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Entenda o imbróglio do teste do Renegade no Latin NCAP

Modelo ganhou apenas 1 estrela, das 5 totais, nos testes de segurança. No entanto, unidades usadas têm configuração que não é mais vendida

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Dianteira revela que o Renegade usado nos testes de impacto era pré-reestilização
Dianteira revela que o Renegade usado nos testes de impacto era pré-reestilização Foto: Latin NCAP/Divulgação

Na última semana, o Latin NCAP publicou os resultados dos testes de segurança do Jeep Renegade, que obteve a classificação de apenas 1 estrela, de 5 possíveis. O mau resultado veio junto de uma polêmica, onde as duas unidades usadas nos testes de impacto (frontal e lateral) pertenceriam a uma configuração que já não existia no mercado.

O que denunciou este "atraso", inicialmente, foi o visual do Renegade, anterior à reestilização aplicada no Brasil (onde o modelo é fabricado e distribuído para a Região) em fevereiro de 2022. Mas o mau resultado no Latin NCAP não teve relação com o design, mas porque as unidades testadas estavam equipadas somente com airbags frontais (para motorista e passageiro).

É que, no teste de colisão lateral, a proteção aos passageiros da frente foi classificada como marginal. A Jeep foi consultada, tendo informado que, atualmente, todas as unidades fabricadas (para o mercado brasileiro ou para exportação) estão equipadas com 6 airbags (frontais, laterais e de cortina).

Unidades testadas eram do início de 2022

A partir do número do chassi das duas unidades usadas foi possível apurar que uma delas foi produzida em fevereiro de 2022 e a outra em março de 2022. De acordo com a Jeep, eles fazem parte de uma última remessa de modelos "antigos", ou seja com visual e configuração pré-reestilização.

Um ponto estranho é que, em uma busca nos sites comerciais da Jeep de todos os países da Região da América Latina e Caribe, a carroceria anterior à última reestilização está presente em três países: Panamá, Suriname e Venezuela. No site oficial do Panamá, o Renegade ainda é oferecido com motor 1.8 e com apenas dois airbags.

Latin NCAP escolheu mal o Renegade?

Ao divulgar os resultados de um modelo cuja configuração deixou de existir, o Latin NCAP deixa de prestar o serviço que deveria. No entanto, de acordo com Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP, o processo de compra de um carro paras os testes de segurança envolve alguns cuidados. Uma das premissas é localizar no mercado qual é a versão mais básica de segurança passiva, que no caso do Renegade estava disponível no mercado de cinco países da Região.

A partir daí, o Latin NCAP pergunta diretamente aos concessionários de cada mercado se essa unidade não passará por melhorias e atualizações durante o próximo. No caso do Renegade, entre um e dois concessionários em cada um dos cinco mercados responderam que aquele era o Renegade modelo 2023, e que não havia mudanças esperadas na versão mais básica.

Após localizar o modelo e confirmar essas respostas, o mercado com a disponibilidade de estoque mais próxima e os custos mais baixos é escolhido para obter as unidades da forma mais rápida e econômica possível, motivo pelo qual as unidades do Renegade foram adquiridas no Panamá.

Jeep não teria prestado informações ao Latin NCAP

De acordo com o Latin NCAP, quando informou à Jeep que adquiriu os veículos para os testes de segurança, não foi informada que a versão atual mais básica tinha mais airbags. De acordo com Alejandro Furas, a partir da nota baixa obtida, a Jeep pediu para que o Latin NCAP não publicasse o resultado. No entanto, tudo o que o Programa de Segurança testa deve ser publicado.

Como em outras ocasiões, o Latin NCAP ponderou que poderia adiar brevemente a publicação do Renegade de 1 estrela até que a versão mais equipada fosse testada, publicando assim os resultados de ambas as versões ao mesmo tempo. Para deixar claro, o secretário geral do Latin NCAP se refere a um teste patrocinado, onde o fabricante arca com os custos. Porém, a Jeep rejeitou essa possibilidade.

Por fim, Furas relata que a Jeep tem sido excepcionalmente lenta no fornecimento de informações e na cooperação com o Latin NCAP, a ponto de dar a entender uma intenção explícita de complicar ou atrasar o tempo de publicação dos testes, não sendo essa a primeira vez que isso acontece com este grupo (se referindo à Stellantis).

Segundo o secretário geral do Latin NCAP, o veículo estava pronto para ser testado em fevereiro e poderia ter sido concluído em meados de março, mas a manobras fizeram com que a publicação fosse adiada para julho.

Ao editor do Vrum, Boris Feldman, a Stellantis informou que foi o Latin NCAP, após perceber que comprou um veículo ultrapassado, pediu para que a dona da marca Jeep fornecesse um modelo novo para os testes, porém assumindo os custos para a sua execução, algo em torno de US$ 500 mil. A oferta foi recusada.

Resultados do Renegade são válidos?

Teste de segurança do Latin NCAP com o Jeep Renegade.
Unidade foi adquirida no Panamá

Nós levantamos a hipótese de que, se no teste do Latin NCAP as unidades do Renegade estivessem equipadas com airbags laterais e de cortina, voltados justamente para os impactos laterais, talvez a proteção teria sido mais eficaz.

E, ao fazer a afirmação a seguir, o Latin NCAP parece corroborar com essa hipótese: “O impacto lateral mostrou boa proteção para o corpo, mas proteção marginal para a cabeça, provavelmente explicada pela falta de proteção lateral padrão“. No entanto, ao ser perguntado diretamente sobre essa hipótese, Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP, discordou:

"Nós discordamos. O Latin NCAP demonstrou repetidamente a presença de itens de segurança que não oferecem a proteção prometida. O Latin NCAP baseia sua opinião e seus resultados em testes científicos e objetivos. Portanto, a resposta é não. Até que seja avaliado em testes, não é possível concordar com essa opinião. Sem ir mais longe, a Fiat Strada cabine dupla, que é um dos produtos mais populares da Stellantis, oferece airbags laterais que, segundo os testes do Latin NCAP, não oferecem a proteção para a cabeça prometida e anunciada pela marca aos consumidores".

Furas reconhece que em alguns mercados, como o Brasil, o equipamento básico seja diferente, mas argumenta que o Latin NCAP e não o NCAP de um país específico. "Os fabricantes estão bem cientes das regras a esse respeito. "Quando o Latin NCAP concorda em comprar um modelo com a facilidade com que o fez nesse caso, qualquer consumidor poderia tê-lo comprado e é por isso que o Latin NCAP o avalia, seja o Renegade ou qualquer outro modelo. Se um consumidor pode comprar um determinado modelo sem esforço, o Latin NCAP pode avaliá-lo".

Confira a opinião de Boris Feldman sobre esse assunto:

https://dai.ly/k7gydJa4rGyXu9zhGnc