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E a história do IPI se repete

Como em dezembro de 2008, o mercado de veículos parou essa semana à espera de adequação às medidas do governo. Consumidor deve ficar atento à exigência de descontos promocionais

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Versão de entrada do Ford Ka, que até segunda-feira custava R$ 23.600, passará a ter preço sugerido de R$ 21.240

Como amplamente divulgado, os veículos zero quilômetro devem ter redução de até 10% no preço ao consumidor, o que já deve valer, na prática, a partir de hoje, na maioria das concessionárias, depois de ontem ter sido um dia de espera pelas novas tabelas. Mas a grande expectativa reside em saber até que ponto as montadoras serão, literalmente, politicamente corretas e manterão os descontos promocionais que já vinham sendo praticados no mercado, além do acordado com o governo federal: na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), além de medidas para expansão do crédito e facilidade nos financiamentos, com a obrigação dos bancos de voltar a ampliar prazos e reduzir entradas.

A grande diferença em relação à redução de IPI ocorrida em dezembro de 2008 é que, desta vez, será exigida uma contrapartida das montadoras. Além de repassarem ao preço final do veículo a redução integral do imposto de que abre mão o governo, os fabricantes terão que baixar os preços em até 2,5% (veja quadro), conforme a motorização do carro. Ainda faz parte do acordo manter promoções e empregos até 31 de agosto, prazo determinado para valer a diminuição da alíquota de IPI.

Só que, na prática, nem sempre os preços comercializados seguem as tabelas sugeridas pelas montadoras. É prática comum os fabricantes oferecerem bônus para determinado modelo, o que é traduzido em preços promocionais anunciados em conjunto pela montadora e concessionária. E não é raro tais descontos beirarem os 10% sobre o preço sugerido (tabela). Assim, se as montadoras apenas fizerem a conta de reduzir o imposto mais o percentual da contrapartida sobre as tabelas divulgadas até segunda-feira e não mantiverem os descontos, corre-se o risco, em alguns casos, de os preços ficarem semelhantes aos que já estavam sendo praticados no mercado. Logo, para obter o efeito desejado, é preciso que, em cima dos novos preços, sejam mantidos os bônus. Ou, em outras palavras, que o mesmo desconto dado na tabela seja aplicado em cima dos preços promocionais que vinham sendo praticados desde o início do mês.

Só para exemplificar, se a redução fosse linear (a conta não é simples e não basta pegar o preço atual e descontar o IPI), um VW Gol geração quatro 12/13 que até ontem tinha preço sugerido de R$ 26.960, com cerca de 10% de redução (7% do IPI mais 2,5% de contrapartida da montadora), passaria a custar R$ 24.264. Só que, até ontem, devido ao bônus oferecido pela fábrica, o modelo era anunciado por R$ 24.490, ou seja, quase igual àquele que provavelmente venha a ser o preço novo. Logo, para fazer diferença, o mesmo desconto de 10% teria que incidir sobre o preço promocional, e o carro passaria a ser oferecido por cerca de R$ 22 mil.

EXPECTATIVA E essa era justamente a expectativa nas concessionárias ontem. Ainda sem receberem as novas tabelas oficiais – e sem saber exatamente qual será a política de cada montadora em relação aos preços promocionais –, a posição dos gerentes de vendas era de cautela. Aos consumidores, já na euforia pela notícia divulgada no fim da tarde de segunda-feira, estava sendo passada a informação de que as tabelas chegariam entre a noite de ontem e a manhã de hoje, restando aguardar para os fechamentos de negócio.

Além disso, também a exemplo do ocorrido em 2008, todos os veículos em estoque começaram a ser refaturados. As notas fiscais começaram a ser devolvidas, ontem, aos fabricantes, que as reenviarão com os novos preços. Os revendedores mais conscientes tiveram ainda o bom senso de contatar os consumidores que haviam comprado carros a partir de sábado – e que ainda não haviam sido pagos –, avisando das novas medidas e anunciando o inédito: que o veículo vai ser novamente faturado com preço abaixo do negociado pelo cliente.

TABELAS
A JAC Motors foi a primeira a enviar novas tabelas de preços no início da tarde da última terça-feira (22). O modelo de entrada J3, que custava R$ 37.900, passa agora a ter preço sugerido de R$ 34.990; o sedã J3 Turin passa de R$ 39.900 para R$ 36.990. Queda considerável teve o monovolume J6, de R$ 58.900 para R$ 51.990. Também a Renault, no fim da tarde do mesmo dia, já tinha a nova tabela. O preço do Clio duas portas, por exemplo, cai de R$ 25.910 para R$ 23.760; o do Logan 1.0 Authentique passa de R$ 28.610 para R$ 25.780. Já a Ford informou que toda a rede de distribuidores trabalha com a nova tabela desde a quarta-feira (23), exemplificando com o Ka, que teve redução de 10%: de R$ 23.600 o modelo passa para R$ 21.240.