Proprietário de automóvel é o próprio otário. Pelo menos é o que pensam as empresas que aproveitam seu desconhecimento técnico para enfiar a mão sem dó nem piedade em seu bolso. E a receita pouco ortodoxa de faturamento não se restringe a algumas poucas oficinas, pois quase todas - sejam ou não de concessionárias - aplicam a 'fórmula'. E insistem em cobrar por duas operações completamente desnecessárias, alegando até que a recomendação vem da própria montadora. O que é outra mentira. No caso das concessionárias, elas nem perguntam ao cliente se podem ou não realizar o serviço: já o incluem automaticamente na relação de itens da revisão, obrigando o dono do carro a pagar sem nem saber exatamente do que se trata. E, quando ele o questiona, o recepcionista da oficina está treinado para convencê-lo 'tecnicamente' da necessidade do serviço: o que pouca gente sabe é que ele está aumentando o seu próprio salário, pois é comissionado pelo faturamento dos serviços que consegue 'vender'.

Primeira mentira

É mais antiga, a limpeza de bicos (válvulas) injetores. Sob alegação de que o combustível não tem qualidade, que a gasolina é adulterada com solventes, as oficinas cobram cerca de R$ 100 pelo 'serviço' desnecessário e que não é recomendado por montadora alguma. Essas, aliás, jamais incluíram a limpeza de bicos na relação de itens das revisões e algumas até afirmam que eles são autolimpantes. Basta conferir no manual do proprietário.

A idéia desta operação vem dos antigos carburadores, que realmente entupiam e eram fonte de problemas, exigindo limpeza constante. Com a introdução da injeção eletrônica, o problema acabou, mas as oficinas inventaram uma boa desculpa para limpar o bolso do cliente.

O argumento mais utilizado pelos ‘consultores técnicos’ (denominação moderna dos antigos recepcionistas da oficina) é que a limpeza é preventiva. De que o motor não apresenta problema hoje, mas, com certeza, vai deixar o motorista e toda a família na beira da estrada com o ‘entupimento do bico’.

Só se justifica a limpeza do bico injetor quando o motor está engasgando, com marcha lenta irregular, consumo elevado, desempenho prejudicado, etc. Caso contrário, é conversa para boi dormir...

Segunda mentira

Não satisfeitos em enfiar a mão no bolso do cliente com a limpeza de bicos, a criatividade das oficinas descobriu um outro filão para faturar sem necessidade. E tome mais R$ 100 para a ‘descarbonização’ do motor. Sob a mesma alegação de combustível de má qualidade, os ‘consultores técnicos’ conseguem convencer quem leva o carro para a revisão de que se trata de outra operação importante para evitar problemas ‘no futuro’.

Assim como o problema dos bicos, a carbonização pode também ocorrer dentro do motor, mas jamais a cada 10, 15 ou 20 mil quilômetros. A menos que o carro tenha realmente sido abastecido com uma gasolina de péssima qualidade, o que vem ocorrendo recentemente só nos postos do eixo Rio-São Paulo.

Além do mais, nem a limpeza do bico nem a descarbonização do motor são feitas com um líquido ‘mágico’ injetado motor adentro, mas exigem uma cuidadosa operação que, feita de verdade, inclui a desmontagem de vários componentes mecânicos.

E para você, qual mentira merece o "Pinóquio do Ano 2006"? Comente no FORUM!