Que o Powershift deixou de ser confiável em meio a um número crescente de falhas de funcionamento, não é nenhuma novidade. Alvo de sucessivas queixas de proprietários de carros como trepidação, superaquecimento, travamento e perda de força, com investigações já instauradas pelas justiças de São Paulo e Minas Gerais, o câmbio de dupla embreagem levou a Ford a estender a garantia de 3 para 5 anos ou até 160 mil km nos New Fiesta e EcoSport 2013/2014 e Focus 2014 problemáticos. O conturbado histórico, porém, não foi suficiente para a marca do oval azul deixar de lado as transmissões automatizadas no Brasil. Agora focada num nicho de mercado de caminhões, a Ford lança a tecnologia na linha Cargo 2017. Chamado de Torqshift, o novo câmbio de 10 ou 16 marchas, conforme seis versões com capacidade de 16 a 45 toneladas, foi desenvolvido pela engenharia local juntamente com o fornecedor Eaton. Diferentemente do Powershift, só há uma embreagem, também acionada por atuador elétrico. Mas o preço é igualmente superior ao do equivalente com câmbio manual: cerca de R$ 10 mil a mais – carro-chefe da linha, o Cargo 2429 Torqshift parte de R$ 220 mil. As vendas começam na metade de março.
Como nos carros Ford automatizados, o Torqshift oferece a possibilidade de trocas manuais engatando a posição M, com reduções ou acelerações de marcha por toque em botão na manopla. Pode-se optar entre os modos de direção Economia e Performance e um freio motor, na função L (Low), que reduz as marchas gradativamente – o que segura o Cargo em descidas. Outros recursos semelhantes aos do Powershift são o assistente de partida, que mantém o caminhão parado por até três segundos em rampas com inclinação superior a 3%, o piloto automático e o indicador de marcha no painel.
Por outro lado, a linha automatizada entre os caminhões é bem maior. São três modelos de caixa distintos: dois de 10 velocidades, combinados aos motores Cummins 6.7 de 230cv e 290cv (cavalos) de potência, sendo um exclusivo do Cargo 1723 Kolector, para uso em coleta de lixo e com duas marcha à ré – uma super-reduzida para ladeiras íngremes. A outra transmissão é de 16 velocidades e duas marcha à ré, também com aplicação específica, no cavalo mecânico Cargo 1933T com motor 8.9 de 334cv capaz de tracionar até 45 toneladas de carga.
A Ford estima que 20% dos caminhões vendidos no Brasil saiam de fábrica com câmbio automatizado, como opção cerca de três vezes mais barata do que a transmissão automática tradicional. “Por fazer as trocas de marcha sempre no regime ideal de rotação, o Torqshift padroniza o desempenho dos motoristas. Assim, aumenta a economia de combustível e a vida útil da embreagem, reduzindo os custos de manutenção. Ao mesmo tempo, diminui a fadiga do motorista no trânsito urbano e em viagens longas”, indica o gerente-geral de Marketing e Vendas da Ford Caminhões, Antonio Baltar.
LINHA Versão de entrada, o Cargo 1723 Torqshift é um caminhão médio com peso bruto total (PBT) de 16 mil kg, motor de 230cv e transmissão de 10 marchas. O 1723 Kolector Torqshift vem pronto para implementação como coletor/compactador. O também médio Cargo 1729R Torqshift, mantém o PBT de 16 mil kg com motor de 290cv e câmbio de 10 marchas, com cabine simples ou leito. Cavalo mecânico, o Cargo 1729T Torqshif tem capacidade máxima de tração de 38 mil kg, com cabine leito e transmissão de 10 velocidades. Já o Cargo 1933T Torqshift, com capacidade máxima de tração de 45.150kg, tem como diferenciais a suspensão a ar e transmissão de 16 marchas. Carro-chefe da linha, o Cargo 2429 Torqshift vem com câmbio de 10 marchas, tração 6x2, PBT de 23 toneladas e capacidade máxima de tração de 38 mil kg, custando R$ 220 mil na configuração cabine simples e de R$ 228 mil na leito.
"A Ford oferece outro diferencial importante para o transportador: o lançamento dos modelos como linha 2017 permite ao cliente aumentar o tempo de permanência do veículo na frota (a maioria dos contratos no setor exige veículos com até três anos de uso), sem contar a valorização na hora da revenda", acrescenta Baltar. Será que, com uma imagem tão desgastada do Powershift, o Torqshift irá pegar? Só o tempo dirá.