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Ter um SUV na cidade não é tarefa fácil

SUVs e caminhonetes são complicados para estacionar, são menos seguros, não facilitam o trânsito e mesmo assim fascinam o brasileiro. Para antropólogo, o carro grande ainda é símbolo de status, mas só revela o atraso do povo brasileiro

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Foto:

Após várias tentativas (e minutos perdidos), colocamos o SUV em uma vaga padrão, mas parte dele ficou ocupando a área de circulação da garagem

Temos em Belo Horizonte um caótico trânsito que piora a cada dia. Nos horários de pico, os veículos circulam com uma velocidade média de apenas 6 km/h, o mesmo que uma pessoa caminhando com pressa. A solução para evitar que o problema se torne irreversível estaria na otimização do transporte público e incentivos ao uso de bicicletas para o deslocamento urbano.

 

Porém, alguns veículos, como os SUVs (Utilitários Esportivos) e grandes caminhonetes, só contribuem para deixar os congestionamentos ainda piores. Isso segue o raciocínio da conclusão de um estudo encomendado pela Mercedes-Benz, em 2009. Se metade da frota da cidade de São Paulo, por exemplo, fosse composta de microcarros, como o Smart, não haveria congestionamento na capital paulista. Sonho impossível? Pode ser, mas na cidade onde cada carro roda com média de apenas 1,2 ocupante, ter um SUV ou caminhonete para ir ao trabalho é um tremendo exagero.

 

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É difícil encontrar um benefício em rodar com os grandes carros nos centros urbanos. Em regiões mais movimentadas, é um desafio achar uma vaga para estacionar, seja na rua ou em estacionamentos privados. Embora seja ilegal, não é raro estacionamentos cobrarem até 120% a mais pela hora dos veículos grandes. O Procon diz que a cobrança diferenciada só é lícita se o estabelecimento oferecer vagas realmente maiores para os SUVs e caminhonetes.


O problema se repete nos prédios residenciais. Desde a década de 1980, uma lei municipal garante que as vagas em BH devem ter 2,30m de largura por 4,50m de comprimento. O Vrum usou uma vaga deste padrão para fazer o teste com três carros de dimensões diferentes. Com um Fiat 500 (3,65m X 1,63m), bastou apenas uma manobra para estacionar corretamente o veículo na vaga, gastando pouco mais de um minuto. Com a picape compacta Fiat Strada Adventure cabine estendida (4,46m X 1,74m), que está praticamente no limite do tamanho da vaga estabelecido em lei, foram necessários três minutos e duas manobras completas. O terceiro teste foi feito com o SUV Jeep Grand Cherokee (4,82m X 1,94m), mais comprido do que uma vaga que esteja dentro da lei. Nesse caso, foram gastos longos 15 minutos e várias manobras, nos fazendo perder a conta. A altura do carro (1,78m) também é um fator complicador para manobrar em locais limitados.

 

Assista ao vídeo:

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A situação, que já não é boa para quem possui carros grandes, pode piorar ainda mais com um projeto de lei que será tramitado ainda este mês na Câmara Municipal de Belo Horizonte que pretende alterar o uso e aproveitamento do solo. Na prática, significa que, se aprovado o projeto, cada novo apartamento em Belo Horizonte terá 30 metros quadrados de garagem, incluindo a área de circulação, que deve ser o dobro do espaço para cada carro. “Todos os novos empreendimentos terão de seguir esse padrão, que limitará muito o espaço para guardar o carro nos prédios residenciais em Belo Horizonte e quanto maior for o carro, pior será”, explica Otimar Bicalho, presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI Secovi-MG).


Segurança

A (falsa) sensação de segurança é um dos argumentos usados por proprietários de SUVs. Sim, há uma relativa sensação de que estamos mais seguros a bordo de um carro grande, mas não é bem assim. O engenheiro mecânico e perito judicial Sérgio Melo explica que eles passam essa sensação de segurança por serem mais altos, assim, numa eventual colisão, eles se projetam por cima, mas por muitos deles terem projetos derivados ou similares aos dos veículos de carga, não há um sistema eficaz de absorção de energia para preservar os ocupantes. Outro ponto que torna os SUVs e caminhonetes menos seguros é a pouca estabilidade. “Por serem mais altos, eles nunca terão a mesma estabilidade dos carros baixos, mesmo que tenham sistemas de controle de tração e de estabilidade”, diz o engenheiro. “Por terem pneus mais altos, em um eventual estouro, o desequilíbrio é maior, fazendo com que a carroceria se incline muito, causando um capotamento, enquanto que a mesma situação de emergência em carros menores a chance de o veículo capotar é menor”, completa Sérgio.

Comprimento e altura dificultam curvas em locais fechados

 


Com tantos aspectos negativos, por qual razão as caminhonetes e SUVs fascinam tanto? Para o antropólogo e escritor Roberto Damatta, a resposta está na celebrização que este tipo de veículo trouxe à sociedade brasileira por meio da mídia, que colocou os grandes carros como símbolo de sucesso e glamour. “Com um carro alto, grande, você se mostra para a sociedade, prova que (aparentemente) tem muito dinheiro e está na ponta da pirâmide social”, diz.


Damatta explica que o brasileiro herdou a cultura do exagero americano, mas se esqueceu de que aqui não há a mesma estrutura de transporte que há nos Estados Unidos. Já a diferença com o europeu, que valoriza muito mais os veículos baixos, inclusive para levar toda a família, está na consciência. “Os europeus inventaram os sistemas de transporte, inclusive o automóvel, eles não apenas estão décadas à nossa frente, como são os originários de tudo isso. É uma ingenuidade muito grande definir esse estilo de vida egoísta como progresso”, completou Damatta, referindo-se à pesquisa que aponta que nos grandes centros urbanos um carro leva em média apenas 1,2 ocupante.

Traseira alta prejudica a visibilidade