Diz a lenda que um jovem senhor voltava de uma caçada acompanhado de um criado e dois cães e ao passar próximo de um lago ouviu gritos de socorro de uma linda mulher loura, que aparentemente se afogava. Movido pelo sentimento, o jovem senhor desceu de seu cavalo e se aproximou do lago. Os gritos de socorro se tornaram mais intensos e o jovem senhor, agora movido pelo impulso de humanidade, se lançou na água para salvar a bela mulher. Quando estava próximo de agarrá-la, o seu criado o segurou por trás e o obrigou a sair do lago. Já montado em seu cavalo, confirmou que a bela loura era uma sereia e pôde ouvir dela numa voz de frustração e irada: “Jovem senhor, jovem senhor, se não fosse teu criado terias sido uma presa muito fácil.”
A adaptação de um trecho da fábula se presta exatamente para o que está ocorrendo no processo licitatório para aquisição de aeronaves de superioridade aérea para a Força Aérea Brasileira. O jovem senhor é o nosso ministro da Defesa, que está se deixando encantar pela proposta do ministro da Defesa russo de incorporarmos a aeronave Sukhoi-35, sob contrato de leasing, a partir de janeiro de 2014, até que possamos participar do desenvolvimento do Sukhoi T-55.
O seu criado, formado pelo grupo técnico da Força Aérea Brasileira, já havia definido que a aeronave oferecida não é a que a Força Aérea deseja incorporar. Se por uma questão ideológica ele se deixar atrair pelo canto de sereia russo, as consequências deverão recair sobre ele.
A imprensa divulga os problemas que a Força Aérea da Venezuela enfrenta com uma frota de 24 aviões Sukhoi Su-30. Segundo divulgado, apenas seis aeronaves daquela Força Aérea estão disponíveis, por falta de suprimento. Falta de suprimento gera canibalização, com todas as suas consequências. Os russos são fracos no pós-venda. Na imprensa encontramos ainda o seguinte alerta: “O Brasil vai repetir o erro de meu país e pôr a vida de seus militares em risco se insistir em comprar aviões com base em critérios políticos e não técnicos”. Essa colocação foi feita por Mario Iván Carratú Molina, que foi diretor do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional da Venezuela.
Na fase atual, o Projeto FX-2 tem três concorrentes selecionados pela Força Aérea Brasileira, que já havia se manifestado em janeiro de 2010 pela aeronave sueca, Gripen JAS-39. Antes dessa manifestação, a Embraer já havia trazido a sua opinião. Em setembro de 2009 o seu vice-presidente para o mercado de defesa afirmou: “Avaliamos as três propostas, a pedido da Força Aérea, e vimos que a oferta da empresa sueca Saab é a que vai assegurar ao Brasil o conhecimento e a agregação de tecnologia dentro da premissa “aprender fazendo”.
Depois desses fatos as concorrentes passaram a aumentar o seu leque de transferência de tecnologia. A Boeing, que tem no certame licitatório o F/A-18 E/F, com anuência do governo americano, abriu o seu pacote de transferência de tecnologia, colocando o seu produto como o preferido até que ocorreu o desagradável fato de espionagem. Se essa é a motivação para a sua desclassificação, é bom lembrar que a espionagem ocorre em todos os países. Seria ingênuo pensar que os russos não têm os seus instrumentos.
O francês Rafale F-3 deixou de ser interessante pelo seu preço e pela ingenuidade do ex-presidente Lula, que no dia 7 de setembro de 2009 o declarou vencedor do certame, antes mesmo de os técnicos da Força Aérea terem concluídos os seus estudos.
Se por uma questão de soberania o F/A-18 E/F, avião bastante testado em combates, que é a segunda opção da Força Aérea Brasileira, for excluído, só nos restará a opção aprovada pela Força Aérea e pela Embraer, que recai sobre o JAS-39 Gripen.
Se deixar levar pelo canto de sereia russo será um ato de insensato do Ministro da Defesa. Os técnicos da Força Aérea Brasileira e o segmento de defesa da Embraer já balizaram a decisão. Decidindo com isenção e bom senso, o ministro da Defesa deverá ouvir dos irados russos: “Amorim, Amorim, não fosse o corpo técnico da Força Aérea e a Embraer, você seria uma presa fácil.”