A indústria automobilística brasileira tem interessantes histórias, que comprovam o espírito empreendedor de alguns aficionados. De uma delas, os personagens principais são o fazendeiro e projetista Rino Malzoni, o chefe do Departamento de Competições da DKW-Vemag, Jorge Lettry, e o designer Anísio Campos. Em 1964, eles resolveram fazer um carro esportivo, que tinha como objetivo as competições. Usando a pequena estrutura de uma fazenda em Matão, no interior de São Paulo, os três fizeram o protótipo com carroceria de aço, que logo foi substituída por outra de fibra de vidro, bem mais leve. Assim nasceu o GT Malzoni, modelo que usava mecânica DKW-Vemag.
Foram feitas 35 unidades, das quais oito eram de competição, e o restante, versão de rua. Uma das unidades de competição pertence a um colecionador de antigos de Belo Horizonte e permanece com todas as características originais. O GT Malzoni, de 1966, tem estilo inconfundível, com carroceria em fibra, que chama a atenção pelas formas aerodinâmicas. Os faróis redondos, cobertos por lentes ovais, se destacam na frente do carro, que tem ainda faróis auxiliares, por trás da grade.
Os vidros das portas e o traseiro foram substituídos por acrílico, obedecendo ao regulamento das competições da época. Apenas o pára-brisa é de vidro. Na traseira, pequenas lanternas redondas e uma enorme tampa de abastecimento rápido, para o tanque de combustível. No pequeno porta-malas, espaço apenas para o estepe.
Espartano
Por dentro, o esportivo mostra que foi realmente projetado para as competições. Tem um santantônio, para proteger em caso de capotamento, e bancos do tipo concha, revestidos em couro. O volante de três raios se destaca diante do painel simples, sem velocímetro, mas com conta-giros e marcadores de nível de combustível, de temperatura da água do motor e da pressão da bomba de gasolina. Aliás, outro detalhe interessante é a bomba elétrica, instalada atrás do banco, que assegurava volume maior de combustível, para alimentar os três carburadores.
O motor do GT Malzoni era o mesmo três cilindros de dois tempos e 1.000 cm³ de cilindrada que equipava os modelos Vemag. A diferença é que, nos carros de produção da marca, o propulsor gerava 60 cv e, nos modelos preparados por Jorge Lettry para o Malzoni, chegavam perto dos 100 cv. Com tração dianteira, câmbio de quatro marchas e pesando apenas 700 quilos, o bólido chegava fácil aos 150 km/h. O câmbio tem alavanca no assoalho e as marchas são posicionadas de forma invertida, com a primeira para trás. As rodas são de aço especial e o sistema de freios usa discos, na dianteira, e tambores, na traseira.
O exemplar do colecionador mineiro já participou de corridas no Rio de Janeiro e em Laguna Seca, nos Estados Unidos. O sucessor do GT Malzoni foi o Puma DKW, que já apresentava acabamento melhor. Em 1967, a Vemag foi vendida à Volkswagen, que, no ano seguinte, iniciou a produção do Puma.