Antonio Filosa, presidente da Stellantis, "desenhou" como seria um carro popular contemporâneo para o Brasil. Para começo de conversa, ele reconheceu à AutoData Editora que os carros atingiram um preço muito elevado no país: " Acho caro o preço do carro de entrada mas, hoje, se eu vender o Fiat Mobi mais barato eu perco dinheiro”. O Mobi é o segundo carro mais barato do Brasil, a partir de R$ 68.990.
Para alcançar um carro popular de fato no Brasil, Filosa defende impostos mais baixos, mas, sobretudo, mexer na regulamentação, flexibilizando a obrigatoriedade de itens. "Veja: não quero carros menos seguros mas devemos pensar em uma nova categoria para ter um carro mais barato”, salientou.
Para exemplificar o que seria essa "nova categoria" de carro popular, o presidente da Stellantis usou como exemplo o Citroën Ami, microcarro vendido na Europa. Com propulsão elétrica, o veículo não passa dos 45km/h. Esse desempenho limitado permitiu flexibilizar o uso de componentes de segurança e o uso de materiais alternativos na carroceria em plástico. “Hoje não consigo vender o Ami aqui: ele não seria homologado”, afirmou Filosa.
Além disso, o Citroën Ami leva apenas duas pessoas e não tem porta-malas, sendo um veículo puramente urbano. E esse seria outro trabalho a ser feito, mudar o pensamento do consumidor brasileiro, acostumado a ter um hatch com porta-malas que pode ser usado tanto na cidade quanto na estrada.
Carro popular dobrou de preço
No início dos anos 1990 um carro popular custava em torno de US$ 7 mil, o que hoje corresponde a aproximadamente R$ 35 mil na conversão direta. Sendo o Renault Kwid o carro mais barato do Brasil, a partir de R$ 68.190, não é exagero afirmar que os carros de entrada dobraram de preço no Brasil.
No entanto, também é preciso levar em consideração que o carro popular atual - seja por exigência do mercado ou por força de lei - tem um nível de equipamentos muito superior que o dos anos 1990. Itens que atualmente são corriqueiros em qualquer modelo, como limpador e desembaçador do vidro traseiro, eram quase luxo em um carro popular. Direção assistida e ar-condicionado eram impensáveis nessa categoria, mas hoje estão presentes em todos os modelos.
E o que dizer da segurança? Airbags frontais, freios antitravamento (ABS), Isofix, cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça para todos os ocupantes são obrigatórios em qualquer modelo atual. Antes eram itens de carro importado (e olhe lá!). Todo esse incremento elevou o custo do carro de entrada.
Carro popular volta à pauta dos fabricantes
Nas últimas semanas, marcas como a Chevrolet, Volkswagen, Hyundai e Stellantis suspenderam a produção, com a concessão de férias coletivas, para controlar os estoques e aguardar mudanças na política econômica que estimulem o consumo e facilidade de financiamento.
Talvez essa queda da demanda trouxe à pauta de outros fabricantes a discussão sobre o carro popular, sugerindo que ele ainda pode ter papel importante para a saúde financeira das empresas. Esse indicativo vai contra uma tendência que vinha se fortalecendo nos últimos anos, de que os modelos com maior valor agregado é que vão garantir o lucro dessas empresas.
Talvez, para os fabricantes de maior volume, a fórmula do sucesso seja um equilíbrio entre esses dois perfis de produto. Bom, ao menos resta o consolo de que os carro popular não está com os dias contados, como parecia ser o panorama futuro.
Volta dos subsídios?
Rodrigo Capuruço, CEO da Volkswagen Financial Services no Brasil, disse no Seminário Megatendências 2023, realizado pela AutoData Editora, que para a indústria automotiva voltar a oferecer modelos com preços mais acessíveis “será preciso redesenhar a política de investimentos no Brasil para os próximos 10 anos”.
Para Capuruço, esse movimento não deve passar por subsídio, ao contrário do que falou o diretor de negócios de veículos do Itaú Unibanco, Rodnei Bernardino de Souza. “Nos últimos dois anos, o carro zero dobrou de preço. E, no Brasil, o preço do carro é componente que define a demanda. Acredito que só teremos carro popular com subsídio, porque esse produto não traz rentabilidade aos fabricantes. Mas, eu me pergunto: será que teremos isso de novo?” Apesar da afirmação, Rodnei não acredita na volta do subsídio no contexto atual.
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