UAI

Grandes erros: veja 5 carros cujos fabricantes se arrependeram de ter lançado

Decisões equivocadas da indústria automotiva resultaram em automóveis rejeitados pelos consumidores

Publicidade
Ford Maverick é um dos carros nacionais fracassados
Ford Maverick é um dos carros nacionais fracassados Foto: Ford Maverick é um dos carros nacionais fracassados

Decisões comerciais têm enorme peso: afinal, podem causar prejuízos milionários. Mas o caso é que erros nesse tipo de situação ocorrem em empresas de vários setores, inclusive nas do ramo de automóveis. Por mais que os fabricantes se cerquem de pesquisas e números, praticamente todas elas já enfrentaram fracassos. E, claro, também há exemplos entre os carros nacionais.

Grandes erros comerciais: veja 5 carros fracassados

O listão de hoje é exatamente sobre esses modelos, que foram frutos de más decisões, uma vez que acabaram fracassando no mercado. Esses 5 carros nacionais foram produzidos por diversas marcas e em diferentes momentos. Confira!

1- Volkswagen Variant II

Volkswagen Variant II 1981 de frente estacionada com jardim ao fundo
Ao contrário do modelo de primeira geração, a Variant II teve vendas pífias (Foto: Arquivo EM)

O ano era 1974: a Volkswagen lançava, no Brasil, o Passat. Tratava-se do primeiro dos carros nacionais da marca a dispor de um (então) moderno motor dianteiro e arrefecido a água. A ousadia parece ter agradado, e o modelo logo conquistou espaço no mercado.

Todos os demais veículos da Volkswagen utilizavam o confiável, mas já ultrapassado, propulsor boxer a ar posicionado na traseira. Inclusive a Variant, que dominava o segmento de peruas, mas começava a dar os primeiros sinais de cansaço. Era necessário um novo produto para atuar nessa categoria.

A multinacional já tinha, na Europa, uma station wagon derivada do Passat. Porém, em vez de nacionalizá-la, preferiu desenvolver localmente uma nova Variant, às custas de grandes investimentos. A perua, que manteve o motor traseiro a ar, chegou em 1977, mas não agradou: as vendas foram quase três vezes menores que as da antecessora.

A Variant II saiu de linha depois de apenas três anos e pouco mais de 40 mil unidades produzidas. O erro estratégico custou à Volkswagen a liderança de vendas no segmento de peruas, tomada pela Ford Belina, que também havia ganhado uma nova geração. A fabricante só conseguiu recuperar o mercado anos mais tarde, com a Parati, que, tal qual a concorrente, tinha motor dianteiro com arrefecimento a líquido.

2- Ford Maverick

Ford Maverick GT 2.3 de frente estacionado
Hoje, o Ford Maverick é um antigo desejado, mas não fez sucesso quando era novo (Foto: Arquivo EM)

Eis um dos casos de bastidores mais conhecidos da indústria automobilística brasileira. Na década de 1970, a Ford precisava de um modelo intermediário entre o Corcel e o Galaxie para compor a gama de carros nacionais. A escolha recairia entre duas opções: o europeu Taunus e o estadunidense Maverick.

A Ford fez até uma clínica (espécie de pesquisa com consumidores) com esses dois carros. E o escolhido pela maioria foi o... Taunus! Entretanto, esse modelo tinha um sistema de suspensão mais complexo, que resultava em maior custo de produção. Além disso, não comportava um motor de seis cilindros de origem Willys, que a multinacional pretendia reutilizar no novo produto.

Assim, ignorando a preferência dos clientes, a Ford lançou, em 1973, o Maverick. Hoje, esse modelo é desejado no mercado de carros antigos, mas o fato é que, quando novo, ele não vendeu bem. Um dos culpados era justamente o velho motor Willys, que conseguia a "proeza" de ter alto consumo de combustível e baixo desempenho. Havia ainda um V8, esse sim performático, mas também beberrão.

Para piorar, o ano de 1973 ficou marcado pela primeira crise do petróleo, que elevou abruptamente os preços dos combustíveis. Finalmente, em 1976, a Ford lançou um novo motor 2.3 de quatro cilindros, que caiu muito bem no Maverick e que poderia ter equipado o Taunus. Mas era tarde demais: o modelo mal alcançou a marca de 100 mil unidades fabricadas e saiu de linha já em 1978.

3- Peugeot 207

Peugeot 207 azul de frente em movimento em rodovia
O 207 nacional era apenas um 206 reestilizado (Foto: Peugeot/Divulgação)

Muita gente não se lembra, mas o Peugeot 206 obteve bom desempenho comercial no Brasil. Em 2003, chegou a figurar no ranking dos 10 automóveis mais vendidos do país. Portanto, quando o hatch começou a ficar ultrapassado, seria natural substituí-lo pelo sucessor 207 por aqui, certo? Para o fabricante, a resposta foi um sonoro "não".

Em vez de nacionalizar o 207 europeu, que tinha projeto inteiramente novo, a Peugeot decidiu apenas atualizar o 206 para o mercado nacional. O hatch chegou em 2008 com a mesma identidade do "irmão" mais novo, mas trazendo apenas dianteira e painel redesenhados. Assim, passaram a existir dois carros distintos com o mesmo nome: um mais avançado e o outro mais simples, este só para a América Latina.

O tempo mostrou que, para a Peugeot, teria sido mais vantajoso investir um pouco mais e produzir o 207 propriamente dito. É que o hatch compacto sofreu um verdadeiro tombo nas vendas. E os outros carros nacionais aos quais ele deu origem tiveram destino semelhante: o sedan Passion e a picape Hoggar também não decolaram.

No fim das contas, o insucesso da gama 207 afetou seriamente a própria Peugeot, que sofreu uma grande redução de participação no mercado brasileiro. Em 2013, a fabricante enfim substituiu o 207 pelo 208, novamente alinhado à gama europeia. A segunda geração do modelo, também global, estreou em 2020 e, neste ano, ganhou opção de motor 1.0.

Assista ao vídeo e conheça o Peugeot 208 atual, que é "herdeiro" do 207:

https://www.youtube.com/watch?v=uywQ1_wpFIU&t=233s

4- Chevrolet Vectra GT

Chevrolet Vectra GT vermelho de frente
Na prática, modelo não era Vectra, nem GT (Foto: Chevrolet/Divulgação)

Um dos carros nacionais mais controvertidos já lançados pela Chevrolet foi o Vectra de terceira geração, lançado em 2005. É que, enquanto as duas linhagens anteriores tinham projetos alinhados aos dos similares europeus, a última era baseada na gama Astra do velho continente. E ainda por cima havia recebido simplificações tanto na plataforma quanto no acabamento interno.

De qualquer modo, apesar dessas limitações, o caso é que o sedan fez relativo sucesso. Não chegou a alcançar o êxito comercial da geração anterior, mas conseguiu manter uma boa participação no mercado. Afinal, o Vectra tinha tradição no segmento e havia ficado mais espaçoso, graças à enorme distância entre-eixos de 2,7m, similar à da Zafira. Mas eis que a Chevrolet decide criar uma derivação hatch...

O novo membro da gama chegou ao mercado em 2007, batizado de Vectra GT. Verdade seja dita, ele ficou bonito, mas o visual agressivo não fazia jus ao comportamento dinâmico, item primordial em um hatch médio. O motor 2.0 e o entre-eixos eram os mesmos do Astra nacional, que tinha preço mais baixo e, ainda por cima, levava vantagem em desempenho, devido ao menor peso.

Além da forte concorrência interna, o Vectra GT também foi ofuscado por rivais de outras marcas, como o Ford Focus de segunda geração e o primeiro Hyundai i30, ambos com motores mais potentes e com sofisticadas suspensões traseiras do tipo multilink. Com vendas pífias, o hatch da Chevrolet saiu de linha já em 2011 e, hoje, está praticamente esquecido.

5- Fiat Linea

Fiat Linea Absolute 1.9 prata de frente em movimento
Problema do Linea não estava no projeto, e sim no posicionamento de mercado (Foto: Fiat/Divulgação)

A decisão errada da Fiat com o Linea não foi propriamente com o projeto, e sim com o posicionamento dele no mercado. Afinal, o sedan era derivado do compacto Punto, mas tinha uma distância entre-eixos alongada, para ampliar o espaço interno. Essa característica, associada a incrementos no acabamento, fez com que o fabricante pensasse que seria possível vendê-lo como um modelo médio.

Em termos de conceito, portanto, o Fiat Linea tinha características semelhantes às de outros carros nacionais, como os atuais Honda City e o Volkswagen Virtus. Porém, na época, o preço estava mais para Civic e Toyota Corolla, que ofereciam espaço interno e padrão de construção nitidamente superiores.

Outra desvantagem em relação aos sedans médios "de verdade" era a ausência de câmbio automático: no lugar dele, o Linea oferecia o sistema automatizado Dualogic, que tinha funcionamento (bem) menos suave e má fama quanto à manutenção. Para piorar, a Fiat sequer havia conquistado clientela cativa nesse segmento, já que as vendas do antecessor Marea haviam sido pífias.

A estratégia comercial mostrou-se ineficiente logo após o lançamento, em 2008. A Fiat chegou a admitir o equívoco em 2014, durante a apresentação de uma reestilização do Linea, que veio acompanhada de reduções de preços. Tarde demais: o sedan saiu de linha em 2016, com cerca de 70 mil exemplares emplacados no país.