Hoje esses dados podem não ser muito brilhantes, mas nos idos de 1959... o que pensar de um carro que ostentava uma belíssima traseira rabo de peixe, equipado com motor V8, 2.351cm³ de cilindrada e com carburador de corpo duplo? Muita potência, não é? Mas que nada! Estamos falando do francesinho Simca Chambord, que ostentava parcos 84cv de potência para arrastar por aí seus 1.215 quilos.
BELO ANTÔNIO
Mas o humor do brasileiro é implacável. Em 1960, estreia o filme Il Bell’ Antonio, uma produção ítalo-francesa. O protagonista era o “pintoso” Marcello Mastroianni, que dava vida ao personagem Antonio Magnano, um belo homem desejado por todas as mulheres.
Quem acaba se casando com ele é Barbara Puglisi, vivida pela gatíssima Claudia Cardinale, que então descobre que seu belo Antônio não dava conta do recado, padecendo de uma agonizante disfunção erétil. Voltando ao universo dos carros, o Chambord acabou ganhando o vexatório apelido de Belo Antônio.
VIGILANTE
Mas a prova de que o filme não prejudicou a imagem do Simca Chambord é que o modelo foi escolhido como a viatura do seriado Vigilante Rodoviário, transmitido pela TV Tupi no início da década de 1960.
Imagine o estrago que uma pilhéria como essa pode causar a um modelo num país onde o Fusca com teto solar foi apelidado de “Cornowagen”. Acaba que o opcional foi oferecido apenas em 1965, tornando o modelo raro e relativamente valioso atualmente, e ainda teve gente que não aguentou a gozação e mandou fechar o teto solar.
VELOSTER
O maior Belo Antônio da história atual é o Hyundai Veloster. O carrinho tem a maior pinta de esportivo, com capô longo, para-brisa inclinado, teto descendente, linha de cintura alta e janelas estreitas, mas o desempenho não reflete a força que as linhas sugerem. Pior que várias pessoas compraram o carro antes mesmo de fazer test-drive para comprovar ou não o seu fôlego. Compraram só pela “casquinha” de esportivo, pode? A marca coreana anunciava a potência de 140cv do motor 1.6 16V com injeção direta de gasolina vendido lá fora, enquanto trouxe para o Brasil o modelo com motor 1.6 (com injeção multiponto convencional) de 130cv. A esperança para o Veloster mora na versão turbinada, apresentada no início do ano em Detroit e que dificilmente chegará ao nosso mercado.
DIREITO A BOLHAS
Outro cujo desempenho não faz jus às linhas é o Peugeot RCZ. Não é que, nesse caso, a performance chegue a decepcionar. O modelo parrudo, com teto em arco (com direito a bolhas sob a cabeça dos dois ocupantes) e traseira provocante, tem motor 1.6 turbo, que rende 165cv de potência e velocidade máxima de 213km/h. Mas a pinta de cupê pede mesmo é o motor 1.6 de 200cv, ainda indisponível para o Brasil.
MIADO DE GATO
Enquanto nossa avaliação do RCZ levou o titulo de “É leão ou é gato?”, outro Belo Antônio que veio à cabeça foi intitulado “Tigre com miado de gato” (ou coisa que o valha!). Deu para adivinhar qual é? Não? É o Chevrolet Tigra. Seu design esportivo é bem anos 1990. Mas onde já se viu um cupê com um motorzinho 1.6 de 106cv de potência? Então definitivamente trata-se de um gato e, como diz o ditado, “não leve gato por lebre”.
ESTILO FASTBACK
Indo um pouco mais longe, o Karmann-Ghia TC (Touring Coupe) foi lançado em 1970. Sua carroceria inspirada no Porsche 911, ao melhor estilo fastback, era digna de receber um motor mais forte do que o 1.6 litro refrigerado a ar de 50cv. Em relação ao modelo cupê, o TC também ganhou muito peso, cerca de 100 quilos. E por que não citamos a carroceria clássica como uma fracota? Simples, ele é muito bonito. Principalmente se for conversível! Mas também não vamos sacrificar o TC. De forma geral, quase todos os esportivos nacionais eram Belo Antônio. Isso faz lembrar um trecho da letra de Eclipse oculto, quando Caetano Veloso canta “não sou proveito, sou pura fama”.