O golpe da venda de carros mais baratos do que a média já é manjado em anúncios. Mas um grupo de falsários estrangeiros decidiu aperfeiçoá-lo e passou a vender réplicas de supercarros de marcas como Ferrari, Lamborghini ou Bentley a preços convidativos, sempre com a desculpa de ser uma reprodução e não o produto verdadeiro. Tudo capitaneado por uma figura chamada Rither Sanchez. O único problema é que tais modelos exibidos no site SUPERREPLICAS.COM não existem.
A reportagem entrou em contato com vítimas brasileiras do crime. “Procurei-os para encomendar uma Ferrari 458 Italia. Os depósitos começaram a ser feitos pela Western Union americana, para evitar burocracia”, relembra o empresário Wilson Almeida, de Pará de Minas, no Centro-Oeste do estado, que entrou em contato com a Super Replicas no início deste ano. Eles então enviaram recibos e contratos para Wilson. Para garantir mais depósitos, eles chegam a fazer vídeos que mostram o que seria o chassi do carro encomendado. “Foram 12 mil dólares de prejuízo, cerca de R$ 24 mil. Mas eles devem estar levantando mais, pois recebi e-mails até de Dubai”, alerta o empresário. O Oriente Médio é um dos focos de ação da quadrilha.
DENÚNCIA Wilson reuniu toda a documentação e chegou a fazer um vídeo de denúncia. Desde então, tem recebido outros relatos. É o caso de Emmanuel e Lucas, de Belo Horizonte, que estavam atrás de uma 458 Italia e de um Lamborghini Aventador. Depois de depositarem US$ 10 mil, esperaram por quatro meses e só descobriram que se tratava de um golpe depois de contratar uma importadora.
O esquema da Super Replicas do Panamá utiliza fotos e vídeos dos automóveis reais, fingindo que são réplicas muito benfeitas. Para arrematar, toma emprestado até os nomes de figuras conhecidas no mundo da personalização automotiva. Para tornar o negócio mais chamativo e dar mais credibilidade, Sanchez e sua turma utilizaram o nome e imagem de Chip Foose, famoso preparador e designer automotivo americano. Um vídeo no YouTube no qual aparecem Sanchez e Foose foi filmado durante um evento automotivo no Panamá. A edição não consegue esconder que não há nada de mais no vídeo, nem a assinatura de acordos ou banners sobre o negócio.
SEM LIGAÇÃO O próprio Foose negou oficialmente qualquer associação. “Se você for aos sites deles vai achar fotos minhas e vídeos que foram pobremente editados para enganar as pessoas, levando-as a crer que tenho associação com eles”, afirma Foose em comunicado em que se refere também ao vídeo panamenho gravado em um evento da Basf. Para disfarçar, a quadrilha agora recorre à associação com o programa britânico Top Gear em outro site (www.topgeartvseries.com), mas a equipe de lá não fez comentários sobre o golpe.
Usando pseudônimo, entramos em contato com os golpistas para encomendarmos um Bentley Continental. O negócio foi acertado em poucos instantes. Eles afirmaram que o modelo seria construído com um chassi doador e com mecânica usada, provavelmente sobre um motor V6 – o que já impediria a importação por ser, na prática, um automóvel usado com menos de 30 anos de idade. “Eu acho que eles não têm permissão legal para réplicas de veículos novos. Há uma série de barreiras legais. O carro tem que ter documentação específica e estar dentro da lei”, alerta Marcelo Barbosa, coordenador do Procon da Assembleia de Minas. A melhor medida é duvidar. Mesmo que se trate de uma réplica, pagar R$ 24 mil por um carro que custa mais de R$ 1,5 milhão é algo para deixar o santo desconfiado.