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Câmbio Powershift da Ford apresenta série de defeitos e inferniza proprietários

Superaquecimento, ruídos, trepidações e troca prematura de kits de embreagem tiram do sério donos de modelos com câmbio automatizado. Montadora assume no manual, mas não corrige o defeito

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Câmbio Powershift da Ford apresenta série de defeitos e inferniza proprietários
Câmbio Powershift da Ford apresenta série de defeitos e inferniza proprietários Foto: Câmbio Powershift da Ford apresenta série de defeitos e inferniza proprietários

Eduardo Oliveira está decepcionado com problema do câmbio Powershift do Fiesta

Depois dos trancos das primeiras versões do Dualogic, da Fiat, queixas envolvendo câmbios automatizados voltam à cena. A bronca da vez é o com o Powershift, da Ford. Apresentada como uma das principais inovações tecnológicas do New Fiesta, a transmissão de dupla embreagem apresenta ruídos, trepidações e trocas prematuras de kits de embreagens. Para piorar, há casos de superaquecimento do câmbio, situação prevista pela própria Ford no manual do proprietário e ocorrida com reportagem do Estado de Minas durante o teste do Focus Fastback 2.0 Titanium Plus. Além do compacto e do médio, também há ocorrências envolvendo o EcoSport. A Ford admite, em nota, haver apenas trepidação excessiva.


A dor de cabeça envolvendo o Powershift chegou a ponto de os proprietários de modelos da marca se reunirem em um fórum em rede social para troca de informações. Apenas no site Reclame Aqui, um dos principais meios de reclamação de produtos e serviços na web, há 458 casos sobre o câmbio automatizado de dupla embreagem e seis velocidades da Ford.


Em janeiro deste ano, o psicólogo Eduardo Milton de Oliveira desistiu de um modelo seminovo para comprar um New Fiesta SE Powershift 15/15 zero. Acabou levando ainda outro Ford idêntico, porém com câmbio manual, para presentear o filho. Atualmente, se arrepende da escolha pelo automatizado, embora tenha considerado a tecnologia de dupla embreagem na compra. “Com um mês de uso, o carro começou a trepidar, como se fosse velho e a embreagem estivesse gasta. A concessionária prometeu substituir a embreagem em janeiro e até agora nada. Uma consultora me disse informalmente que foi feita uma adaptação no projeto da caixa nacional e a Ford, além de não fazer o recall, está trocando as peças”, revela o psicólogo.


Acostumado com carros automáticos, Eduardo diz não querer nunca mais um modelo da marca. “Também tenho um VW Fox I-Motion, que costuma dar trancos, mas a embreagem é simples. Meu outro New Fiesta é muito bom, não dá defeito. O Powershift é um projeto que não deu certo”, dispara. Outro dono de New Fiesta, mas da versão Titanium 13/14, que está tendo dor de cabeça é o advogado Valmer Costa Santos. Ele conta que o modelo treme em baixa rotação, como se estivesse arrancando de terceira marcha. “Já levei o carro sucessivas vezes à concessionária e não resolvem. Dizem apenas que atualizaram um software da transmissão. Deveriam fazer um recall”, aponta o advogado, que pensou em trocar o New Fiesta por um Focus, mas ao saber que o modelo médio tem a mesma tecnologia acabou desistindo. “O carro é impecável, tem sete airbags, mas automatizado nunca mais”, conclui.

A advogada Marcília Alevar foi mais além. Cansada da sensação de desconforto, ela decidiu vender o EcoSport Titanium 2013. Com 30 mil quilômetros rodados, o carro já teve o kit de embreagem substituído duas vezes. Além dos ruídos e trepidações, Marcília já se deparou com uma situação de superaquecimento. “Logo quando comprei o carro surgiram os problemas. Primeiro a Ford deu a desculpa de que o reparo dependia da entrega do fornecedor da peça. Aguardei. Disseram ter trocado o fornecedor, fizeram o reparo, mas não adiantou. Com todo mundo sabendo, o carro desvaloriza”, reclama.

Ford orienta no manual o que fazer no superaquecimento, mas não corrige o defeito


AVISO NO MANUAL O superaquecimento do Powershift é previsto pela própria Ford em mensagens exibidas na tela de informações do painel. Os alertas são descritos no manual do proprietário prevendo situações de mau funcionamento em marcha lenta, em congestionamentos – situação vivida pela reportagem do Estado de Minas durante o teste do Focus Fastback 2.0 Titanium Plus, quando foi forçado a parar o carro e aguardar alguns minutos –, além das trepidações. Diante da mensagem “Transmissão muito quente/Pressione Freio”, a marca recomenda a parada do veículo em local seguro, “que permita que a transmissão esfrie e a mensagem desapareça, antes de prosseguir”, atentando para a possibilidade de trepidação. No caso de superaquecimento em marcha lenta e freios aplicados por longo período, a Ford orienta “conduzir o veículo em velocidade alternativa que permita menos eventos de marcha lenta/velocidade mais lenta”.


Para o advogado especialista em defesa do consumidor Geraldo Magela Freire, o alerta de superaquecimento nos manuais não isenta a Ford de uma solução em um prazo de 30 dias. A ocorrência de diversos casos envolvendo o Powershift, afirma, já é suficiente para a realização de um recall. O artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor dá direito ainda à devolução do valor pago pelo carro, troca do carro por outro sem defeitos ou abatimento na compra de um novo – à escolha do consumidor. “O CDC acolheu a teoria de qualidade por segurança e de qualidade de adequação. Se a Ford atendeu o dever de informar os consumidores, não significa que está isenta de responsabilidade e da obrigação de corrigir os defeitos por meio de um recall”, sustenta Magela.

CASOS ESPECÍFICOS Ao longo de duas semanas, o caderno Vrum procurou um representante da Ford que pudesse explicar as razões dos problemas, porque não foi feito recall até agora e o que tem sido feito para solucioná-los. A Ford, por outro lado, se limitou a dizer por meio de nota que o Powershift “pode apresentar, em alguns casos, trepidação excessiva da embreagem da transmissão durante baixa aceleração”. Porém, a Ford não assume o que está escrito no manual do carro. A marca garante desenvolver programas de satisfação do cliente para atender o que chama de casos específicos.