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Competição entre automóveis antigos revive os pegas entre calhambeques da época romântica

Esta é a terceira edição de prova realizada no Speed Park, em Franca, no interior paulista

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O tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet foi o esperado vencedor na prova dos velozes, pilotando um biposto Lincoln 1927, com motor V8 envenenado


O nome conta a história. Na época romântica do automóvel, a expressão “pé na tábua” significava andar com pressa, com o pé no piso, que era de madeira. O nome e espírito estiveram presentes em um evento com esse nome que foi realizado no Speed Park, em Franca (SP), considerada a terra do calçado. A edição deste ano, a terceria, reuniu 60 automóveis e criou categorias, na tentativa de igualar rendimentos.

Recém-ingressado no clube dos antigomobilistas, o tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet foi o esperado vencedor na prova dos velozes, com um Lincoln 1927, um biposto de época. Para bisar a vitória, o piloto mexeu no motor V8 (flathead). Sem isso, ele teria tido trabalho com Marcelo Caslini e Emílio Colonic em dois Fords Speedsters, de 1929 e 1931, respectivamente, com motores muito desenvolvidos e distantes dos originais e octogenários 40hp.



Samuel Marcantônio, um preparador de automóveis (de 83 anos) em Campinas, venceu a categoria Miscelânea II – até os nomes são divertidos – com um Ford 1934 V8.

MOVIMENTO O mais festivo e descontraído de nossos eventos antigomobilísticos, a corrida resgata antigas características do “hobby”. Ela revoga a dissimulada vaidade, as castas e possibilita que as pessoas interajam, colaborem e até (se necessário) cedam peças, ferramentas, auxiliem, aconselhem e façam algumas camaradagens. O Pé na Tábua agrega família e amigos, que apareceram em grande quantidade.



Havia uma sensacional mistura de pessoas, como em pequenos eventos. Aconteceram cenas divertidas, como uma protagonizada por Gaspar Ribeiro, de Goiânia, em Ford Roadster 1929. Ele colocou no carro um boneco lembrando o Michael Jackson e, lá pelas tantas, na curva das arquibancadas, o jogou para fora, como se fosse um copiloto caindo. Não satisfeito, na volta seguinte, ele veio em marcha a ré (!) para recuperá-lo, mas Tiago Songa (organizador do evento) resolveu o problema à altura: tirou as chaves do Ford.

Além do festivo Gaspar, os goianos estiveram presentes com João Salles em um Speedster A; e em dois carros acertados por Plínio Molinari, que humilhavam pelo suave funcionamento. A família Storani, de Jundiaí (SP), fabricante do luxuoso esportivo Concorde, homenageou o comendador João (falecido há duas décadas), o criador do modelo, com um Buick conversível, de 1933. Marcelo Bellato e Natan Oliveira, do futuro Museu Roberto Lee, de Caçapava (RS), o representaram com um Packard Roadster, de 1932, para divulgar a ideia, colher apoio à restauração das dezenas de veículos recebidas e que não têm verba orçamentária para o resgate. Levaram também o Alfa Lee, de corridas, que tem cara de Alfa e uma mistura de outras marcas. O carro foi achado em um posto próximo ao Condomínio Retiro das Pedras. O Alfa Romeo Br, clube da marca em BH, e o Museu Nacional do Automóvel tutelam um projeto para a sua restauração.

Os pegas são emocionantes e os pilotos entram forte nas curvas



MAZZAROPI Mateus Polizel, do Clube do Fordinho, foi de Fordor (1929) e Modelo T (1913). O arranjado primo do comediante Mazzaropi, o Philaderpho, levou Anastácio, um caminhãozinho Chevrolet 1930, fazendo o tipo e graça. De turma, a família Gabarra, de Ribeirão Preto (SP), apareceu em três gerações, lideradas pelo tio Darcy, aos 89 anos, conduzindo um Chevrolet de 1928. O sorocabano André Beldi apareceu com algumas raridades: um BMW Dixie, de 1928; e um Renault, de 1924.

As atenções também se voltaram para Cláudio “Palito” Vale, com um Chevrolet sedã, de 1936, preto fosco, com brilhante faixa vermelha na linha de cintura. Mineiro de BH, ele aplicou uma engenhoca vertendo óleo no carburador e cobriu o público com nuvens brancas de fumaça. Seu grupo, a Máfia da Ferrugem, tinha cinco competidores. O uberabense Mauro Correa fez bonito com um luxuoso Hudson 1925 Dual Cowl (dois para-brisas). De Barbacena, Pedro Duarte apareceu em Ford Roadster, de 1929. Mas outro uberabense, Clarkson Marzola, com uma rara picape A 1929, foi o único vencedor na prova de Marcha Lenta (em marcha lenta, o motorista desce e caminha ao lado por 100m, acertando os comandos de ignição e aceleração no mínimo de rotações, sem permitir que o motor “morra”).

Enfim, o Pé na Tábua é o mais divertido dos eventos nacionais, agregando famílias e amigos, incentivando o uso dos automóveis e fomentando a camaradagem.