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Corolla nacional é um perigo

Toyota faz recall de milhões de carros nos EUA e nega problema de acelerador no Brasil. Mas existem relatos de casos comprovados do sedã produzido no país

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João Sena já passou aperto de três vezes e quer formar um grupo para forçar o recall

A relação entre a Toyota e os consumidores brasileiros é bem diferente da que a empresa tem com os consumidores de outros países. Enquanto nos EUA, Europa e China problemas com o acelerador são suficientes para paralisar produção e fazer o recall de milhões de veículos, no Brasil já existem quatro casos de consumidores que passaram aperto com o carro acelerado, mas a Toyota insiste em dizer que não é caso de chamar os clientes para substituir a peça com problema. Nos quatro casos relatados, a montadora respondeu para os consumidores que o problema é o tapete, que se enroscou com o pedal do acelerador, porém nenhum deles concordou com a versão oficial.

Fontes da Toyota admitem que analisaram alguns modelos e que o problema do carro no Brasil é motivado pela fixação do tapete. Esse, aliás, foi o motivo do primeiro recall da maior fabricante de automóveis do mundo, que há três meses determinou a troca dos tapetes em 4,2 milhões de carros nos EUA. Porém, isso não foi suficiente e nesta semana outro recall foi anunciado, desta vez envolvendo mais 2,3 milhões de veículos por problemas no acelerador eletrônico (sendo que 1,7 milhão deles já constavam na primeira lista) nos EUA, e logo depois anunciou a suspensão de oito modelos: RAV4, Corolla, Matrix, Avalon, Camry, Highlander, Tundra e Sequoia. Logo depois anunciou o recall de 1,8 milhão de unidades para Europa e 75,5 mil unidades para a China.

Já no Brasil, surgem relatos de pessoas que passaram por situações muito arriscadas com o Corolla. Ontem, o Estado de Minas publicou o relato da médica Maria do Carmo Barros de Melo, que entrou em alta velocidade na Avenida do Contorno, mas que, por sorte, estava vazia. Como o carro é automático, ela conseguiu parar colocando no neutro e depois desligando na chave. O problema foi relatado para a Toyota como sendo do tapete, o que foi contestado por Maria do Carmo. Para agravar a situação e aumentar a sensação de insegurança dos proprietários do Corolla, a Toyota informou que esse foi o primeiro caso, o que não é verdade, já que outros já haviam sido informados ao fabricante.

Como o caso do médico cirurgião Niarley de Pinho Tavares, que tinha acabado de fazer uma cirurgia e estava indo de Guanhães para Sabinópolis. "Era quase meia-noite, a estrada cheia de curvas fechadas. Como eu nunca tinha tido um carro automático, pensei que o erro fosse meu quando o carro começou a acelerar e o pedal travou. Além disso, o freio endureceu e tive que usar muita força para conseguir apertar o pedal para controlar o carro. Foi quando tive a ideia de colocar no neutro e consegui parar", relata Niarley. O médico lembra que chegou a ficar com cãibra na perna por causa da força empregada no pedal de freio e a primeira atitude foi chamar um reboque e levar o carro à concessionária. Na revenda Osaka, de Ipatinga, no Vale do Aço, a resposta que obteve foi que a culpa era do tapete, que se enroscou com o acelerador. Niarley não concorda, pois disse que teria percebido depois do ocorrido que a sensação que teve é que o pedal endureceu e nada houve com o tapete. Consultada, a Toyota informou que o carro de Niarley foi inspecionado e que a presilha do tapete estava solta.

No último domingo, o administrador de empresa João Sena, 31 anos, passou sufoco dirigindo o Corolla na estrada, voltando do Rio de Janeiro. “Eu estava a 140 km/h e o acelerador travou. Na hora, eu enfiei o pé por trás do pedal e puxei. A sorte é que já tinha descido a Serra de Petrópolis e estava no retão, na parte boa da rodovia”, conta. Segundo ele, é a terceira vez que ocorre o problema com o carro automático, com apenas 20 mil quilômetros rodados. "Eu já sabia como proceder porque não tinha sido a primeira vez, mas meu coração disparou porque minha mãe estava no carro", completa.

Sena está disposto a montar um grupo de donos de Corolla irritados com o que ele chama de falta de interesse da montadora japonesa em fazer o recall no Brasil, assim como ocorreu nos Estados Unidos, Europa e China. "Engraçado é que eles mandam fazer o recall por lá e não se preocupam com a vida das pessoas por aqui", afirma. No ano passado, logo que ocorreu o travamento do acelerador pela primeira vez, João levou o carro imediatamente à concessionária Kawaii, abrindo um protocolo. "Na época, eles disseram que era o tapete. Não dei importância", afirma Sena, lembrando que o tapete é original da fábrica.

Niarley de Pinho só parou o carro com muita força, mas sentiu cãibra pelo esforço



Outro caso é da leitora Daniela Moreira Meira Lima, de Natal (RN), que enviou e-mail: "Em maio de 2009, havia acabado de comprar meu carro e, quando trafegava numa avenida movimentada, o carro disparou, não obedecendo aos meus comandos. Tive sorte, pois no momento eu era a primeira da fila parada no sinal, nem havia pedestres na minha frente. O carro começou a acelerar, eu freava e o freio não pegava. Puxei o freio de mão e a velocidade aumentou. Precisei jogá-lo em cima do canteiro central, depois de quase arrancar o freio de mão. Só aí ele desacelerou, oportunidade que tive para abrir a porta e sair, temendo o pior. Chamei um guincho, que o levou à concessionária. A Toyota do Brasil me ligou demonstrando interesse e preocupação. Depois de dois dias sua área técnica informou-me que o acelerador estava preso pelo tapete, o que não procede, pois tentei puxar a peça com o pé na hora do ocorrido e não obtive êxito".

Peça

O fabricante do problemático acelerador eletrônico da Toyota nos EUA é a CTS, com planta no estado de Indiana. Além de fornecer para Toyota, a CTS fornece para o Ford Transit chinês, que também teve a produção suspensa. Além da Ford, a CTS produz para veículos da Honda. De acordo com a Toyota do Brasil, o Corolla, único carro fabricado na planta da marca em Idaiatuba (SP), tem índice de nacionalização de 80%, mas o acelerador eletrônico é fabricado no Brasil, pela japonesa Denso, com sede em Pindamonhangaba (SP).

Orientação

Consultado como cliente, funcionário de uma concessionária Toyota enviou e-mail para a reportagem com a orientação que o gerente passou aos funcionários. No e-mail, uma série de matérias veiculadas em diferentes jornais e a informação: "Se forem questionados por algum cliente, diga que estes recalls não estão válidos no Brasil." E, se o cliente insistir, oriente-o a entrar no site da Toyota e buscar informações sobre recall”.

Como parar:

Antes de qualquer coisa, verifique se o tapete está bem fixado, tente afastá-lo ou retirá-lo, se possível;

Se, em movimento, o veículo apresentar o problema, além de afastar o tapete, encostar e desligar o veículo.

Pise com firmeza no pedal do freio, com os dois pés, sem "bombear";

Coloque a alavanca de marchas na posição N (neutro) e use o freio para levar o carro até a beira da via para desligá-lo;

Não conseguindo mover a alavanca, desligue o carro (sem tirar a chave da ignição).

Carro manual: pise na embreagem e coloque o carro no ponto morto.


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