A Fiat produziu, em Betim, as últimas duas mil unidades do Uno. A versão foi denominada Grazie Mille, que quer dizer muito obrigado em italiano.
Era uma quarta-feira, dezembro de 1981, quando o primeiro protótipo do Uno foi liberado pela alfândega de Confins. Fui buscá-lo. Depois de desembaraçar os últimos papéis e retirá-lo do contêiner, fixei as placas azuis (elas impunham respeito e eram motivo de orgulho), coloquei gasolina e dei a partida. A emoção era grande e o trabalho que viria a seguir era fabuloso. Lançar um substituto do Fiat 147, que foi um fenômeno para sua época, era desafiador. Durante o trajeto de Confins à fábrica, com um carro de apoio atrás, tive o primeiro contato dinâmico com o compacto, e, como não veio camuflado, toda a atenção contra possíveis fotógrafos era pouca. Então, pé embaixo até chegar em Betim.
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Para mim, apaixonado por carros, influência provavelmente do meu avô materno, Paulo Brugnoli, italiano, que teve uma renomada oficina mecânica na capital nas décadas de 1940 e 1950, e recém- graduado em engenharia mecânica, além de trabalhar na montadora desde 1977, onde fui estagiário por dois anos, era a glória! Eu respirava Fiat dia e noite e a fábrica era a minha casa.
O Uno, como foi concebido na época e lançado em 1984, ocupou o seu lugar no mercado nacional. Um projeto moderno, com soluções inovadoras. Comparando o primeiro Uno com a unidade 371 (foram fabricadas 2 mil) do Grazie Mille, cedida para as nossas impressões, a evolução do modelo foi sempre ascendente. Quase tudo melhorou muito, tanto em qualidade de montagem quanto controle de qualidade.
ERA ASSIM O primeiro painel, quadro de instrumentos, caixas satélites com os controles dos faróis e limpadores de para-brisa, além do cinzeiro deslizante, eram tudo de bom em inovação e ergonomia. O espaço interno com bancos confortáveis e bem dimensionados, que tinham regulagem de altura conforme o curso de extensão, além do ótimo espaço para os pés para quem vai atrás, a posição de dirigir, visibilidade, estepe dentro do vão do motor, limpador de para-brisa com uma palheta, maçanetas externas aerodinâmicas, um bom handling, mecânica simples (motor 1.050cm³ e 1.300cm³), além do design da carroceria, foram a receita do sucesso. O pneu 145/80R13 diante do atual 165/70R13 era superior pelo menor contato com o solo e consequente menor consumo de combustível, além de menor esforço de direção para veículos sem direção assistida, o que no Grazie Mille é fundamental pelo sobrepeso do conjunto ar/direção no eixo dianteiro. A última versão tem ar- condicionado e direção hidráulica, algo impensável naquela época em opcionais de conforto.
EVOLUÇÃO A qualidade de engate do câmbio, que não tinha inibidor de ré, a construção e funcionalidade do trambulador melhoraram muito, mas não é a ideal. A alavanca de marchas continua com o curso longo, mas as relações de marchas/diferencial antigas proporcionavam uma dinâmica melhor, principalmente em uma topografia irregular. O ruído do câmbio, que incomodava bastante em marcha lenta e em ponto morto, não existe mais. O campo de visão dos retrovisores externos atuais evoluiu muito, assim como a regulagem manual. A fixação dos faróis e lentes das lanternas traseiras agora é eficiente, mas os faróis não tiveram um ganho em iluminação, que continua discreta. Em relação ao feixe de molas transversal de três lâminas da suspensão traseira, que atua também como barra estabilizadora, era uma solução de engenharia inadmissível na versão do Uno italiano, porém permaneceu até na última versão nacional por causa do custo.
Os motores 1.050 e 1.300 carburados eram econômicos para a época, mas não se comparam ao 1.0 Fire com injeção eletrônica, além da curva (potência/torque) superar à do antigo motor 1.300.
Outro componente que evoluiu pouco foi o corretor de frenagem, que produzia ruído, que não foi percebido na versão atual. Quando se trafegava sobre piso irregular e em frenagem de emergência com o veículo descarregado, blocava as rodas traseiras antes das dianteiras, alterando a trajetória, fato que ocorreu no Grazie. Porém, o funcionamento e a eficiência do freio de mão do atual não se pode comparar. A suspensão dianteira também nasceu com os “puntoni”, em vez da barra estabilizadora, pelo custo, e deu muito trabalho devido à alteração da reação do sistema de direção, perda na estabilidade direcional com o veículo em alta velocidade e desgaste prematuro dos pneus. No Grazie Mille, além dos puntoni, que têm construção e buchas bem mais modernas, existe barra estabilizadora.
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Emocionei-me ao dirigir a última versão do Uno, na qual a minha mente e lembranças profissionais do passado vieram à tona. Obrigado à Fiat por ter me proporcionado o contato de corpo e alma com o meu querido Uno!