O fim de linha em dezembro de 2013 parece não ter afetado a relação do brasileiro com a “velha senhora”. Passados quase três anos do término da produção, realizada consecutivamente no país ao longo de 56 anos, a Volkswagen Kombi segue firme e despretensiosa no imaginário popular. Boa demonstração são duas recentes histórias de amor e ódio envolvendo o modelo, que completa nesta sexta-feira 59 anos de vida no Brasil. Uma com um proprietário gaúcho. Outra, com um mineiro. Em comum, uma peruinha azul de motor traseiro arrefecido a ar e uma relação no mínimo inusitada. Comecemos pelo lado apaixonado que, por atropelo do destino teve ocorrência trágica, mas caminha para um final feliz.
À procura de uma Kombi para colecionar, o funcionário público Wilian Tadeo, 39, de Lajeado (RS), encontrou a ideal em junho de 2013: um modelo Standart ano 1974, muito parecido (e Wilian acredita até que possa a ser) com um em que ele andou quando criança. O desejo de ter uma Kombi era um sonho antigo do gaúcho, que a restaurou para transportar a então noiva, Aline, para o casamento realizado em maio deste ano. Na primeira viagem do casal para a praia, veio a surpresa. A Kombi cortou a aceleração e o motor começou a pegar fogo. “Encostei na estrada e ao abrir a tampa de trás só vi fumaça. Acionei o extintor, mas não foi o suficiente”, conta Wilian, emocionado.
Participante de fóruns de discussão na internet, Wilian decidiu então criar uma campanha virtual para arrecadar dinheiro para uma nova reforma. Intitulada Save Maria, em homenagem às duas avós do gaúcho e a própria peruinha 1974, a página na rede social Facebook comercializa adesivos com fotos da Kombi a módicos R$ 9 (veja como participar a seguir). Em quatro dias de campanha, Wilian arrecadou o valor correspondente à 30 adesivos. “Como todo mundo chama a Kombi de vovozinha, decidi colocar o nome de Vó Maria nela. Estou juntando dinheiro aos poucos”, explica.
Na direção oposta à paixão do gaúcho, um mineiro de Santo Antônio do Monte, na Região Centro-Oeste do estado, decidiu entrar na Justiça contra a Volkswagen para se desfazer de sua Kombi 2013/2014. A razão alegada foi propaganda enganosa para a série especial Last Edition, que marcou o fim de produção do modelo. Inicialmente a Volkswagen anunciou que só faria 600 unidades, mas depois dobrou a fabricação para 1.200. O que jogou por terra os R$ 85 mil pagos pelos primeiros compradores da Last Edition – com a ampliação da série, o valor pedido nas concessionárias chegou a despencar a até R$ 61 mil.
No processo, que cabe recurso, a Volkswagen foi condenada pela 16ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a devolver os R$ 83 mil pagos pelo mineiro, que ficou comprometido de devolver sua Kombi Last Edition à montadora.
SÉRIE ESPECIAL Em sua defesa a Volkswagen alegou que o anúncio do aumento da produção ocorreu em setembro de 2013, antes da aquisição pelo consumidor. Afirma também que o preço da venda não estava condicionado ao número de unidades. Ao julgar o recurso, o desembargador Otávio de Abreu Portes, ressaltou que não há evidências de que o consumidor adquiriu a Kombi ciente de que a produção seria dobrada. “A versão Last Edition foi imaginada para satisfazer uma clientela específica, notadamente colecionadores interessados em adquirir aquela que seria a última linhagem do automóvel, cuja comercialização seria interrompida”, observa o relator, ressaltando ainda a diferença de preços de então entre a versão Standart, de entrada (R$ 47.833), e a série.
A Last Edition se destaca por trazer pintura azul e branca (estilo saia e blusa) na carroceria e forração interna do acabamento, cortinas nas janelas laterais e vigia internos, calotas e rodas na cor branca, além de adesivos com o número 56, tempo de produção da Kombi no Brasil, e uma placa de identificação para cada unidade produzida. O motor era o mesmo 1.4 flex de 78cv/80cv (cavalos) de potência e 12,5/12,7kgfm de torque, abastecida com gasolina e etanol na ordem, com câmbio manual de quatro marchas.
Consultada pelo VRUM, a Volkswagen declarou, após a publicação da matéria, que foi notificada, fez um acordo com o cliente e irá cumprir a decisão. Segundo o TJMG, a montadora ainda não se manifestou na movimentação processual. O resultado da ação foi publicado em 26 de agosto.
SERVIÇO
Campanha Save Maria
Adesivo a R$ 9
Conta para depósito: Caixa Econômica Federal 1319762 operação 013
Página no Facebook: www.facebook.com/SAVE-MARIA-1755236388097166/
*O autor da campanha pede que o depositante envie foto do recibo de depósito com o respectivo endereço