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Cinto de segurança - Cultura do desleixo

Apesar da obrigatoriedade, passageiros que ocupam bancos de trás dos veículos acham equipamento desnecessário. Veja o dizem motoristas e taxistas

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Embora muitos não saibam (ou finjam não saber), o uso do cinto de segurança nos bancos de trás dos veículos é tão obrigatório quanto na frente, seja em rodovias ou nas cidades. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que completa 10 anos amanhã, é claro, no artigo 65, quando determina que "é obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional", assim como ao estabelecer, no artigo 167, que não usar o cinto é infração grave, com multa de R$ 127,69 e perda de cinco pontos na carteira. A falta de conhecimento e a impunidade, no entanto, acabam por contribuir com a falsa crença de que não é preciso usar o cinto nos bancos traseiros. Em pesquisa realizada em diversas regiões de Belo Horizonte, 58% dos motoristas entrevistados, num total de 100, disseram não usar o cinto de segurança, quando estão no banco traseiro, e também afirmaram não pedir à família ou passageiros (caso de taxistas) que o façam. A consulta foi também realizada com internautas, pelo portal Vrum. Nesse caso, porém, o resultado foi equilibrado: 50,26% disseram usar o cinto. Foram 1.341 votos.

Vrum - SBT - 05/10/2008


As justificativas são diversas: não tem necessidade; não é obrigatório; não gosto; não uso nem na frente; dentro da cidade não precisa; no desespero a gente pode ficar preso pelo cinto. A maioria, porém, ressaltou usar o equipamento em viagens e quando está na frente, seja como passageiro ou motorista. Contraditoriamente, aqueles que estão sempre nas ruas e poderiam dar bom exemplo também parecem duvidar da eficácia do cinto. Metade dos entrevistados era de taxistas e, entre eles, o índice de rejeição ao cinto nos bancos traseiros foi maior: 64,5%. Além disso, praticamente todos - mesmo os que são favoráveis ao uso - disseram que não pedem aos passageiros para pôr o equipamento. Alguns nem sequer têm o cuidado de deixar os cintos prontos sobre o banco.

"A maioria dos passageiros fala que vai sentar atrás para não pôr o cinto. É a frase que mais ouço", relata Waldir Freire. Por outro lado, alguns taxistas contam que, pouco a pouco, vem aumentando o número de pessoas que, ao ligarem para a central, já pedem um carro com os cintos instalados e limpos. E há os que insistem na segurança, deixando o taxista desconcertado, como relata um colega de Freire: "Vou ser sincero: 99% dos passageiros não têm o hábito de usar o cinto no banco traseiro. Não pedem, não perguntam se é preciso usar. Mas, uma vez, ia levar um passageiro para o aeroporto e ele disse que queria pôr o cinto. Eu falei que não precisava, mas ele insistiu e fui obrigado a arrumar", conta, admitindo que só deixa os cintos prontos em época de vistoria pela BHTrans.



Consciência
Uma constatação interessante foi o cuidado de quem tem filhos pequenos. "Eu tenho criança. Então uso e faço com que usem também. O problema é que o cinto do meu carro é abdominal. Mas, mesmo assim, é importante: em uma pequena freada já segura", diz a bailarina Gabriela Christofaro. "Eu uso e meus dois meninos também usam. Não é demagogia. Acho importante mesmo", concorda a empresária Elda Corrêa. "Eu uso na frente e usaria se andasse atrás também. Se o cinto está aí é porque há necessidade. Não está aí para enfeite", acrescenta o taxista Dalton Rodrigues, mostrando os cintos perfeitamente ajeitados no banco de trás.

E, de fato, enfeite não é. De acordo com o engenheiro José Henrique Senna, presidente do Congresso da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE) Brasil 2007, que este ano abordará, em novembro, o tema segurança, é fundamental que a cultura do uso do cinto mude, e rapidamente. "As pessoas realmente não usam, mas é importante que saibam que, num choque, o passageiro que está atrás é projetado contra o que está no banco dianteiro. Em uma batida frontal, por exemplo, a 60 km/h, uma pessoa de 60kg passa a pesar uma tonelada. Imagine o que é isso", explica. Senna acrescenta que quando há a colisão, a pessoa, solta no carro, é impulsiononada para cima e depois para a frente, com risco de bater a cabeça no teto, além de lesionar a medula. "No hospital Sarah Kubitschek, referência em tratamento de traumas, 70% das vítimas de acidentes de carro e que estavam no banco traseiro, sem cinto, têm lesão na medula. Sem contar os que morrem", continua.

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