Com os postos de combustível fechados ou com filas imensas, tem gente apelando para o álcool doméstico, geralmente usado para limpeza, para abastecer o carro flex ou a etanol. Mas pode? Depende. De acordo com o engenheiro Francisco Nigro, da Sae Brasil, é preciso ficar de olho na graduação discriminada na embalagem do produto. Se for o vendido em farmácias, com 92,8% ou 99% (que é o percentual de etanol puro presente naquele frasco, sendo o restante apenas água), pode sim, já que o etanol vendido na bomba de combustível tem percentual parecido, de 93%. “Esse tipo de álcool é tão puro, que não tem qualquer consequência para o motor do carro”, garante o engenheiro.
Mas não deixe de conferir com cuidado a embalagem, já que o álcool mais comum, encontrado em supermercados, tem 54% de álcool e o restante de água, tornando difícil sua vaporização e, por consequência, o funcionamento do motor. “Se o motor ligar, ele ficaria 'engasgando', além de estragar vários componentes do sistema de injeção, que não foram projetados para ficar em contato com essa proporção de água. Os fabricantes de veículos até trabalham com uma margem de segurança quanto às especificações do combustível, mas com uma proporção tão grande de água, o mínimo que iria acontecer seria acender uma luz de advertência no painel para indicar uma anomalia”, explica Francisco Nigro.
Pelo mesmo motivo, o uso de bebidas alcoólicas como a cachaça, que tem quase 50% de álcool, não é indicado e não faria o motor funcionar. Só para registrar, o etanol vendido no posto de combustível recebe uma dose de gasolina justamente para não ser usado para a fabricação de bebidas. Álcool em gel, nem pensar.
Também vale registrar que o álcool com índice superior a 54% só pode ser vendido ao grande público em embalagens de até 50ml, produto vendido por R$ 3,49 em uma grande rede de farmácias de Belo Horizonte. Se este é o preço de 50ml, o litro desse álcool sai por R$ 69,80, o que o torna inviável. As pessoas com quem conversamos que usaram o álcool 92,8% no carro relataram que compraram o produto em embalagens de 1 litro, vendidas por cerca de R$ 6, revelando que foram vendidas por alguém que tem acesso aos distribuidores que fornecem álcool para fins hospitalares ou industrial, que têm autorização para vender em garrafas com maior quantidade.