Pela primeira vez na história, os três grandes fabricantes de veículos dos Estados Unidos - Ford, General Motors e Chrysler (hoje dentro da Stellantis) - entraram em greve simultaneamente. Após o fracasso das negociações, o United Auto Workers (UAW), o sindicato dos funcionários da indústria automotiva americana, oficializou a greve.
De acordo com Shawn Fain, presidente do sindicato, uma unidade fabril de cada marca declarou greve: a unidade de Wentzville (Missouri) da General Motors, a fábrica de Toledo (Ohio) da Stelantis e a unidade de Wayne (Michigan) da Ford, mas apenas nas operações finais de montagem e pintura, que são essenciais.
Dos 150 mil trabalhadores representados pelo sindicato, 12.700 funcionários estão em greve nessa sexta-feira. O UAW exige um aumento salarial de 36% em quatro anos, enquanto as três montadoras americanas não ultrapassaram os 20% em suas contrapropostas, de acordo com o sindicato.
Os grupos gigantes históricos de Detroit também se recusaram a conceder dias adicionais de férias e a aumentar as pensões, pagas por fundos específicos de cada empresa. "Não permitiremos que as 'Três Grandes' prolonguem as discussões durante meses", advertiu Fain durante a semana que culminou na greve.
Muitos trabalhadores afirmam que as empresas do setor devem apresentar propostas melhores para compensar os salários pequenos e os cortes de benefícios após a crise financeira de 2008. O colapso financeiro levou tanto a GM como a Chrysler, que agora pertence ao grupo Stellantis, ao caminho da reestruturação, pois ambas estiveram próximas da falência.
"Esta empresa vem ganhando dinheiro graças ao nosso trabalho", disse Paul Sievert, que trabalha na fábrica da Ford em Wayne há 29 anos. "Acho que é hora de recebermos algo em troca".
O CEO da Ford, Jim Farley, questionou o líder dos grevistas na quinta-feira:
"Não sei o que Shawn Fain está fazendo, mas não está negociando o contrato conosco quando está a ponto de expirar. Mas sei que está ocupado preparando uma greve".
Greve é risco eleitoral para Biden
Um conflito social prolongado como essa greve poderia ter consequências políticas para o presidente Joe Biden, cujo balanço econômico é alvo de críticas, em particular devido à inflação persistente no país.
Em campanha para a reeleição em 2024, Biden entra em território delicado e precisa estabelecer um equilíbrio entre seu apoio declarado aos sindicatos e o temor a respeito das consequências para a economia americana da greve.
Na quinta-feira à noite, o presidente conversou por telefone com Fain e os executivos das montadoras para receber informações sobre as negociações. "Os consumidores e comerciantes estão, em geral, relativamente protegidos dos efeitos de uma greve curta", explicou o vice-presidente da consultoria AEG, Tyler Theile.
Porém, com estoques que representam 20% do que a indústria tinha em 2019, durante a última greve da GM, "poderiam ser afetados muito mais rapidamente" do que há quatro anos, afirmou.
Analistas do JPMorgan acreditam que um forte aumento nos salários teria um impacto nos preços de venda dos veículos, levando os motoristas a "manter seus carros por mais tempo" em vez de comprar um modelo novo. (Com Agência France Presse)
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