Em junho de 2010, o médico José Pinto Mendonça de Oliveira, morador de Itabira, na região Central, comprou um Chevrolet Captiva zero-quilômetro 09/10 com câmbio automático de quatro marchas e motor 2.4 16V de quatro cilindros. Há cerca de quatro meses fez a última revisão na autorizada. Alguns dias depois, aos 45 mil quilômetros, o câmbio parou de funcionar. “Reduzi a velocidade para passar em um quebra-molas e o carro parou. Não entrou a primeira marcha. Consegui engatar a terceira e rodei uns 30 quilômetros até chegar à cidade mais próxima, quando parou de vez”, conta.
O veículo foi levado a uma concessionária em Itabira e depois rebocado até outra em Belo Horizonte. Trocaram o óleo, o que não resolveu. O diagnóstico da fábrica foi substituir a caixa de marchas – sem garantia – por R$ 39 mil! “Disseram que apesar de saber que se tratava de um defeito de fábrica, não se responsabilizariam. Pedi então que me passassem isso por escrito, mas disseram que não poderiam”, afirma.
Um casal de Belo Horizonte, que preferiu não ter o nome divulgado, também comprou um Captiva 2.4 ano/modelo 09/10 em junho de 2010, que em torno dos 45 mil quilômetros, em novembro do ano passado, apresentou o mesmo problema. A troca de toda a caixa também foi negada em garantia e o orçamento passado para o casal, mais “ameno”, foi de R$ 25 mil. O casal fez o conserto em oficina particular, que ficou em R$ 6,8 mil.
PIOR NA V6 O empresário e DJ Jonas Brendler, do Rio Grande do Sul, também viveu situação parecida com outro Captiva, porém, 08/09, com motor 3.6 V6 (seis cilindros) e câmbio automático de seis marchas. O problema começou na marcha a ré. Mais uma vez, a solução apontada pela revenda autorizada seria a troca da caixa. Preço: R$ 30 mil. “Foi então que descobri uma oficina em São Paulo, que tinha conseguido resolver o problema. Mandei a caixa, gastei cerca de R$ 12 mil e o conserto ficou ótimo. Continuo com o carro”, finaliza.
ÁPICE A oficina a que se refere Jonas é a Automatik, especializada em câmbio automático. Um dos proprietários, Cesar Sanches, confirma que o problema é recorrente, principalmente nos Captiva V6, que ele repara desde 2012. Devido ao tempo de uso, no entanto, agora os casos começam a aparecer com mais frequência. E ele acrescenta que também já há muitas reclamações de proprietários da versão de quatro cilindros. “De 2008 a 2010 é um festival. Agora estamos no ápice das reclamações em relação ao Captiva”, afirma.
SEIS CILINDROS Segundo Cesar, o defeito que atinge os Captiva de quatro e seis cilindros não é exatamente o mesmo. “O Captiva V6 criou a fama. A transmissão é a 6T70 e a peça problemática é um disco mola que quebra bem cedo com consequências catastróficas, pois quase sempre resulta na perda total do câmbio. Essa peça tem defeito de fabricação. É mal temperada e rompe”, diz. “E a postura da GM é de não dar garantia em muitos casos e para trocar o câmbio cobram cerca de R$ 30 mil”, continua. De acordo com Cesar, a peça em questão, que é uma mola em forma de disco, não é cara (custa cerca de US$ 5). O problema é que quando ela rompe gera um efeito dominó e vai quebrando outras. “Uma mola não pode quebrar. E muitas vezes não há nenhum sintoma, o motorista não percebe. Quando chega aqui, o carro já não roda”, relata. Para resolver o problema, as peças são importadas e, especialmente no caso do disco mola, em versão atualizada, que segundo ele não dará problemas futuros. Normalmente, o conserto fica em menos de um terço do cobrado pelas revendas autorizadas porque aproveita-se a carcaça da caixa.
QUATRO CILINDROS Já o problema no câmbio dos Captiva quatro cilindros está na chamada engrenagem planetária, conforme Cesar. “É a principal engrenagem do câmbio. Uma peça que só dá problema em carros muito velhos. Mas no caso do Captiva também foi mal projetada, quebra e estraga a carcaça. Nesse caso, existe um problema de lubrificação”, afirma. Cesar explica que também nesse caso o carro para de funcionar subitamente, às vezes com alguns trancos antes da parada total. “Na quatro cilindros, o que estraga é o conjunto planetário. Estoura a arruela de agulha, que cai no meio das engrenagens e estraga tudo. Ela estoura porque há uma espécie de sobrecarga nesse rolamento”, explica outro dono de oficina, que preferiu não ter o nome divulgado. Segundo ele, normalmente é um conserto simples, que fica entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Já para as V6, a dificuldade em se encontrarem peças vem inviabilizando o conserto por oficinas particulares.
JUSTIÇA A advogada Fabiana Sobral, especializada em direito do consumidor, é de São Paulo, e já atendeu mais de 10 clientes com reclamações em relação ao câmbio da Captiva (a maioria versão V6).
PONTUAIS Em resposta à reportagem, a GM informou que considera pontuais os casos indicados pela reportagem e reitera que a rede de concessionárias e oficinas está preparada para oferecer atendimento por meio das mais de 600 revendas existentes no Brasil. (Colaborou Gabriel Contin).