, alguns automóveis têm ganhado uma dose a mais de ginga, de malemolência, o popular rebolado. Os fabricantes já perceberam que investir em emoção é o caminho para boas vendas em tempos de crise. Alguns apelam para desenhos capazes de despertar sentimentos mais arrebatadores. Outros investem novamente no prazer de dirigir. Numa ode ao envolvimento passional com carros, a coluna Rolimã reúne alguns exemplos de fabricantes que investem na sedução como arma.

AMANTE FRANCESA

A Renault já arriscou desenhos mais rebuscados. É só ver o Avantime e o Vel Satis, desenhados pelo antigo chefe de estilo Patrick le Quément. Os modelos lançados em 2002 não venderam bem e só se destacaram pelo estilo incomum. Para não arriscar, em 2010 a marca começou a definir a sua nova linguagem de estilo, mais sedutora. E que, não por acaso, está no conceito Dezir do novo designer Laurens van den Acker. O nome faz referência ao desejo e, segundo a marca, o estilo comunica três quesitos chave: simples, sensual e quente.

MAS QUE PROSOPOPEIA

Dar características humanas a objetos inanimados tem até figura de linguagem: prosopopeia ou personificação. Pode parecer esquisito, mas o fato é que os carros estão vindo com atributos descritos de maneira cada vez mais curiosas. Nesse jogo de sentimentos inspirados pelo desenho, até as marcas tidas como mais austeras em estilo já revolucionaram. É o caso da Land Rover com o Range Rover Evoque. É como Gerry McGovern, diretor de design da marca, comentou sobre o carro: “Com sua linha de cintura dramaticamente elevada, ombros musculosos que percorrem o comprimento do carro e um teto inclinado e flutuante, o Evoque adota um perfil muito dinâmico, com uma pose poderosa e atlética”, afirmou. Poderia estar falando de um esportista.

FORÇA DIVIDIDA

Durante anos, o objetivo da maioria dos fabricantes era eliminar as perdas de tração, fazendo com que os carros andassem sobre trilhos em qualquer traçado. A Audi bem que investiu os tubos na tração Quattro, que deu fama de estabilidade aos modelos da companhia. Só que, diante de concorrentes como a BMW, que não larga mão da tração traseira como base, a marca criou sistemas de transmissão que repassam a maior parte da força para o eixo traseiro, tudo para garantir um jeitinho mais arisco de ser. E nos carros equipados com tração integral preponderante na dianteira, a solução foi outra. É o caso do RS3, que tem pneus traseiros mais estreitos que os dianteiros, dando um comportamento mais sobresterçante (saída de traseira), o que combina muito mais com a quentura dos 340cv do motor cinco cilindros 2.5 turbo.

FUGIR DA MESMICE

Dar um tapa no estilo não é a única estratégia. Veja o caso da Toyota, que já tem fama de produtora de carros funcionais e resistentes, porém sem muito borogodó. No entanto, a marca já enveredou em outros tempos pela esportividade em modelos como o Celica, MR-2 e Supra, algo que poucos lembram ao olhar para um Corolla. E pensar que o modelo já foi referência de esportividade acessível no Japão, onde o Corolla (Truenno) AE-86 ainda é idolatrado por ter sido o último produzido com tração traseira (foto principa). Um saudosismo que a marca já reconheceu ao apresentar o GT-86, cupê médio produzido em conjunto com a Subaru (que o vende como BRZ) equipado com motor dianteiro e tração traseira. A ordem do chefão Toyoda: adicionar emoção e prazer de dirigir aos Toyota.

O NOVA VOLTA

Buscar emoções fortes em esportivos refinados é fácil. Mas quando o preço é baixo, a coisa começa a ficar difícil. Mesmo no mercado americano, no qual os muscle cars como Ford Mustang, Chevrolet Camaro e Dodge Challenger têm preços entre US$ 22 mil e US$ 25 mil. Para lucrar com os que desejam emoção à antiga, só que mais acessível, a GM apresentou no Salão de Detroit o conceito Code 130R. Trata-se de modelo criado para o público na faixa dos 30 anos que deseja pagar preço de sedã compacto (médio para os nossos padrões) por um esportivo. O desenho é menos chamativo que o do outro conceito do salão, o Tru 140S, que imita o jeito dos superesportivos de motor central. Mas pouco importa, o que interessa mesmo é a tração traseira do Code 130R, enquanto o outro investe na tração dianteira. Será praticamente a reedição da filosofia do Chevrolet Nova: uma opção mais acessível ao Camaro. Só que com motor Ecotec 1.4 turbo, para investir na emoção sem perder as estribeiras na hora de beber.

DODGE BY ALFA



Outra americana que deseja reforçar suas credenciais esportivas é a Dodge. A marca americana pertencente à Chrysler tem na Mopar, divisão de acessórios e equipamentos especiais do grupo, uma aliada para temperar os modelos. Além da tradição esportiva, em especial os motores V8, como o novo 6.4 Hemi, de 471cv. Contudo, na hora de lançar o sedã Dart em Detroit, em janeiro, o fabricante salientou outra herança esportiva: o DNA da Alfa Romeo.... heim? Acontece que a marca italiana faz parte do grupo Fiat, atual controlador da Chrysler. A união resultou na criação do modelo médio (compacto para lá), que foi construído sobre a plataforma do Alfa Romeo Giulietta, uma versão aperfeiçoada e esticada da arquitetura do Fiat Bravo. É como se fosse um macaroni and cheese, ou macarrão com queijo: a releitura americana de um prato italiano. Faz parte da estratégia de diferenciação do produto que concorrerá com modelos japoneses mais caretas. Prova de que apelar para a emoção pode ser a atitude mais racional.