Se Salão do Automóvel é uma canseira para ser visitado. O Salão de Munique, na Alemanha, deste ano, extrapolou e decepcionou. O chamado IAA (iniciais de exposição internacional do automóvel em alemão) deixou Frankfurt e se mudou de mala e cuia para Munique em 2021. Esta segunda edição, que terminou no último domingo (10), ratificou a decadência destes eventos no mundo.
Os três mais importantes internacionais eram o de Frankfurt (anos ímpares), Genebra (anual) e Paris (anos pares). Genebra foi cancelado. Fui ver o de Paris em 2022, mas não havia o que ver: a rigor, era uma exposição da Renault acompanhada de algumas chinesas, Jeep e Peugeot. Um fracasso. O de São Paulo, um dos maiores do mundo, está de portas fechadas desde 2018.
Mudança conceitual
A ideia de levar o IAA Mobilidade de Frankfurt para Munique foi acompanhada de uma mudança conceitual ao dividir a mostra em dois locais: estandes espalhados pelas praças principais da cidade, mas mantendo também um pavilhão principal longe do centro. Neste, com entrada paga, uma concentração de dezenas de fornecedores de tecnologia, startups, acessórios e equipamentos. E também algumas montadoras, com destaque para o grupo VW, para a Renault e várias chinesas capitaneadas pela BYD, que duplicaram sua presença: no pavilhão e no centro da cidade.
Não há dúvida de que o Salão de Munique foi um evento mais “democrático”, pois os estandes erguidos no centro da cidade ofereciam acesso gratuito. Por outro lado, visitar todos eles exigia caminhar quilômetros em ruas e avenidas sob um sol inclemente. Conceito de mobilidade às avessas.
Com entrada grátis, as mostras espalhadas pelas praças garantiram presença maciça de visitantes, os milhares de turistas que sempre lotaram as ruas de Munique nesta época do ano. Já o pavilhão principal estava mais dedicado aos profissionais do setor, fornecedores, técnicos, engenheiros, comerciantes, marqueteiros e executivos.
Foi um fiasco?
A ideia de dividir o Salão de Munique não chegou a ser um fiasco, mas foi quase, pela falta da maioria das marcas mais relevantes do mundo e de seus lançamentos. Entre as que não deram as caras em Munique: GM, Honda, Toyota, Nissan, Mitsubishi, Suzuki, Volvo, Fiat, Jeep, Citroen, Peugeot, KIA, Hyundai, Chrysler, Jaguar/Land Rover, Aston Martin. A rigor, o IAA se caracterizou como uma vitrine da indústria germânica hospedando, ainda que a contragosto, uma avalanche de chinesas.
O que o grupo VW apresentou?
Marcou forte presença no pavilhão e no centro da cidade, e sua grande atração foi o sucessor elétrico do Golf – seu eterno campeão de vendas –, o ID GTI Concept. Que será comercializado no mercado brasileiro quando o conceito virar o modelo de produção.
O novo Passat segue por duas vertentes: o sedan será o elétrico ID-7. A perua segue a combustão, mas híbrida, numa belíssima carroceria. Show mesmo foi da sua até então bem comportada filial espanhola, a Seat. Cupra, que denominava seus modelos esportivos, virou marca e exibiu modelos de estilo do tipo “arrebatador”: o Tavascan e o Urban Rebel.
O CEO do grupo anunciou, aliás, que a marca Cupra será uma substituta da Seat. Na linha Audi, destaque para o conceito Q6 e-tron. E outro na Porsche, o Mission X, inspirado nos antigos modelos da marca vitoriosos nas pistas.
BMW em casa
Marcou presença no Salão de Munique, sua terra natal, com um sedan conceito, o Neue Klasse, e os novos Série 5 e o i5. E, claro, novidades do Mini Cooper e Countryman
Mercedes-Benz com poucos destaques
Num caprichado e concorrido estande, exibiu com muita pompa o conceito do novo CLA. E, mais discretamente, o Vision One-Eleven. Versão moderna do famoso C-111 da década de 1970.
Stellantis marca presença com a Opel
Talvez por ter sido genuinamente alemã desde sua fundação no início do século passado e ter sido propriedade da GM por algumas décadas, a Opel foi a única marca da Stellantis a marcar presença em Munique, com três automóveis: um interessante conceito elétrico chamado “Experimental”, uma perua elétrica, a Astra Sports Tourer, e um urbano, o Opel Corsa Electric.
Renault apresenta Scenic elétrico
Única francesa presente no Salão de Munique, a Renault fez questão de apresentar o Scenic E-Tech com todos os “efes” e “erres”, durante entrevista com a imprensa no pavilhão principal. A rigor, sob a nova carroceria, a mesma mecânica do Mégane elétrico, com 620 quilômetros de autonomia. E também o Rafale, um SUV cupê híbrido de 200cv.
Ataque chinês
Munique sofreu um ataque de marcas chinesas e, delas, a BYD foi a que mais investiu ao montar grandes estandes no pavilhão principal e numa praça central, a Ludwigsplatz. Levou vários modelos elétricos para o mercado europeu, inclusive o Dolphin, o novo Seal U, o Atto3, Hang e Tang. E a Denza, sua marca premium, criada em parceria com a Mercedes, mas atualmente sob o controle único da BYD.
Entre outras chinesas, a MG, a Forthing (uma das cinco maiores do país), a Seres e a Avatr (assim mesmo, sem o terceiro “a”). Esta, resultado de uma parceria entre duas chinesas gigantes: a de tecnologia Huawei e a CATL (maior fornecedora de baterias do mundo).
Joio do trigo?
Presença discreta no Salão de Munique das norte-americanas Rimac, Livian, Ford e Tesla. E outras, como a Hyundai, pegando “carona” no espaço de fornecedores. Os organizadores anunciaram ao final um enorme sucesso do evento, que poderia ter recebido mais de 500 mil visitantes. Mas, como separar o joio do trigo? Como distinguir entre os milhares de turistas que por acaso passeavam pelas ruas de Munique e se depararam com os estandes, e os interessados especificamente no salão?
Não se divulgou também quantos visitantes pagaram ingresso no pavilhão principal da mostra, que poderia ser um bom indicativo do número de interessados no Salão de Munique. Puxaram, é claro, para os pontos positivos, mas se esqueceram de revelar que o balanço entre presenças e ausências de marcas relevantes e novidades apontou para um fracasso do IAA Mobilidade 2023.
Porém, a decadência destes salões não é uma exclusividade de Munique, mas tendência da maioria deles pelo mundo.
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