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A volta dos carros populares; confira possíveis modelos e como virão

Os veículos seriam como os dos anos 1990, mais simples e menos equipados

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O Fiat Uno Mille 1990 foi uma das primeiras opções de carro popular no Brasil, com preço de R$ 7.500 na época
O Fiat Uno Mille 1990 foi uma das primeiras opções de carro popular no Brasil, com preço de R$ 7.500 na época Foto: O Fiat Uno Mille 1990 foi uma das primeiras opções de carro popular no Brasil, com preço de R$ 7.500 na época

De fato, já se foi a época em que os carros populares – na faixa dos R$ 30 mil – eram uma realidade para o consumidor brasileiro. Atualmente, o que nós vemos são os modelos de entrada beirando os R$ 70 mil. O Renault Kwid, por exemplo, o mais barato do país atualmente, tem preço inicial de R$ 68.190 na versão mais básica. 

Partindo desse valor, comprar um carro novo hoje no Brasil se tornou, realmente, algo limitado às classes médias e altas. As pessoas de classes mais baixas, por sua vez, acabam recorrendo a alternativas, como os usados ou as motos.

Nesse contexto, o mercado automobilístico se vê, inevitavelmente, prejudicado – afinal, fabricar carros que apenas uma parcela da população pode comprar limita significativamente o seu movimento, principalmente quando isso se soma a outros fatores agravantes que são verificados hoje, como a crise de abastecimento dos semicondutores e demais componentes dos veículos. Não é à toa que diversas fábricas têm suspendido (ou reduzido) suas operações no Brasil.

Pensando em reverter esse complexo cenário, a indústria automotiva começou a se mobilizar. E isso começou com algumas montadoras que procuraram o governo para sugerir propostas voltadas ao reaquecimento do setor.

Uma delas foi a da renovação da frota brasileira. De acordo com a ideia, os proprietários de automóveis antigos e poluentes seriam indenizados para retirar seus carros de circulação e substitui-los por modelos novos. Além desta, outra alternativa sugerida também tem dado o que falar: a da volta dos carros populares!

Carros populares: por que acabaram?

Além da inflação, outro grande responsável pelo aumento dos preços dos automóveis (e consequentemente pelo "fim" dos carros populares) foi o crescimento de exigências legais relacionadas aos equipamentos veiculares.

Nesse sentido, a legislação se tornou mais rígida, obrigando os veículos a serem melhor equipados, com motores menos poluentes e com sistemas que garantem maior segurança aos motoristas e passageiros. E tudo isso custou (e custa) muito dinheiro. E quem paga? O consumidor final.

Para piorar, as atuais taxas de juro em alta dificultam os financiamentos, limitando ainda mais o poder aquisitivo dos brasileiros na hora da compra de um veículo 0Km.

Como seria possível a volta desses veículos?

Quando se fala no retorno dos carros populares, espera-se que as montadoras produzam veículos menores e mais simples. Para isso, elas eliminariam equipamentos – que, embora proporcionem mais conforto e, em alguns casos, mais segurança – não são, de fato, imprescindíveis (nem obrigatórios pela lei). Este é o caso das rodas de liga leve, do ar-condicionado, das enormes telas de multimídia, da pintura metálica, dispositivos eletrônicos, entre outros.

Além disso, as montadoras contariam também com o apoio do governo por meio da diminuição dos impostos que incidem na fabricação dos veículos. Se o custo de produção cai, o preço final nas lojas também cai.

E quais modelos poderiam ser transformados nesses futuros carros populares? E como eles seriam oferecidos?

Confira abaixo uma lista dos atuais modelos de entrada oferecidos no mercado, incluindo especulações de como eles seriam vendidos caso sejam "popularizados".

Renault Kwid

O Renault Kwid é o modelo que mais se aproxima, hoje, de um carro popular. No entanto, seu preço ainda é considerado alto em comparação aos modelos de entrada vendidos na década de 1990.

Se fosse popularizado, o modelo, muito provavelmente, perderia os airbags laterais, mantendo apenas os frontais – que são os obrigatórios por lei.

Além disso, demais itens de séries que não são exigidos por lei também seria eliminados. Isso incluiria, certamente, o ar-condicionado, a direção elétrica, o sistema de monitoramento da pressão dos pneus (TPMS) e o assistente de partida em rampa (HSA).

Os vidros dianteiros elétricos também poderiam ser substituídos pelos de manivela, assim como as travas elétricas das portas, pela trava manual (por meio da chave).

Por fim, o computador de bordo, provavelmente, seria eliminado.

Renault Kwid modelo 2023 vermelho de frente em movimento no asfalto. O modelos seria, potencialmente, uma das opções para a volta dos carros populares.
O Renault Kwid é atualmente o modelo mais barato do mercado brasileiro, por R$ 68.190

Fiat Mobi

O Fiat Mobi é o segundo colocado da lista dos carros mais baratos do Brasil. Atualmente, ele é vendido a partir de R$ 68.990.

Para entrar na onda dos carros populares, ele perderia, mais ou menos, os mesmos itens do Kwid, o que inclui ar-condicionado, sensor de pressão dos pneus e travas e vidros elétricos (que serão substituídos pelos manuais) e computador de bordo digital.

Além disso, no caso do Mobi, a direção hidráulica seria eliminada.

Fiat Mobi Trekking 2022 vermelho de frente. O modelos seria, potencialmente, uma das opções para a volta dos carros populares.
Imagine pegar um Fiat Mobi, que é o segundo carro mais barato no Brasil, e retirar conteúdo para baixar o preço

Carros populares de volta: Citroën C3

Custando atualmente R$ 72.990 na versão mais básica, o Citroën C3 é o terceiro carro mais barato do Brasil hoje.

Como carro popular, ele perderia alguns dos mesmos itens do Kwid e Mobi (ar-condicionado, vidros elétricos, sensor de pressão dos pneus e assistente de partida em rampas). Além disso, a tomada de 12v dianteira e as travas manuais de segurança nas porta traseiras para crianças também poderiam ser retiradas.

A "pré-disposição para rádio", provavelmente, seria eliminada, assim como o computador de bordo.

Citroën C3 2023 azul em matéria sobre cores de carros
Citroën C3 2023 é vendido hoje por preços a partir de R$ 72.990

Fiat Argo

Vendido a partir de R$ 78.590, o Fiat Argo também seria um dos possíveis modelos a se tornar carro popular, caso a proposta em discussão se torne realidade.

Em seu processo de "popularização", o modelo abriria mão, certamente, das travas elétricas nas portas e porta-malas (que seriam substituídos por mecanismos manuais), da direção elétrica, da tomada 12V, do Drive by Wire (controle eletrônico da aceleração), do ar-condicionado, das partes digitais do quadro de instrumentos (relógio), dos vidros elétricos e do alarme antifurto.

Fiat Argo automático 2023 vermelho de frente em movimento.
Fiat Argo 2023

Hyundai HB20

Por fim, não poderia faltar o Hyundai HB20. Como o último da lista, o modelo sai hoje por preços a partir dos R$ 79.490.

Dentre os itens eliminados, estariam: ar-condicionado, tomada 12V, assistente de partida em rampa (HAC), direção elétrica, air-bags laterais e de cortina, alerta sonoro de não colocação do cinto de segurança para motorista e passageiro, alto-falantes dianteiros (2x), vidros elétricos e alarme perimétrico.

O retorno dos carros populares: retrocesso tecnológico?

Bom, a partir de tudo que foi exposto aqui, fica claro que a retomada da produção dos carros populares é quase que um retrocesso – do ponto de vista tecnológico – na indústria automobilística. Veículos sem ar-condicionado, sem travas elétricas nas portas, sem direção elétrica ou hidráulica e por aí vai… Andar em meio a esses carros será como uma viagem ao passado, para algo perto dos anos 1990.

Mas, em compensação, reviver esses veículos significaria aumentar, significativamente, as chances de as classes brasileiras mais baixas terem condições de adquirir um carro 0km. Será que vale a pena então o “retrocesso tecnológico”? 

Enfim, de qualquer forma, o que nos resta, por enquanto, é esperar as tramitações e articulações da proposta entre o governo e as empresas privadas do setor.