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O maior pão-duro do mundo é a grande atração no estande da VW no Salão de Genebra

Evento termina amanhã. Faz mais de 100km/l, tem cara de carro-conceito, mas vai ser fabricado em série. O segredo do compacto pão-duro não está apenas na motorização híbrida, mas no reduzido peso, excepcional aerodinâmica e centro de gravidade muito baixo

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Seus estilistas não pensaram em beleza, mas em eficiência e, por isso, o jeitão meio desengonçado, mas cumprindo todas as recomendações do túnel de vento. Resultado: a melhor aerodinâmica do mundo


Nyon, Suíça - Manda quem pode, obedece quem tem juízo, diz o ditado. Quem mandou foi o austríaco Ferdinand Piëch, neto de Herr Porsche, engenheiro na fábrica do avô, ex-presidente da Audi e atual manda-chuva do grupo VW. Quem obedeceu foi a engenharia da matriz da VW em Wolfsburg. E o sonho de Piëch, provar ser possível fabricar um carro que roda mais de 100 quilômetros com um litro de combustível, se materializou no último Salão de Genebra, sob a forma do XL1 exposto no estande da Volkswagen. Um pequeno compacto (3,88m de comprimento) de dois lugares, híbrido, com um motor elétrico (27cv) e outro diesel (48cv) de dois cilindros.

Baixinho é divisor de águas
O primeiro protótipo do maior pão-duro do mundo nasceu em 2002, com o carro-conceito L1, também com dois lugares, mas um atrás do outro. Na evolução do projeto, a engenharia da Volkswagen acabou colocando os dois bancos lado a lado, o da direita um pouquinho atrás, para eliminar “conflitos” entre os ombros do motorista e passageiro.

O XL1 foi projetado com foco obstinadamente voltado para a redução de consumo. Por isso um dos carros de série mais leves do mundo (795kg), o mais aerodinâmico (Cx= 0,19) e mais baixo que Ferrari ou Porsche, com apenas 1,15 m de altura.
Vibrei quando surgiu a oportunidade de dirigir o modelo divisor de águas na história do automóvel, relevando algumas de suas idiossincrasias. Entre elas, que o XL1 vibra mais que o motorista...

Entrar no carro exige algum contorcionismo, tão complicado quanto se acomodar num esportivo baixinho. Aliás, a posição dentro dele faz lembrar exatamente um VW Puma: quase deitado, mas confortável. Para ter o menor Cx do mundo, o túnel de vento exigiu que os retrovisores externos fossem substituídos por pequenas câmeras que exibem o que vem atrás em pequenas telas nas portas. A preocupação com o consumo deixou a direção sem assistência. Só não é muito dura porque o XL1 é leve...

Liga-se o carro e nada acontece, típico de um elétrico. Ele sai de mansinho e o engenheiro da VW, ao lado, vai explicando como tudo funciona. Apertei o botão “EV” para que ele rode só com o motor elétrico. Mas, quando se pisa fundo no acelerador – sinal de emergência – entra também o diesel. E aí, direto do céu para o purgatório e fim da tranquilidade a bordo, pois é quase impossível tirar as vibrações do pequeno diesel bicilíndrico (TDI, 830cm³). A pergunta óbvia: um motorzinho a gasolina não seria mais suave e silencioso? A resposta ainda mais óbvia: sim, cara pálida, mas Herr Piëch quer porque quer mais do que 100 quilômetros com um litro...

A bateria (de íon-lítio, do tipo plug-in) dá ao XL1 uma autonomia de cerca de 50 quilômetros e se recarrega ao acionar os freios. Aliás, por falar em freios, jamais imaginei que um dia iria ouvir tanto barulho vindo das pastilhas pressionadas contra os discos...

Interior razoavelmente bem acabado e posição de dirigir como a de um esportivo



O câmbio é o DSG (dupla embreagem) de sete marchas já usado em vários modelos do grupo VW e que ajuda bem o motorzinho a diesel. Confesso que nem me preocupei em verificar sua estabilidade, mas não passei nenhum susto nas curvinhas mais apertadas das estradinhas próximas a Nyon, uma pequena vila perto de Genebra. A suspensão e os freios agradecem o baixo peso e seu baixíssimo centro de gravidade.

Mas assustei ao pisar fundo o acelerador numa arrancada: achei que precisaria de uma ampulheta para medir a aceleração até 100km/h, mas me esqueci que sua potência total (elétrico %2b diesel) de 75cv aliada aos apenas 800kg de peso resultam num desempenho melhor que os nossos “populares” 1.0 mais espertos. Segundo a fábrica, ele chega lá em apenas 12,7 segundos.

A aerodinâmica e o baixo peso do XL1 são decisivos para seus números impressionantes: diz a fábrica que bastam 8,4cv de potência para rodar no asfalto a uma velocidade média de 100km/h. Emissão de CO2 é a alegria dos ecochatos: 21g/km. Se você pisar fundo, ele chega a 160km/h. Mas aí, o milagre dos 111km/l com um litro vai precisar de um santo mais forte...
Finalmente, o XL1 tem jeitão de carro-conceito, mas não é: manda quem pode e a obediente fábrica da Volkswagen em Osnabrück vai produzir 250 unidades artesanalmente. Por um preço não anunciado, mas que deverá pesar muito mais do que os 800kg no bolso dos interessados...

(*) O jornalista viajou a convite da Volkswagen.