Entre os antigos nacionais, o modelo não é dos mais populares, como o Fusca e o Opala. Ainda assim, há 25 anos, o Dodginho tem uma oficina especializada em Belo Horizonte, mais especificamente no Bairro Boa Vista, na Região Leste. Lançado como Dodge 1800, ele chegou ao mercado em 1973, mas seu nome mais popular foi dado em 1976: Polara. Como a Chrysler do Brasil já tinha o imponente Dodge Dart, esta seria sua arma para brigar entre os compactos. O modelo era derivado do Hillman Avenger, braço inglês da Chrysler, e também foi fabricado na Argentina como Dodge 1500, onde ainda é figurinha carimbada pelas ruas.
Antes de abrir a Atlanta, oficina especializada em Dodginhos, Roberto Dias da Cruz acumulou seu conhecimento a respeito dos carros da marca na Comercial Lux, concessionária que vendia e fazia manutenção dos modelos Dodge, mais tarde na Emercan, autorizada da Chrysler em Belo Horizonte, e depois na Minas Gerais Veículos. Um currículo de respeito. “É um carro fácil de mexer. Muitos estranham o carburador a óleo, mas é simples. Teve um engenheiro mecânico que quebrou a cabeça para arrumar e no fim me chamou”, conta Roberto, que afirma ter facilidade para consertar qualquer componente do modelo, da caixa automática à confecção de um novo chicote elétrico, já que ele odeia resolver problemas elétricos.
Roberto lembra da época em que ainda consertava os modelos Dodge derivados do Dart – Charger, Magnum e Le Baron – e o encontro na esquina das ruas Delfim Moreira com Dona Libúrcia ficava tomado desses grandalhões. A vizinhança é que não se agradava muito disso e ficou feliz quando Roberto optou apenas pelo Dodginho, já que muitas oficinas se especializaram no Dart, que, pela veia esportiva, dava chance às preparações. Naturalmente, o mecânico também tem o compacto na garagem. Trata-se de um Polara verde, que foi reformado há uns cinco anos, mas agora já pede uma nova atenção, que Roberto espera que não demore muito. O fundador da Atlanta lembra com saudades de um Polara branquinho com câmbio automático que teve, mas acabou vendendo a um cliente.
ACERVO O mecânico conta que já ganhou Dodges de uns quatro clientes, sendo o mais marcante um Dart de luxo, cujo dono já havia gastado uma boa quantia para arrumar. “Ele trouxe a suspensão dos Estados Unidos e mandou o motor para uma retífica. Mas a mulher pressionou tanto, que ele acabou desistindo e me deu o carro. Pena que a retífica faliu e não consegui o motor de volta”, lamenta. Outra lembrança marcante foi a visita de uma cliente vinda de San Pedro de la Sierra, na Colômbia, que parou ali para fazer uma revisão. “Ela veio com o motorista e estava vestida com botas de couro, assim como o colete e o chapéu”, recorda.
Rafael Dias, filho de Roberto, também aprendeu a mexer com os Doginhos. Ele conta que compra muitas peças novas em São Paulo e que na Argentina também é possível encontrar muita coisa. Já as peças de acabamento são mais difíceis: os frisos não são fáceis de achar, mas as lanternas podem ser reformadas. A oficina tem um bom acervo de peças de reposição, como os componentes da carroceria, alguns veículos para desmonte e até peças mais difíceis do modelo 1981 (o último de fabricação), como o painel europeu e o novo carburador. “As peças são um pouco mais caras, mas nada absurdo”, avalia o filho do dono.
Rafael fez várias viagens com o Polara da família e elogiou o desempenho do motor 1.8 e da caixa de quatro marchas, “com engates macios”. Quando o motor está bem regulado, o modelo apresenta consumo baixo para um antigo: 8km/l na cidade e 10km/l na estrada. Cliente da Atlanta há mais de 20 anos, atualmente, Francisco Felinto de Lima tem três Dodginhos na garagem, modelos 1977, 1979 e 1980. Mas ele já teve outros: 1974, 1976 e 1978. Francisco confia tanto na manutenção da oficina, que já fez três viagens para Natal no carro e nunca teve problemas. “Da última vez, ida e volta deram 6.422 quilômetros”, revela.