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Documento - Se o Fusca falasse...

Holandês resgata história de judeu que pode ter sido o criador do Volkswagen mas teve projeto confiscado por Hitler, que incumbiu Ferdinand Porsche de desenvolver o besouro

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Josef Ganz desfila no protótipo Standard Superior, modelo que inspirou Hitler a criar o Fusca

Em 1968, o Fusca vivia o auge de sua popularidade no mundo. Distribuído pela Walt Disney Pictures, o primeiro filme da série com Herbie, o Fusca falante, foi o maior sucesso da temporada. Chamado de The Love Bug no título original, o filme contribuiu para a imagem simpática do carro em todo o mundo. Porém, um ano antes, morria na Austrália, aos 69 anos, sem desfrutar da glória e do dinheiro da criação, aquele agora apontado como o criador do automóvel mais popular da história da humanidade: Josef Ganz (1898-1967), judeu, filho de pai alemão e mãe húngara, nascido em Budapeste.

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Quem conta a trajetória de Ganz e atesta que ele realmente criou o Fusca e não Ferdinand Porsche - como a história escreve até hoje - é o jornalista e historiador holandês Paul Schilperood, que lançará dia 27 um livro com 336 páginas, 300 fotos e vários documentos, chamado Het ware verhaal van de kever: hoe Hitler het ontwerp van een joods genie confisqueerde, por enquanto só em holandês, mas que pode ser entendido como "A vedadeira história do Fusca: a concepção de um gênio judeu confiscada por Hitler".

Ganz morreu na Austrália trabalhando na Holden, subsidiária da General Motors

A obra foi editada pela Veen Magazines e, segundo Paul, há interesse em uma tradução para o português, visando, é claro, ao imenso número de amantes do Fusca no Brasil. O lançamento será no National Oldtimer Festival, na pista de Zandvort, na Holanda, onde Paul dirigirá dois protótipos restaurados, que foram criados por Ganz: o Maikäker e o Standard Superior. Além do livro, Paul conta que está negociando os direitos de filmagem com uma produtora holandesa, que fará um documentário longa-metragem internacional baseado em sua obra, provavelmente uma coprodução entre Holanda, Alemanha e França.

De acordo com a pesquisa de Paul, os primeiros traços do Fusca teriam saído da cabeça de Ganz em 1923. Além de ter feito os esboços, o húngaro cunhou o design, o nome Volkswagen, o apelido Beetle (Besouro), construiu os primeiros protótipos e propagandeou o conceito. Para isso, se valia do cargo de editor-chefe da revista Motor-Kritik, que exerceu a partir de 1928. Como jornalista, Ganz era um crítico dos veículos inseguros e antiquados e, na vanguarda da época, buscava promover um design inovador com o conceito Deutschen Volkswagen. Atacava as velhas e bem estabelecidas empresas com ironia, que brigavam com ele na Justiça e promoviam boicotes publicitários.

Paralelamente ao trabalho editorial, Ganz exercia a atividade de engenheiro. Trabalhou como consultor para a Mercedes-Benz e BMW e construiu de forma independente os protótipos que serviram de inspiração para o Fusca. O Standard Superior foi visto por Hitler no Salão de Berlim, em 1933. Logo depois, Ganz foi preso pela Gestapo, a polícia do regime nazista, e fugiu da Alemanha em 1934, no mesmo mês que Hitler assinou com Ferdinand Porsche o contrato para produção do Fusca.