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Qualidade do combustível - Se desconfiar, não hesite

Consumidor tem o direito de exigir testes nos postos de combustíveis para certificar aferição da bomba, aspecto visual e teor de álcool na gasolina, mas alguns negaram

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O posto deve manter medida padrão de 20 litros medida pelo Inmetro para saber a quantidade de combustível; proveta à esquerda comprova percentual de álcool na gasolina

Poucos sabem, mas se o motorista desconfiar da aferição da bomba ou da própria qualidade do combustível, tem o direito de exigir que o posto faça alguns testes. A reportagem de Veículos conferiu se os postos de combustíveis realmente cumprem esta determinação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Seis postos foram visitados aleatoriamente.

Metade dos estabelecimentos realizaram os testes, enquanto os outros se esquivaram, pedindo para que voltássemos no dia seguinte, pois o funcionário responsável pelo procedimento estava ausente. Porém, os que fizeram os testes souberam explicar com clareza o que estava sendo feito e qual era o objetivo de cada etapa. O objetivo não foi apurar a qualidade dos combustíveis, mas conferir se os postos estavam respeitando o direito dos clientes.

Quem fez

No Posto Niquelina (da Shell), na esquina da Avenida do Contorno com Rua Niquelina, o frentista fez cara ruim depois do pedido e perguntou se não íamos abastecer antes. A resposta foi negativa porque primeiro queríamos saber a qualidade do combustível. Sem nada dizer, ele virou as costas e dirigiu-se a ao gerente, que após poucos minutos retornou e fez o teste com boa vontade. De acordo com o gerente, Carlos da Silva Teixeira, é raro alguém pedir para fazer os testes.

João Vítor Renault, proprietário do Posto Arnaldo (da Ipiranga), na Avenida Brasil com Rua Carandaí, concordou com Carlos e disse que neste ano apenas um cliente solicitou os testes. ?Geralmente, o cliente pede quando enchemos o tanque e, por algum motivo, o marcador não se move. Já tivemos até que esgotar um tanque para provar ao cliente que o veículo, de fato, foi abastecido?, conta João.

?Muitas vezes, quando pedem, é porque o mecânico do cliente falou que o problema do carro foi causado por combustível ruim. Tudo bem, eu faço o teste, aliás, é minha obrigação. Mas como eles podem afirmar isso apenas tocando e cheirando o combustível? Para nós, as análises são feitas em laboratório?, desabafa Nivaldo Boschi Rodrigues, gerente administrativo do Posto Pio XII (da Esso), esquina das avenidas Amazonas com Contorno.

Não fizeram

Já os postos que não fizeram os procedimentos foram o BR da Avenida Bernardo Monteiro com Rua Aimorés, posto Ale, na Avenida do Contorno com Avenida Senhora do Carmo, e posto BR do Grajaú, na esquina das ruas Benjamin Jacob com General Andrade Neves. Segundo a Resolução nº 9 da ANP, o posto revendedor é obrigado a realizar a análise dos produtos sempre que solicitada pelo consumidor. Se o estabelecimento não cumprir a determinação, a multa varia de R$ 5 mil a R$ 50 mil. As denúncias podem ser feitas à ANP pelo telefone: 0800 970 0267.

Os testes

São três os procedimentos que devem ser feitos na presença do cliente. Um é para saber se a bomba de combustível fornece realmente o que está marcando. Para isso, todo posto deve manter uma medida/padrão de 20 litros devidamente aferida pelo Inmetro. O consumidor pode escolher a bomba na qual o funcionário do posto deve retirar exatos 20 litros. Para esse teste, existe uma margem de erro de 100ml para mais ou para menos.

Outra avaliação analisa o aspecto do combustível. Para isso, um litro de combustível deve ser colocado dentro de uma proveta para análise visual. Todo combustível deve ter o aspecto límpido e ausente de impurezas. A gasolina pode ter qualquer cor, menos azul. O álcool pode vaiar de incolor a levemente amarelado. O diesel no interior é avermelhado e o das grandes metrópoles, incolor a amarelado.

Por fim, o teste do teor de álcool na gasolina, para saber se o posto não está exagerando na dose. O procedimento é simples: em uma proveta de 100ml adiciona-se 50ml de gasolina e 50ml de uma solução aquosa de cloreto de sódio a 10%. Em seguida, o recipiente deve ser tampado e sua posição invertida por pelo menos 10 vezes (em vez de agitar energicamente a mistura). Depois deixa-se descansar por 15 minutos ou até a separação completa das duas camadas.

A primeira coisa que será observada é que a gasolina vai para a parte superior da proveta e a solução para baixo. Segundo, o volume referente à parte incolor da mistura vai aumentar porque o álcool que estava na gasolina será diluído na solução de água com cloreto de sódio. Desta forma, o volume da camada incolor localizada entre a marcação de 50ml e a camada de gasolina corresponde ao álcool retirado da gasolina e é sobre essa quantidade que a conta do percentual de álcool deve ser feita.

Eficácia

Sérgio Mattos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), acha que os testes realizados nos postos são válidos, porém limitados. Ele alerta que as avaliações mais elaboradas só podem ser feitos em laboratório.