De Le Castellet, França - Ao ser convidado pela Lotus/Renault para pilotar um carro de F-1 no circuito de Paul Ricard, na França, imaginava que nem conseguiria tirá-lo do lugar. É sonho de todo motorista metido a arremedo de piloto. As atividades começam cedo e a primeira coisa a fazer no Autódromo Paul Ricard em Le Castellet, Sul da França, é vestir o macacão, a roupa de piloto.
Depois das instruções do bicampeão de F-1 Emerson Fittipaldi, vieram as sessões de massagem e testes de luzes para a visão periférica. Em seguida, um simulador de cockpit dava a posição do volante e em um cockpit foi mostrado o posicionamento dos pedais, que ficam muito próximos.
A primeira experiência na pista foi com um F-Renault de menos de 500kg de peso e motor 2.0 de cerca de 200cv. A Fórmula Renault é um monoposto menor e mais leve do que o da F-1. A emoção começara aí com o som alto do motor e a troca de marchas por meio de aletas no volante pequeno de base achatada e sem os muitos comandos de um F-1 atual. Depois de algumas voltas no circuito de 3.850 metros, uma saída de curva e uma rodada de 360° provocadas pela ansiedade em acelerar na saída de curvas indicaram cautela. Na F-Renault o motor pode ser religado e retoma-se a trajetória na pista.
FÓRMULA 1 Depois do almoço leve, vieram as atividades com o Fórmula 1. Um Benetton 2001, com bico de 2005, ajustado para rodar em Mônaco e pintado nas cores atuais da Lotus. Novas instruções e finalmente era chegado o momento de assentar no cockpit de um F-1, com motor V10 de 700cv e câmbio automatizado de seis marchas. O espaço no cockpit é limitado e até para atar o cinto de segurança de quatro pontos a equipe Lotus ajuda. Na arrancada, aumenta-se a aceleração até atingir a rotação ideal para o carro sair da inércia. A embreagem pesada é solta lentamente. A tração é tamanha que a arrancada foi em segunda marcha para incautos daquele dia. Era apenas um carro na pista por vez e antes da primeira curva lembrei-me dos conselhos do bicampeão Fittipaldi: “Automobilismo é um esporte muito perigoso. Peguem leve e aproveitem a oportunidade”.
Na primeira curva percebi a diferença entre os dois monopostos. O F-1 é brutal, violento. O freio é pesadíssimo e o volante extremamente sensível. As rodas enormes tornam a direção pesada. As trocas de marchas são feitas por meio de aletas. Quando cai a rotação, a redução de marchas é automática. E o som do motor é ensurdecedor. Fiz a maioria das curvas de baixa em segunda ou terceira marcha e no fim da famosa reta mistral – alusiva ao vento que sopra forte no Sul da França – comecei a sentir os efeitos da alta velocidade. É muito diferente dos esportivos com para-brisa. Mais curvas até entrar na reta dos boxes e receber a bandeira quadriculada de início da única volta completa.
Completei o traçado, perdendo um pouco a concentração e curtindo o enorme conjunto roda/pneu passando sobre a zebra, o carro grudado no chão e duvidando se aquilo era real. Vieram outras curvas, aceleração na reta mistral e mais duas curvas antes da bandeira vermelha de fim de volta e entrada nos boxes.
Saí feliz com a experiência, sorriso incontido por ter pelo menos completado a volta sem rodar, pois, se o motor apagar na F-1, volta-se rebocado para o box. Não há outra chance. Depois de menos de duas voltas, compreendi o que é a Fórmula 1. Pilotar exige perícia, determinação e muito, muito preparo físico. Os pilotos perdem até quatro quilos por corrida. Senti tudo na pele e a competição será sempre vista de outra maneira depois dessa experiência, como bem disse Emerson Fittipaldi.