Já está no forno nova resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que pretende tornar obrigatórios os cintos de segurança de três pontos e os encostos de cabeça para todos os ocupantes de veículos. Por enquanto, esses equipamentos só são exigidos para os assentos frontais e traseiros laterais, deixando o passageiro que ocupa o assento traseiro central – apenas com cinto subabdominal e sem apoio de cabeça – muito mais vulnerável no momento de um acidente.
“Existe uma grande diferença entre o cinto de três e o de dois pontos (subabdominal). Num acidente, o peso do corpo pode ser elevado entre 20 e 50 vezes. Imagine a violência que é isso. E, quando o ocupante está usando um cinto de três pontos, a força é dividida entre esses três pontos, enquanto que com o cinto subabdominal (que, aliás, tem que passar na pelve, abaixo do abdome) toda a força é concentrada na região pélvica, além de o restante do corpo sofrer um violento impacto para a frente, prejudicando a coluna e podendo causar séria lesão”, explicam os engenheiros Oliver Schulze, colaborador do comitê de Segurança Veicular do Congresso da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) e gerente sênior de engenharia de produto da Takata, e Vítor Gambrini, engenheiro de homologações da Takata.
“Pelas normas internacionais, um adulto, jovem, pode aguentar até 800kg distribuídos no cinto de segurança na região do tórax, o que alivia muito o que vai acontecer na pelve. Ou seja, em uma colisão os hematomas junto à pelve são reduzidos. Aliás, isso é muito importante: depois de um acidente, quando o cinto deixa aquela faixa preta de hematomas, é sinal de que funcionou e evitou que o ocupante se machucasse muito. Se o cinto não deixar marcas é porque não trabalhou ou trabalhou pouco”, completa o professor e especialista em equipamentos de retenção em veículos Celso Arruda, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp.
CHICOTE A importância do apoio de cabeça está em evitar o chamado efeito chicote, que pode resultar na quebra do pescoço. Mas os especialistas alertam que de nada adianta o carro ter o apoio de cabeça se o ocupante não ajustá-lo ao seu tamanho. “Tem que ficar o mais próximo possível da cabeça, em altura e em distância. O ideal é a distância de 1cm ou 2cm da parte de trás da cabeça. E, em altura, deve ficar o mais alto possível a ponto de chegar à parte central da cabeça”, afirma Schulze. “O apoio deve ir até a maior protuberância da cabeça. Se a cabeça é pontuda, até a ponta; se é chata, qualquer região”, explicita Arruda. “Se estiver muito alto, o apoio pode empurrar a cabeça para baixo e dobrá-la; se estiver baixo, faz a cabeça ir para a frente, provocando um minichicote”, complementa.
POBRES A presença do cinto de três pontos e do apoio de cabeça no assento traseiro central dos veículos comercializados no Brasil é mínima, principalmente entre os aqui produzidos e de menor valor. O assunto é tão preocupante que levou a associação Proteste – depois de testar no ano passado 20 automóveis nos quais só um tinha o cinto de segurança de três pontos no assento traseiro central – a encaminhar sugestão ao Contran, assim como à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de incluir o cinto de três pontos para todos os passageiros. “A vida do consumidor tem o mesmo valor, independentemente de onde ele está sentado”, afirma o advogado da Proteste David Passada, lembrando que não obteve retorno positivo das entidades.
Ao caderno Vrum, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) afirmou que a obrigatoriedade do cinto de três pontos e do apoio de cabeça em todos os assentos já foi aprovada pela Câmara Temática de Assuntos Veiculares (CTVA) e está em deliberação final pelo Contran. Contudo, não há prazo estabelecido para a conclusão do assunto, que deverá culminar na publicação de uma nova resolução (em substituição às 44 e 48, de 1998), estabelecendo tal obrigatoriedade e provavelmente dando um prazo de adequação para a indústria – especula-se até janeiro de 2016 – para que todos os modelos comecem a sair de fábrica devidamente equipados.