Nem mesmo a recente crise entre Brasil e Bolívia afetou o consumo nacional de gás natural veicular. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), em setembro e outubro foram registrados recordes nas vendas de GNV no Brasil. O consumo do combustível atingiu 44,5 milhões de metros cúbicos (m3) diários, sendo que desse total a maior parte (66%) é comercializada no Sudeste.
E com o crescimento nas vendas do GNV, aumentam também os índices de poluição? Especialistas garantem que não. De acordo com o professor Ramón Molina, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, o GNV é o combustível gasoso que apresenta a combustão mais completa. No que diz respeito à emissão de poluentes, os principais vilões do gás natural são monóxido de carbono e hidrocarbonetos, e, em menores proporções, os aldeídos.
O Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG realizou recente pesquisa para atestar a qualidade de funcionamento e níveis de emissões de poluentes em carros movidos a GNV. De acordo com Ramón Molina, 30% dos veículos pesquisados estavam com o kit de conversão mal instalado e com emissão de poluentes igual ou superior aos motores a gasolina. Mas o professor revela que, depois de regulados os kits, os motores passaram a apresentar níveis mais baixos de emissões.
“Quando os kits são bem regulados, o veículo movido a GNV polui muito menos que os a gasolina e álcool. Mas os carros que já saem de fábrica adaptados para o uso de gás apresentam resultados melhores ainda”, afirma Molina. Ele acrescenta que algumas oficinas especializadas em conversões, ao instalar o kit, deixam a mistura (ar/combustível) mais rica para garantir melhor funcionamento, mas com isso acabam fazendo com que o carro polua mais.
Cancerígeno
Quanto à emissão de formaldeído, substância cancerígena, Ramón Molina afirma que os carros a GNV liberam quantidade tão pequena que não há por que se preocupar. “Mesmo nos casos de kits mal-instalados”, acrescenta. Os carros a álcool e gasolina liberam mais formaldeído do que os a gás natural. Para Molina, a preocupação maior é com o monóxido de carbono e os hidrocarbonetos, que são liberados em maiores quantidades na atmosfera pelos veículos a álcool e a gasolina. “Só será possível reduzir a emissão desses gases com o uso de motores elétricos ou os eletrônicos a diesel, considerados propulsores ecológicos”, afirma o professor.
Ramón Molina é um confesso defensor do carro movido a GNV, pois acredita que é uma saída viável para se poluir menos. Mas reforça que é preciso que o combustível seja usado em veículos com motores eletrônicos, ou seja, que já saem preparados de fábrica, e não os adaptados.
Alfredo Castelli, diretor de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), compartilha da mesma opinião do professor da UFMG. Ele concorda que as conversões malfeitas fazem com que aumente a emissão de monóxido de carbono e hidrocarbonetos, mas nada que seja alarmante. Quanto ao formaldeído, Alfredo ratifica que os carros movidos a GNV liberam quantidade tão pequena da substância que dispensa preocupações.