Na década de 1960, o automobilismo brasileiro ainda dava seus primeiros passos. A produção nacional era incipiente e os modelos que faziam o público sonhar ainda eram os estrangeiros. Neste contexto, surgia uma das maiores lendas do setor no país. A Puma Veículos e Motores, criada pelo italiano Rino Malzoni, completou 50 anos em 2014 cada vez mais consolidada no imaginário dos brasileiros. Seus modelos, ricos em beleza e aerodinâmica, são também campeões consagrados nas pistas. Um suspiro de genialidade que encanta gerações e permanece vivo entre os amantes do automobilismo.
Foi em 1964 que Rino Malzoni criou, sobre a estrutura DKW Vemag, a carroceria GT Malzoni, primeiro Puma da história. Sem estrutura para fabricar motores e conjuntos mecânicos, Rino se aproveitava das estruturas de outras marcas e, sobre elas, construía as mais ousadas carrocerias em sua oficina. O GT Malzoni foi apenas o pioneiro da marca, que chegou a exportar para Estados Unidos e Europa.
“É imensa a relevância do Puma para o setor automotivo do Brasil. Desde o início que o carro teve grande sucesso, devido aos belos desenhos da carroceria e a excelente performance”, comenta Paulo Bom Pastor, ex-dono e amante do Puma. Apesar de ressaltar a importância do carro, Paulo lamenta o preconceito por parte de algumas pessoas: “Houve muita implicância por conta da marca não pertencer às grandes fabricantes. Além das dificuldades quanto a mecânica e preço, o Puma encontrava rejeição entre os puristas”.
Em 1972, enquanto a marca ainda se expandia, nomeou a empresa Bromer Motors como representante na África do Sul. Lá, a produção sofreu altos e baixos. Recentemente, o entusiasta Jack Wijker adquiriu os moldes da Bromer e colocou à venda a fábrica da Puma.
A história se repete?
Durante as comemorações dos 50 anos, a Puma anunciou a fabricação de um novo modelo para 2015. Sem nome definido, só se sabe que o carro terá motor 1.6 de 250 cavalos. A princípio, são apenas 25 unidades, voltadas exclusivamente para as pistas. Porém, a expectativa dos amantes é de que o modelo possa ter a produção estendida para carros de passeio, assim como ocorreu com o primeiro carro Puma, em 1964. O GT Malzoni, criado apenas para as pistas, teve tamanho sucesso que acabou ganhando versões de passeio em 1967.
Pernambuco mantém viva a tradição
Todas as quintas-feiras, a Praça de Casa Forte é a sede do encontro do Clube do Puma de Pernambuco. Composto apenas por aficionados pelo Puma, o grupo se reúne para contar histórias e exibir os carrões. Não há quem não pare para contemplar a beleza dos desenhos.
A começar pelo possante do presidente Ivomar Guimarães, um Puma GTE de 1980. Ou mesmo o GTE 1979 do vice-presidente, o fotógrafo David Max. Ele conta que a paixão pelo carro foi à primeira vista: “Estava passando pela rua quando o vi estacionado. Parei na hora, conversei com o dono e o convenci a me vender o carro. Não tinha dinheiro, mas peguei emprestado com um amigo e comprei. Não podia perder a chance”, comenta.
Afinal, desde criança que o Puma faz parte de sua vida. “Na minha infância, o Puma do meu pai era o carro que usávamos para passear aos domingos. Grande parte das minhas lembranças envolvem ele”. Aos 28 anos, David diz que não vende seu Puma por nenhuma quantia. “O Puma é o ícone maior da indústria automotiva brasileira. Nada chegou à sua altura. Além da grande performance, são carros muito bonitos, que sempre atraem os olhares por onde passam”, destaca Ivomar Guimarães, presidente do clube e um dos mais viciados pelo bólido.
LINHA DO TEMPO
1964 – Rino Malzoni cria o primeiro modelo Puma, na época chamado de GT Malzoni.
1967 – O primeiro Puma de passeio (com plataforma DKW Vemag) entra em produção, após o modelo de pistas se sagrar campeão cinco vezes, inclusive no Grande Prêmio das Américas, em Interlagos.
1967 – No mesmo ano, a DKW é comprada pela Volkswagen e é fechada. A Puma, então, passa a usar o conjunto mecânico da Karmann-Ghia.
1971 – Começa a produção da linha GTS/GTE, mais célebre entre todos os Pumas.
1975 – Da aliança entre Puma e GM nasce o GTB, com motor do Opala. É o “muscle-car” brasileiro.
1977 – O chassi da Karmann-Ghia para de ser utilizado. O conjunto da vez é o da Brasília.
1984 – Após várias crises financeiras, a Puma é vendida à Araucária Veículos e, pouco depois, tem a produção interrompida.
1987 – Os direitos da marca são adquiridos pela Alfa Metais, que cria os modelos AM1, AM2, AM3, AM4 e AMV. A produção durou até 1999.
1998 – A Ford adquire direitos sobre o nome Puma e começa a fabricar caminhões com o logotipo do felino.